O sapo-cururu
(Jorge de Lima)
Tudo quieto, o primeiro cururu, surgiu na margem do rio, molhado, reluzente na semi-escuridão.Engoliu um mosquito, baixou a cabeçorra, tragou um cascudinho. Mergulhou de novo, e bum-bum.Soou uma nota noturna, de concerto interrompido.Em poucos instantes o barreiro, ficou sonoro, como num convento de frades. Vozes roucas, foi-não- foi, tãs-tãs, buns-buns, choros, esgoelamentos finos de rãs correspondiam-se com os coachares dos sapos.Os bichos apareciam, mergulhavam, arrastavam, faziam-se círculos na água (....).Dali a pouco dois olhos luminosos apareceram , fosforescentes, como dois vagalumes.Um sapo cururu grelou-os e ficou deslumbrado com os dois olhos esbugalhados, na boniteza luminosa.Os dois olhos fosforescentes se aproximavam mais e mais.O sapo cururu não se mexia, fascinado.Embora pressentisse o perigo, pois emudecera, não conseguia se mexer: os olhos feíissimos pregados naqueles belos olhos luminosos como um pecado.Num bote a cabeça triangular abocanhou a cabeça imunda do batráquio.Ele não podia fugir áquele beijo.A boca fina do réptil arreganhou-se desmesuradamente e engoliu o sapo até os olhos.Ele se baixava dócil, sem resistência, apenas balançava suas pernas.Consentia com aquele sacríficio involuntário.A barriga disforme e negra despareceu na goela dilatada da cobra.E num minuto,as perninhas do cururu, ainda vivas, desapareceram nas entranhas famélicas da cobra.Enquanto isso, o imenso coro de animais que estava próximo continuava , sem saber o que acontecera a um de seus membros.
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