PONTES INTEROCEANICAS
(Nicoletti; J.R.)
Além dos Estados Unidos e União Européia, há um poderoso mercado no Oriente. Japão, Coréia do Sul, Taiwan, Cingapura, e Hong Kong são exemplos de potenciais mercados para produtos brasileiros, sem contar a China. Mas, como driblar as grandes distâncias oceânicas para se chegar ao Pacífico, sem contornar a América do Sul nem transitar pelo Canal do Panamá? A inauguração do primeiro trecho de rodovia com destino ao Peru é mais um passo para concretizar o antigo sonho de desenvolver a rota interoceânica Sul-americana para os portos do Pacífico, rumo ao Oriente.
Empresas brasileiras de transporte rodoviário de cargas participaram da inauguração do 1º trecho da Rodovia Interoceânica, que está sendo construída no Acre, com destino aos portos do Peru para acesso ao Oceano Pacífico. Há cerca de dez anos, realizou-se uma viagem pioneira do “Projeto Pacífico”, que teve o objetivo de viabilizar a ligação rodoviária entre o Brasil e o Oceano Pacífico, por meio de rotas pouco exploradas nas regiões Centro-Oeste e Norte.
As obras da Rodovia Interoceânica tiveram inicio em setembro de 2005. Com 2.600 quilômetros de extensão, dos quais 1.100 em território peruano, a rodovia, quanto completa, ligará o Brasil aos portos peruanos de Ilo, Maratani e San Juan, no Oceano Pacífico.
Recentemente tivemos um encontro, em companhia do Prof. Mario G. Sacchi, com o Prof. Dr.Alberto Ruibal Handabaka (Columbia University), profissional das Nações Unidas radicado na Suíça. Participamos de uma interessante palestra a respeito dos corredores interoceânicos Sul-americanos, onde tivemos contato com seus mais recentes estudos em Logística Comercial Global.
A Logística Comercial Global é a nova tendência da Logística, onde a distância entre dois pontos não se mede em milhas ou em quilômetros, mas se mede em tempo. O fator tempo é crucial para mercadorias de natureza perecível, ou que representem alto custo de capital alocado em estoques em trânsito.
A partir do estudo comparativo entre distâncias percorridas, custos logísticos incorridos e tempos de percurso, surge o conceito de equivalência entre as variáveis presentes nas alternativas logísticas. Essas equivalências são representadas por meio de linhas de isodistâncias, isocustos e isotempos, respectivamente. Por exemplo, cargas marítimas com destino a Buenos Aires e Montevidéu podem levar o mesmo tempo de viagem quando embarcadas via marítima pelo Porto de Santos, ou por via terrestre rodoviária. Neste caso encaramos uma tomada de decisão envolvendo custos e distâncias distintas, embora no mesmo patamar de isotempos.
A velocidade máxima dos navios, nos próximos anos, deverá ser mantida na casa dos 28 nós (perto dos 50 quilômetros por hora). Os tempos perdidos nos portos, congestionamentos, manobras, atracações, esperas para embarques e procedimentos alfandegários contribuem para a morosidade do transporte marítimo.
Diante da falta de perspectiva do aumento da velocidade média dos navios com propulsão à hélice, mesmo para os navios porta-contêineres de última geração, o Prof. Ruilbal considera que existe uma necessidade de maior utilização dos percursos continentais terrestres (pontes interoceânicas Sul-americanas) e de reduzir os percursos marítimos do Atlântico para o Pacífico e vice-versa, lentos e onerosos. Por exemplo, nos trechos continentais, além das distâncias serem menores que nos trechos marítimos, as velocidades médias tanto do transporte rodoviário quanto do transporte ferroviário, podem ultrapassar os 50 km/h, embora em alguns países essa situação nem sempre é possível de ocorrer.
Outros conceitos importantes foram reforçados pelo Dr. Ruibal, relacionados com as seguintes modalidades de transportes terrestres e aquáticas internacionais: transoceânicas, bioceânicas, interoceânicas e transcontinentais. É comum vermos esses termos confundidos na mídia e até mesmo por profissionais de transportes.
O transporte transoceânico ocorre em um único oceano. Por exemplo, da costa Leste brasileira para a costa Oeste da África, temos o transporte transoceânico pelo Atlântico. Da costa Oeste da América do Sul para a costa Leste da Ásia temos o transporte transoceânico pelo Pacífico.
O transporte bioceânico envolve a rota navegável em dois oceanos. Para o transporte bioceânico nas Américas, temos longas distâncias navegáveis em dois percursos naturais e um percurso artificial. Os percursos naturais estão localizados no cone Sul, e são o Estreito de Magalhães (na Terra do Fogo) e a Passagem de Drake (no extremo Sul da América do Sul). A rota artificial bioceânica nas Américas ocorre através do conhecido Canal do Panamá.
O termo transporte interoceânico é o mais indicado para designar a parte terrestre do transporte internacional, ponte de ligação entre oceanos, assim como o transporte transcontinental, que envolve um significativo percurso terrestre dentro do continente, seja ele ferroviário, rodoviário, fluvial ou intermodal. Dentre os principais objetivos do transporte interoceânico terrestre destaca-se a busca pela competitividade e a redução do tempo de transporte, quando comparado ao transporte bioceânico correspondente.
O desenvolvimento dos transportes interoceânicos e transcontinentais, rotas denominadas “pontes interoceânicas” seriam, de acordo com o Prof. Ruibal, a chave para a “maximização dos percursos continentais e minimização dos percursos marítimos” até, pelo menos, o momento em que a velocidade média dos navios aumente (novos métodos de propulsão), e que se diminuam os tempos de espera (operações e burocracia) nos portos!
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