Alimentos ou remédios- o futuro já chegou?
(Pedro Henrique Baptista de Oliveira)
Quando se pensa em astronautas, viagens lunares uma das coisas que se pensa é como eles se alimentam. É verdade que eles precisavam de uma alimentação que ocupasse pouco espaço e fosse nutritiva e segura. Por isso, a partir das primeiras expedições extraterrestres, a indústria de alimentos teve um grande salto tecnológico. Ao mesmo tempo, não é nova a idéia de que uma boa alimentação é uma base para uma vida mais saudável. Destarte, muitos, há muito tempo, como o grande Hipócrates em: “use os alimentos como remédios” já anunciavam a importância dos alimentos e de seus macro e micro elementos como reguladores e um dos maiores responsáveis pela manutenção da saúde, física e mental.
Nesse sentido, desde então, o ser humano tem buscado através da química dos alimentos, desvendar esse mundo maravilhoso que norteia os caminhos da fisiologia alimentar e aplicá-los o melhor possível em nosso proveito. Poderíamos citar alguns exemplos atuais, como a recente aplicação e disseminação da idéia dos flavonóides, biosubstâncias naturais encontradas principalmente nos vegetais, como a uva, beterraba e tomate, que, vem sendo adicionadas direta ou indiretamente em sucos, chás, cafés e outros, com objetivo de reduzir o colesterol ruim. E por que não falar dos ácidos graxos insaturados, (os ômegas 3, 6, 9), presentes em grande quantidade em alguns vegetais, especialmente as leguminosas ou ainda em pescados e que reduzem o mau colesterol e diminuem a incidência de doenças cardiovasculares. Há ainda os “nuts”, grupo das nozes, castanhas, etc, que, junto com o levedo de cerveja, são ricos em vitaminas do complexo B e de micronutrientes, como o selênio, que protegem o sistema imunológico e parecem atuar na prevenção de alguns cânceres. Por outro lado, diversas pesquisas são direcionadas às fontes protéicas, como soro de leite, leite, soja para aumento de massa muscular e rendimento de atletas, em todos os níveis ou mesmo tem sido explorada a atuação de prebióticos e probióticos na regulação do trânsito intestinal.
A verdade é que, não fôra a atuação de órgãos governamentais, como a FDA (Food and Drug Administration – órgão de fiscalização de alimentos e medicamentos dos EUA) e outros, como a nossa Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), teríamos talvez uma bula e não um rótulo junto aos alimentos que comprássemos nos supermercados. Exageros à parte, alguns fatos mais evidentes disso já puderam ser vistos, embora muitas vezes não percebidos pelo consumidor leigo no assunto. Por exemplo, empolgados com a idéia de vender mais e mais óleo de soja e com a má reputação do colesterol (que era e ainda o é erradamente reconhecido pela população em geral como o vilão causador maior das doenças cardiovasculares) empresas produtoras de óleo vegetal – especialmente soja – começaram a estampar em suas embalagens os dizeres: “Não contém colesterol”. Grande vantagem... Por ser vegetal, a soja não pode conter colesterol, molécula só encontrada em animais. Outro exemplo clássico é a presença de alguns certificados de algumas sociedades médicas nacionais ou internacionais, geralmente ligadas às doenças do coração, presentes nos rótulos dos produtos como sucos, chás, pescados, etc.
Por outro lado seria importante lançar uma provocação: realmente e considerando que muitas das doenças são causadas por má alimentação (ou falta desta) e problemas na água seria exagero supor que os técnicos de alimentos (nutricionistas, químicos, engenheiros de alimentos, bioquímicos e outros) teriam maior ou igual importância aos farmacêuticos e médicos? Não. Mas no nosso país, onde a solução é conseqüência do problema e não se buscam as causas e a prevenção, não é difícil entender essa situação. Lotados num país com altos índices de morte por doenças cardiovasculares, assistimos paradoxalmente índices alarmantes de obesidade e bulimia, desnutrição e anemias. Alicerçados por uma indústria farmacêutica forte, competente e muitas vezes voraz, literalmente “engolimos” atônitos as propostas para aliviar a dor, exterminar os males e não buscar, em profundidade, as razões deles.
Portanto, ao mesmo tempo em que se fortalece a indústria de medicamentos, esta vê com certo cuidado (ressalva, olhar matreiro) que, na verdade, a maioria das doenças pode e deve ser evitada pelo uso de uma alimentação saudável e balanceada. Nesse sentido, não estamos falando para apelar para o uso de suplementos protéicos, vitamínicos, sucos “sobrenaturais” que parecem que só faltam declarar que curam doenças terminais. De maneira alguma. O homem está redescobrindo o natural, o orgânico, que em suma é o que sempre se alimentou, antes da disseminação global das técnicas de produção e conservação dos alimentos. Assim, não é à toa que nossos avós e avôs não tinham doenças do coração em grande quantidade já que, aliada à uma vida com mais atividade física, muitos consumiam mais vegetais, leite, soja, entre outros.
Agora essa nova caminhada é inevitável, sem volta. O futuro já começou e há uma enorme tendência de que gradualmente venhamos a substituir os fármacos por alimentos, sejam transgênicos ou não (sem maiores polêmicas, por favor).
Por isso, resta à sociedade uma maior pressão junto às universidades, órgãos de pesquisa, órgãos reguladores, entre outros, para controlar a produção, marketing (propaganda) dessas novas descobertas, evitando caminhos inescrupulosos e que possam atender, enfim, ao tripé ciência, saúde e boa alimentação.
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