Mel - o néctar dos deuses
(Pedro Henrique Baptista de Oliveira)
No decorrer dos séculos, a humanidade sempre procurou alimentos que fornecessem energia, saúde e longevidade; como já sonhava Hipócrates (filósofo grego há 2500 anos) um alimento de alto valor medicinal.
Entre tantos alimentos naturais ou processados, o mel merece destaque. Por não depender tanto do clima, solo, condições sociais, políticas e/ou econômicas, está espalhado pelos quatro cantos do planeta, com características únicas de sabor adocicado e coloração dourada única e foi considerado pelos antigos egípcios, fenícios, africanos e asiáticos como “ouro líquido” em épocas remotas.
Enquanto na Índia não se consome carne de vaca, entre os judeus carne de suínos, há índios ainda antropófagos; enfim, cada país com diferentes costumes e alimentos, há apenas duas coisas amplamente consumidas em quase todo o mundo, das mais primitivas às mais evoluídas, das mais ricas às mais pobres, dos cultos aos incultos: água e mel.
Segundo estimativas, o mel é produzido há cerca de vinte milhões de anos pelas abelhas e consumido desde antes dos humanos por outros animais, principalmente os mamíferos.
As abelhas, aliás, têm representado para os seres humanos, exemplos naturais de vida em sociedade organizada. Algumas saem da colméia em busca do néctar das flores, onde tudo começa. Chegam então a visitarem e coletarem a partir de cinqüenta a mil flores setenta miligramas (70 mg) de néctar. Na colméia, seguram esse néctar em uma vesícula (entre o estômago e o esôfago) até passar para outra abelha que manipula durante vinte minutos na boca esse néctar, diminuindo a quantidade de água dele e depositando sobre uma célula (favo). Uma vez enchido um favo, esse é fechado com cera e após dois dias esse produto já se transforma em mel, podendo servir como suplemento alimentar da colméia por mais de um ano.
A partir dessa etapa o homem entra em ação. Num local limpo e arrumado para esses fins (apiário) e aplicando-se fumaça fria para afugentar o excesso de abelhas, retiram-se os favos, centrifuga-se o mel e filtra-se o mesmo, decantando por mais cinco dias a 35 ºC. Após essas etapas, o mel está pronto para ser envasado em embalagens de vidro ou plástico e acondicionado por até três anos.
À primeira vista, o mel pode parecer uma mistura monótona de açúcares, um melado. Porém, deve ser considerado um alimento rico por possuir muitas vitaminas (como as do complexo B), sais minerais (cálcio, fósforo, sódio) e ácidos orgânicos (fólico, pantotênico) benéficos à saúde humana.
Como preventivo, poderíamos assinalar uma série de benefícios: é absorvido rapidamente pelo organismo, sendo o açúcar ideal para maratonistas, protege o sistema imunológico, previne cálculos biliares e arteriosclerose, não provoca cáries, combate a anemia, melhora a memória, combate infecções no sistema gastro-intestinal, aumenta a longevidade, entre outros.
Mas, nos surge a pergunta: por que, com tantos benefícios o mel ainda é um produto tão pouco difundido e consumido, especialmente no Brasil? Até o século XIX, sem a expansão do açúcar branco era ele consumido como fonte de sabor doce em receitas mais diversas. No entanto, com a monocultura em massa do açúcar branco e baixo preço do mesmo, houve forte lobby e pressão de empresas alimentícias do mundo todo no uso dessa "comoditie", generalizando seu consumo.
Como herança de um colonialismo selvagem, países como o Brasil adotaram a agricultura moderna e latifundiária, estabelecendo um domínio do açúcar frente a outros produtos que pudessem oferecer alternativas à população. Em face disso, a produção do mel pouco evolui tecnicamente e não recebe (recebeu) incentivos políticos para disseminação e maior qualidade do produto, limitando-se seu consumo (pela menor produção e maior preço) às classes mais abastadas e como idéia de sobremesa, e não como alimento, nutritivo e de alto valor biológico.
Por isso, países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, como o Brasil vêem-se frente a frente com um paradoxo: de um lado combater a anemia e a desnutrição, causada pela falta de alimentos à uma parte sensível da população mal e pouco alimentada e do outro lado combater a obesidade, causada em grande parte pelo consumo exagerado de um povo que no último século foi “ensinado” a consumir produtos cheios de açúcar.
Outrossim, o mel não possui uma regulamentação, padronização e fiscalização sérias, levando muitos produtores a adicionarem outros produtos no mesmo, falsificando-o e desacreditando o produto junto aos potenciais compradores.
Respondida a primeira pergunta a você, leitor, outras certamente surgem e vão esclarecendo-lhe: será o mel um produto ruim ou pouco utilizado; será que há interesse das multinacionais alimentícias na pesquisa e melhor/maior uso tecnológico do mesmo; por que o açúcar é produto de cesta básica brasileira e o mel não o é (pressão de multinacionais e grandes produtores de açúcares,talvez), entre tantas outras.
Atualmente e cada vez mais, nós, os consumidores conscientes da nova era, queremos nos alimentar e não só comer, ingerindo substâncias que nos forneçam energia e principalmente representem um meio de prevenção à diversas doenças.
Por fim, lembremos que o mel, esse produto que se fez presente em todos os períodos da história humana é o que a Mãe Natureza nos oferta de mais simples e que, como muitas vezes em outros momentos da vida, substituímos e, não raras vezes, muito mal.
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