Futuro de Classe e Causalidade do Provável (1)
(Pierre Bourdieu)
Este é um texto no qual Pierre Bourdieu procura, no âmbito do estudo das práticas sociais, escapar às alternativas de análise do mecanicismo e do finalismo, ambas insuficientes para explicar as "razões práticas" dos agentes, observadas de modo isolado numa perspectiva “não-dialogal”.
No que tange especificamente ao resumo apresentado, cabe mencionar que optei por destacar, sob a forma de tópicos, ilustrados por suas respectivas palavras-chave, as idéias principais desse texto. Seguem abaixo, na ordem em que surgem no texto, os referidos tópicos.
· Sobre a teoria das práticas: “ oscila entre o mecanicismo e o finalismo (p. 83)”.
· Conceito de habitus: “Princípio gerador de estratégias objetivas, como seqüência de práticas estabelecidas que são orientadas por referência a funções objetivas (p. 85)”.
· Habitus e condicionamento social dos comportamentos: “A remanência sob a forma de habitus, do efeito dos condicionamentos primários, implica que a correspondência imediata entre as estruturas e os habitus (…) não é senão um caso particular do sistema dos casos possíveis e relações entre as estruturas objetivas e as disposições (p. 85)”.
· Dualismo inerente à lógica da classe dominante: “O burguês que é naturalmente espiritualista para si mesmo e materialista para os outros, liberal para si mesmo e rigorista para os outros, segue a mesma lógica ao ser intelectualista para si e mecanicista para os outros (p. 88)”.
· O habitus como limite da possibilidade de realização de escolhas objetivas: “A competência exigida pela “ escolha” das melhores estratégias objetivos (por exemplo: a escolha de uma aplicação financeira, de um estabelecimento escolar, de uma carreira profissional) é repartida de modo muito desigual, uma vez que varia quase exatamente como o poder do qual depende o êxito dessas estratégias (p. 88)”.
· As condições de constituição do habitus vinculado à antecipação do futuro e seus efeitos sobre o “ futuro de classe”: “Aquém de um certo patamar não é possível constituir a própria disposição estratégica que implica a referência prática a um futuro, por vezes muito distante como se a ambição efetiva de dominar o futuro fosse inconscientemente proporcional ao poder efetivo para dominá-lo (p. 89)”.
· O habitus sob a forma de vocação: “(…)a vocação efetiva inclui, enquanto disposição adquirida dentro de certas condições sociais, a referência às suas condições (sociais) de realização de modo que tende a ajustar-se às potencialidades objetivas (p. 89)”.
· O habitus, a trajetória e o futuro de classe: “(…) a concordância das expectativas com as possibilidades das antecipações com as realizações, está no princípio desta espécie de “ realismo”, enquanto sentido da realidade e senso das realidades que faz com que, para além dos sonhos e das revoltas, cada um tenda a viver “ de acordo com sua condição” , segundo a máxima tomista, e tornar-se inconscientemente cúmplice dos processos que tendem a realizar o provável (p. 91)” .
· As formas de aquisição do habitus relativo à antecipação do futuro: “A competência econômica não é, portanto, uma aptidão universal e uniformemente distribuída: a arte de avaliar e perceber as chances, ver na configuração presente da situação o futuro(…) a aptidão para antecipar o futuro por uma espécie de indução prática ou até lançar o possível contra o provável por um risco calculado, são outras tantas disposições que não podem ser adquiridas senão sob certas condições (p. 91)”.
· Conceito de capital (econômico, cultural e simbólico): “Poder sobre os instrumentos de produção e reprodução (p. 93)”.
· As classes dominadas e suas estratégias de investimentos escolares: “Como não conhecem bem o “ mercado escolar” as famílias populares e médias tendem a fazer maus investimentos em termos escolares (p. 94)”.
· O valor intrínseco à trajetória: “Cada trajetória particular recebe o seu valor vivido de sua posição no sistema hierarquizado das trajetórias alternativas que foram rejeitadas ou abandonadas (p. 95)”.
· O limite das possibilidades do mundo social: “O mundo econômico e social jamais reveste, a não ser na experiência imaginária (…) a forma de um universo de possíveis para todo objeto (p. 96)”.
· A herança do habitus: “A herança não é só econômica, é um conjunto de direitos de preempção[1] sobre o futuro, sobre as posições possíveis de serrem ocupadas (p. 96)”.
· Correlação entre habitus, hierarquia social e hierarquia escolar: “É assim [pela via das trajetórias efetuadas pelas classes de agentes] que deve ser lida a distribuição entre as classes, das chances de acesso às diferentes ordens do sistema de ensino (p. 96)”.
· O poder como controle do futuro: “O poder, como apropriação antecipada, como futuro apropriado é o que mantém as relações entre agentes para além da contínua criação de interações ocasionais (p. 97)”.
· Sobre o “ethos de classe”: “Enquanto necessidade feita virtude. O ethos de classe é a propensão ao provável pela qual se realiza a causalidade do futuro (p. 98)”.
[1] A palavra “ preempção” corresponde a uma espécie de percepção antecipada das propriedades relacionadas a bens que se deseja adquirir. Ao que parece, Bourdieu teria transposto da economia o significado desse termo, aplicando-o num sentido mais amplo, de modo a ilustrar os investimentos econômicos, mas também simbólicos (culturais e sociais) realizados pelos agentes em suas estratégias.
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