Negrinha
(José Bento Monteiro Lobato)
Dona Inácia era uma mulher corpulenta, devota, contribuinte da igreja.
Fora dona de escravos. Judiava deles. Gostava de vê-los apanhar. Achava que brancos e pretos não deviam se igualar, nunca!
Porém, o 13 de Maio a deixou arrasada. Como pode ter acontecido uma coisa dessas?! Negro livre da escravidão?
Mas não ficou órfã da prática da maldade. Pois em sua casa havia Negrinha. Uma menina de sete anos, filha de Cesária, sua empregada. Negrinha nascera ali. Mirrada. Atrofiada. Com os olhos eternamente assustados. Órfã de pai aos quatro anos, por ali ficou feito gato sem dono, levada a pontapés.
Jamais entenderia por que era tratada assim. Os grandes eram esquisitos. Batiam por ação e por omissão.
Um dia zangou-se com uma negra da casa, porque tirou do prato dela um pedaço de carne, e xingou-a de “Negrinha”, nome que ouvia todos os dias.
Dona Inácia preparou-se para a correção. Pediu que cozinhassem um ovo. Quando a água borbulhava, chamou a menina:
- Vem cá, peste!
Receando que algo aconteceria, Negrinha se aproximou, cabisbaixa como sempre.
- Abre a boca!
Negrinha abriu a boca e fechou os olhos. Que castigo receberia agora?
Com uma colher, Dona Inácia pegou o ovo quente e pô-lo na boca de Negrinha. Depois fechou-lhe com as mãos a mandíbula até que o ovo esfriasse.
- Isso é pra aprender a não dizer nome feio, sua peste, imunda!
Em seguida foi à sala receber o vigário.
- A filha da Cesária me dá um trabalho, Padre...
- A senhora é abençoada por Deus, Dona Inácia, por ajudar os pobres. Quem ajuda os pobres empresta a Deus...
- Ah, Padre. Mas dá tanto trabalho...
Mas um dia Negrinha morreu. Seus trinta quilos couberam fácil, fácil no pedaço de terra em que enterraram seu corpo.
De lembrança dela só ficou a tristeza de Dona Inácia: - Como era boa para um cascudo!Obs.: Leia o conto na íntegra no link abaixo:
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