QUASE FAMOSOS
(MARCELO COSTA)
Quase
Famosos é um quase filme de rock. Quase Famosos
é quase um filme sobre jornalistas sortudos. Quase
Famosos é, na verdade, um filme de amor e de amizade
e de rock and roll.
Porém,
desde que Almost Famous começou a circular que
ele vem sendo tratado como maravilha por treze entre dez jornalistas
que invejavam/sonhavam estar na pele de William Miller, jornalista
mirim que é convidado a escrever na bíblia rock
and roll Rolling Stone. O grande problema, no entanto,
é que praticamente toda mídia vendeu Almost
Famous como um filme de rock, o que está longe de
ser a verdade absoluta, e isso atrapalhou a divulgação,
fazendo com que o filme não fosse bem nas bilheterias,
ficando relegado ao público apaixonado por cultura pop,
muito pouco para o grande filme que é.
O
diretor Cameron Crowe apropria-se de uma cena roqueira, assim
como havia feito com o grunge em Singles - Vida de Solteiro,
para embalar sua historieta... de amor. O grande diferencial
é que aqui as coisas são reais. Almost Famous
é praticamente um filme autobiográfico.
Estamos
em 1973 e William Miller/Cameron Crowe tem 15 anos. O rock manda
no mundo pop. David Bowie é um mito. Lou Reed largou
o Velvet Underground e começa a se aventurar solo. Neil
Young abandonou o Buffalo Springfield para dedicar-se também
a carreira solo e brincar de superbanda com os amigos David
Crosby (dono do melhor baseado do universo rock da época),
Stephen Stills e Graham Nash. Os Beatles acabaram, mas iniciaram
carreiras solo. Imagine Black Sabbath, The Who, Led Zeppelin,
Pink Floyd no ápice, lançando álbuns clássicos.
Como se dizia, deuses andavam sobre a Terra. O garoto rascunhava
textos sobre música e publicava em um jornalzinho de
San Diego, até conhecer Lester Bangs.
Lester
Bangs é só o cara mais genial que escreveu sobre
música em todos os tempos. Quer saber mais sobre o cara?
Eu não vou contar. Você já deveria ter lido
o texto do Marcelo Orozco publicada aqui no S&Y quatro meses
atrás, mas somos bonzinhos e o texto de Orozco vem como
apêndice a este. Leia. :_)
O
tal Lester Bangs editava a Cream Magazine e aparece como
mentor do garoto. Duas palavras dele já exemplificam
sua personalidade: ao escrever sobre uma banda seja "honesto
e impiedoso". Anotou? Além, os conselhos de praxe:
"as bandas irão te usar, irão te apresentar
garotas, irão te dar drogas, tudo para que você
fale bem delas". Não dava para dizer que o garoto
não sabia em que lugar estava se metendo.
Nesse
meio tempo, nosso herói mirim é surpreendido por
um telefonema. Ben Fong-Torres (o mais famoso editor da mais
famosa revista pop de todos os tempos) quer uma matéria
dele sobre alguma banda nova. A pauta da matéria é
acertada via telefone, o que impossibilita ao editor saber que
está colocando um garoto de 15 anos no mundo de "sexo,
drogas e rock and roll" com uma nova banda, a Stillwater,
para desespero de sua mãe, numa interpretação
sensacional de Frances McDormand.
Stillwater
é uma banda fictícia criada por Crowe, uma banda
que encarna várias outras (o episódio da discussão
no avião é inspirado numa viagem que o jornalista
mirim fez com o The Who. O da viagem de ácido do vocalista
da Stillwater é inspirado em Robert Plant, vocalista
do Led Zeppelin). À partir do momento que William adentra
o backstage de um show junto com a Stillwater sua vida muda.
Ele está adentrando o mundo glamuroso do rock and roll,
baby. O grande problema é, como fica constatado depois,
que William é doce demais para o rock. E se apaixona
logo pela garota mais bonita dos embalos, Penny Lane, groupie
que acompanha bandas, mas que na verdade ama o guitarrista da
Stillwater.
É
aqui que o filme transforma-se. Cameron preencheu todas as lacunas
de seu filme com histórias dos bastidores do rock em
seu apogeu apenas para dizer a sua Penny Lane um "I Love
You" que ele chegou a dizer na realidade, mas que ela não
pôde ouvir (assistindo você irá descobrir
o motivo). À partir desse momento tudo começa
a girar em torno desse romance (alisônico, como diria
um colunista desse zine) e mesmo um rock star aprende que desculpas
são necessárias, sempre.
É
impossível não fechar os olhos e se imaginar na
posição de William Miller, principalmente os tolos
jornalistas que escrevem sobre cultura pop, como eu. É
impossível imaginar-se escrevendo para a Rolling Stone,
mesmo hoje, partindo do ponto que só de escrever aqui
já é maravilhoso, meu deus, como seria ter um
texto na Rolling Stone. É tudo tocante e arrepiante
demais, mas, mais do que qualquer outra coisa, Almost Famous
é uma declaração de amor (tardia) embalada
pelo melhor rock and roll. É isso não é
pouco, caro leitor, é, sim, de lavar a alma (e o cinema).
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