BUDAPESTE
(CHICO BUARQUE)
BUDAPESTE, um romance de Chico Buarque Por Carlos Higgie Parece que o mundo aparente nutre-se, nas suas obscuras profundezas, de escritores fantasmas. Cada presidente, político, poeta famoso, escritor consagrado, palestrante ilustre, tem seu "ghost-writer", só para usar um termo que agrada aos mais moderninhos. Eles, os escritores fantasmas, vão tecendo a história da humanidade, galvanizando, movimentando multidões com seus discursos, encantando leitores de todas as partes com seus versos, provocando intermináveis discussões com seus romances, contos e ensaios. Mas sem aparecer ou, melhor, aparecendo com outro nome e outro rosto. É a vida dos homens e mulheres que escrevem para a glória de outros que aparecem e podem pagar. "Budapeste", romance de Chico Buarque, trata desse assunto. Aparentemente, pois no fundo começa a desvendar a alma humana, os intricados caminhos do "eu criador". A história do brasileiro, José Costa, serve de fio condutor para aprofundar no processo criativo, para tentar desvendar os mistérios da vaidade humana. "No estilo boneca russa, sempre tem outra menor dentro, Chico Buarque narra uma vertigem de acontecimentos espetaculares, que invertem a todo momento e confundem o escritor (o leitor fica indiferente): o autor anônimo", escreveu Juremir Machado da Silva no jornal Zero Hora. Para avançar na história e provocar essa confusão, o autor escolheu o foco narrativo centrado no protagonista do romance, sempre narrando na primeira pessoa. Paulo Potzonoff Jr. escreveu que Chico Buarque nunca esteve na capital húngara. Mesmo assim ambientou seu romance lá e, como se estivesse debochando do mundo das letras e das pesquisas, deu a seus personagens húngaros os nomes que conhecia da famosa seleção de 1954 que, por essas coisas do futebol, não se sagrou campeã. O romance, apesar da confusão mental do narrador e protagonista, é de fácil leitura, de perturbadora ambigüidade, mexendo, constantemente com o leitor, remetendo a um universo de duplicidade, de enganos, de muita aparência, alimentado por um submundo desconhecido. Narra os encontros e desencontros, os amores e desamores de José Costa, o choque cultural e o esforço que ele faz para encontrar-se num ambiente que é francamente adverso, hostil e frio. Vale a pena mergulhar no enredo retorcido de "Budapeste" que ostra um Chico Buarque querendo fugir dele mesmo, tentando achar sua cara de romancista. A capa do livro já é uma brincadeira, ou não? Veja a última capa: a idéia que sugere é estupenda e inquietante!
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