MUDANÇAS ORGANIZACIONAIS NOS PORTOS
(Nicoletti; J.R.)
As organizações estão mudando constantemente com o objetivo de sobreviverem no ambiente econômico, obterem mais lucros ou atingirem suas as metas estratégicas. No caso dos portos, a maior parte das publicações brasileiras aborda as mudanças de regulamentação, novos investimentos e tecnologias. São dois os principais marcos regulamentais do setor. O primeiro, a “Lei de Modernização dos Portos” de 1993, foi o início do processo de privatização do setor portuário. O segundo, as iniciativas do Governo Federal em incentivar as parcerias público-privadas – PPP’s. Porém, além dos aspectos regulamentais, existem outras mudanças que estão ocorrendo no âmbito dos portos, comentadas a seguir.
Os outros tipos de mudança envolvem objetivos e estratégia, pessoas, produtos e serviços, tecnologia, desenvolvimento organizacional, desenho e estrutura, e cultura. Os portos, em maior ou menor grau, sentem os reflexos dessas mudanças:
a) Mudança de Objetivo e de Estratégia: representa um realinhamento do conjunto de produtos e mercados da organização. Esse tipo de mudança é o passo preliminar para o desenvolvimento de mudanças organizacionais subseqüentes. Por exemplo, as mudanças legais e regulamentais determinaram os novos objetivos e estratégias no ambiente portuário. A Companhia Docas deixou de ser a única e exclusiva operadora portuária para tornar-se a “Autoridade Portuária”. Para as organizações comerciais importadores/exportadoras, obter a concessão de uma área no porto, investir, implantar e operar um terminal portuário são mudanças de objetivo e de estratégia. A partir de um determinado momento essas organizações, até então clientes do porto estatal, viram-se elas próprias operadoras de terminais portuários.
b) Pessoas: Vários autores afirmam que a redução de níveis hierárquicos, resultantes de processos de “downsizing”, tem apenas o objetivo de reduzir de imediato o número de pessoas na organização. O corte de cargos ou de salários considerados mais altos, com a dispensa inadvertida de pessoas especializadas e com habilidades-chave, pode custar caro à organização, pela ausência dos “trabalhadores do conhecimento”. Do outro lado, no nível operacional, um tipo de mudança que vem sendo implementada é a substituição de pessoas de pouca qualificação por outras de maior qualificação, ou multifuncionais, resultado das exigências das novas tecnologias, das pressões do mercado e da concorrência;
c) Produtos e Serviços: O desenvolvimento de novos produtos e serviços é uma estratégia de expansão e pode proporcionar a entrada da organização em nichos de mercado menos competitivos, de modo que possa ter sucesso com um menor grau de esforço. Existe uma variedade de possibilidades de ofertar serviços complementares aos tradicionalmente oferecidos pelos terminais portuários, que se limitam, basicamente, a receber o produto, armazená-lo e realizar o embarque no navio (ou o inverso, no caso de importação). Os serviços complementares de valor agregado incluem o processamento de produtos de acordo com as especificações do cliente ou do país de destino, embalagem, beneficiamento, seleção e re-embalagem, etiquetagem, montagem de kits e vários outros serviços;
d) Tecnologia: As mudanças tecnológicas concentram-se predominantemente no uso de computadores e nas comunicações. No ambiente portuário, temos os sistemas auxiliares de navegação por satélite, sistemas gerenciadores de filas, de rastreamento de cargas, de planejamento e acompanhamento das operações, monitoramento e scanning (Raio-X) de containers, guindastes, pórticos e carregadores de navios operados por rádio freqüência (“joystick”), além dos sistemas de planejamento de materiais, movimentação, paletização e manuseio automáticos, entre outros. Novos processos de trabalho, com equipes multifuncionais “cross-functional teams”, em que diversos trabalhadores com diferentes habilidades e conhecimentos, tornam mais flexíveis os arranjos de trabalho, proporcionando uma visão integrada às atividades do terminal portuário.
e) Desenvolvimento Organizacional: é um subgrupo das estratégias de mudança organizacional que utiliza as ciências do comportamento, focadas na melhoria do relacionamento e na interação entre as pessoas, para planejar as mudanças na organização. Por enquanto, este tipo de mudança tem sido pouco explorado nas organizações portuárias;
f) Desenho e Estrutura: o direcionamento adotado na maioria dos livros e dos artigos é o de tornar a organização mais “achatada”, mais descentralizada, e conectada em rede a outras organizações (fornecedores, clientes, e até mesmo a concorrentes). A redução do número de níveis e a descentralização significam que os trabalhadores necessitarão de novas habilidades e de conhecer os novos processos, não somente operacionais, mas que envolvem também a tomada de decisão e o inter-relacionamento entre as organizações. A estrutura informal e a cultura interna são importantes e não devem ser ignoradas, pois podem prejudicar o processo de mudança.
g) Mudança Cultural: qualquer mudança que afete a cultura significa alterar normas, valores, crenças e expectativas da organização. Os modelos de gerenciamento da qualidade, atendimento às normas e padrões internacionais, são exemplos de mudanças culturais, destacando elementos como a busca pela satisfação de clientes, aplicação processos de melhoria contínua, e abertura de canal de comunicação entre os membros dos escalões inferiores e superiores da hierarquia. As mudanças nas organizações portuárias exigem um alto grau de mudança cultural, normalmente não trabalhada adequadamente pelas organizações.
As mudanças estão inter-relacionadas a várias áreas, de modo que a transformação sofrida em uma área, geralmente implica em mudança em outras áreas. A habilidade em detectar esses reflexos é um dos grandes desafios encontrados pelas organizações.
Em um ambiente portuário, a identificação dos pontos críticos que envolvem o inter-relacionamento entre os diversos componentes de sua estrutura de funcionamento (Sindicatos, Operadores Portuários, Autoridade Portuária, Agência Marítima, Alfândega, Inspetoras, Órgão Gestor de Mão de Obra e outros elementos) são considerados pontos-chaves para o sucesso de qualquer processo de mudança.
Resumos Relacionados
- O Processo De MudanÇa Sob A Ótica Da Teoria Das OrganizaÇÕes
- Custos De TransaÇÃo E T.i. No Ambiente PortuÁrio - Parte 2.
- Mudança Organizacional E As Forças Solicitando Mudança
- O Rh Como Agente De MudanÇa
- O Conceito De Ambiente Organizacional
|
|