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Família
(Ana Carmen Castelo Branco)

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Belo Horizonte, 26 de dezembro de 2003.

Ninguém da família ama o outro. Somos hipócritas. Ninguém se importa se um irmão está em dificuldades, está triste, precisa de companhia, de conversar. Ninguém. Ninguém se importa se um irmão vai morrer 1. Todo mundo secou. Só o que fazemos é nos sentarmos e falar mal de quem está ausente. Só o que importa é tentar fazer com que as pessoas sejam diferentes do que elas são, que sejam do jeito que nós queremos que sejam. E, se transformarem do jeito que nós queremos, ainda assim, vamos achar uma coisa que restou para ser criticada. Nunca está bom. Essa é a irritação, a impaciência de todos nós. Foi assim que fomos educados pelos nossos pais: como nossos pais.
É por isso que nossa mãe diz que é horrível ficar à toa, sem fazer nada. Nunca irá parar para contemplar, nunca irá parar de fazer coisas. Essa é a fuga de todos nós. Parar para pensar, contemplar, meditar – ponham o nome que quiserem – nos coloca de frente a um espelho e nos vemos com todos os defeitos que tentamos imputar aos outros. Vemos uma cara muito feia e não adianta limpar o espelho. O problema é conosco.
No entanto, percebo no meu círculo de amizade, que quase todas as famílias são assim. As pessoas são extremamente maledicentes, insatisfeitas com os outros, insatisfeitas consigo mesmas. Por isso se diz que “família só muda de endereço” ou “o bonito da família é o retrato na parede”.
Mas, muitas vezes, ironicamente nossas vidas terminam devagar, em doenças demoradas durante as quais dependemos totalmente dos outros para nos ajudarem nas tarefas mais simples e banais. E é aí que somos obrigados a pensar naquelas coisas das quais fugimos e protelamos por tanto tempo. Quem não fez isso antes, quando lhe restava a saúde física, mental e espiritual, entra em desespero, cai em depressão e não tem mais como fugir, pois está preso sobre uma cama. Temos pessoas assim na família que nos impacientam por nos mostrarem nossa própria impotência, por nos mostrarem algo a que estamos expostos. Reagimos contra a possibilidade da solidão, da morte, de não termos nenhum apoio. É natural sentir medo quando nos aproximamos da verdade.
Esse é o inferno. Mas há como sair dele. Basta aceitar-se e transitar nos nossos defeitos, nos nossos medos. Tarefa difícil, não? Então, façamos enquanto temos melhores condições de parar e pensar.

1 Parece mais uma de minhas premonições. Eu, hein?! Meu irmão morre a 16 de maio de 2005, mesmo dia, mesmo mês, mesma hora que outro irmão, 35 anos depois.



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