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Art Tatum
(John Lester)

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E você pensou que a primeira resenha de novembro sobre a pianista Dorothy Donegan não tinha segundas intenções? Imagine o mais imenso bolo que você puder imaginar. Agora multiplique seu tamanho por 10. Agora tente imaginá-lo feito com 99% de glacê. Agora adicione mais um pouquinho de glacê. Gostou? Não? Agora imagine um tobogã imenso, gigantesco mesmo, eterno em suas infinitas curvas e subidas e saliências e quedas que nunca terminam. Agora coma todo o bolo e desça o tobogã. Enjoou? Não? Bem, assim é a música do genial pianista Art Tatum. Há mesmo quem diga, conforme nos conta Ted Gioia em seu A History Of Jazz – Ed. Oxford, página 104 – que Tatum não sabia improvisar, mas apenas repetir ou mesclar frases extremamente complexas com uma velocidade assustadora em ambas as mãos, velocidade essa jamais superada por qualquer outro pianista de jazz (em algumas gravações parece haver três pianistas tocando juntos!). Seria mesmo apenas isso? Não sendo eu músico, mas apenas um especialista em bolos e tobogãs, prefiro não arriscar aqui e agora uma posição definitiva acerca do maior pianista do jazz. Somente confesso que fico bastante enfastiado depois de 9 minutos ouvindo seus discos solo ou em trio. Sei lá, o estômago embrulha e a orelha esquenta. Mesmo sob as severas críticas de Reinaldo, presidente do famoso Clube das Terças, que sempre salienta a perfeição técnica e a complexidade harmônica do moço, ainda prefiro Bud Powell ou Oscar Peterson quando o assunto é ouvir um pianista genial tocando em trio. Contudo, por uma dessas graças que a arte culinária nos concede de quando em quando, existem algumas excelentes gravações de Tatum em quartetos, quintetos e sextetos, realizadas pelo gran cheff Norman Granz entre 1954 e 1956. Aí a coisa muda da água para o vinho e a redução do glacê é flagrante. Na verdade, considero essas gravações de Tatum extremamente importantes não apenas por sua beleza e perfeição artística, mas também por registrar grandes músicos do swing tocando já sob a influência do bop. Lá estão a melancolia, o romantismo, a ingênua alegria de um lado. Do outro, a velocidade, a rebeldia, a linguagem cifrada pela inteligência incontrolável. A coisa toda foi servida numa caixa abençoada da Pablo – Art Tatum: The Complete Group Masterpieces – muito bem temperada, com livreto interessante e seis maravilhosos cd’s. Apesar das insistentes cascatas de notas – quase uma assinatura fantasmagórica de Tatum – e do excesso de glicose em certas passagens, não há como negar que essas são, sem qualquer dúvida, algumas das melhores gravações de jazz que já ouvi. E não me pergunte que estilo é esse, se pós-swing ou pré-bop, pois não saberia responder. Sei apenas que é jazz, puro jazz. Como diz Noel Balen em seu L’odyssée Du Jazz, Ed. Liana Levi, página 219: La prodigalité mélodique, l’excessive perfection et la verve insatiable d’Art Tatum n’ont pás été surpassées jusqu’à ce jour. Il reste pour tous une référence majeure. Des concertistes classiques aussi prestigieux que Vladimir Horowitz ou Samson François ont unanimement reconnu leur stupéfaction. Cataractes d’arpèges lumineux, gerbes de notes, éblouissements rythmiques, implosions harmoniques, l’Art de Tatum touche au divin. Lê miracle d’um démiurge audacieux, artificier resplendissant, sublime créateur d’astres, sculpteur de cometes scintillantes pour mieux éclairer sa solitude nocturne. Depois disso, só nos resta lamentar, com o crítico André Hodeir, que o repertório de Tatum seja tão limitado, sobretudo quando levamos em conta sua capacidade musical ilimitada. Para os amigos argonautas preparei uma seleção a partir dos seis cd’s da Pablo, colocada à disposição no gramophone abaixo. E mais: no Jazzseen Jam Session – acima, à direita – servimos como sobremesa uma jam de 13 minutos. Essa é nossa singela homenagem ao mago dos sons Art Tatum, que morreu no dia 05 de novembro, há 50 anos atrás. Bom apetite!



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