O ESTUDO NA IDADE MÉDIA
(Dennys Robson Girardi)
A Idade Média se destaca pelo empenho e dedicação que alguns tinham aos estudos. Os estudantes tinham como único caminho para vida o estudo em si. Ou seja, não havia entre eles o intuito da escola moderna, onde o estudante (aluno) se coloca em formação para uma atividade. Toda a atividade do estudo estava centrada nela mesma e a partir dela se desenvolvia uma busca interna, onde a sabedoria irrompia como empenho e dedicação. Assim, o estudo tinha um foco em si mesmo e o medieval simplesmente estudava, sem preocupar-se com frutos externos à arte de estudar. Quando falamos em estudo, principalmente na experiência medieval, nos remetemos ao termo latino "Studium", de onde derivou a palavra estudo. Este termo tem a ver com entrega de vida, com dedicação total e incondicional a algo. "Studium" remete ao devotamento e ao amor. O medieval, que dedicava sua vida ao estudo, o fazia por um amor incondicional. Por isso, vemos muitas pessoas que saiam de vários lugares do mundo para as cidades onde se destacava o ensino das artes. Essa busca pelo estudo estava alicerçada numa disposição pessoal, num chamamento anterior, ou seja, numa predisposição quase religiosa. O medieval tinha em seu ideal o seguimento ao Cristo. Este seguimento remetia dedicação total da uma vida. Daí que muitos assumem o estudo não como preparo para desempenhar uma atividade rentável e lucrativa, mas como dedicação incondicional ao seu objetivo, quase uma vocação. Assim, o estudo se tornava o caminho para o seguimento do Senhor. Para compreender o modelo do estudo medieval podemos fazer uso do provérbio latino, "non multa, sed multum". Ou seja, não são as muitas coisas, a infinidade de saberes, que definiam o estudo, mas a profundidade de cada um. Uma única busca, intensa e profunda, o medieval busca por uma única perfeição. O saber que se remeteria ao poder, ao domínio do mundo, quer "multa". O espírito, no que condiz ao "studium" diz o "multum". Assim, o medieval dedicava sua vida com graça e plenitude àquilo que lhe era próprio, a intensidade das pequenas coisas. Podemos sentir na profundidade dos medievais a força propulsora de bem fazer. Para a compreensão moderna pouco fizeram, pouco construíram, mas num entendimento de "Studium" muito fizeram, pois foram perfeitos e nos mais insignificantes detalhes. Nessa mentalidade, um monge podia entregar sua vida à cópia. E ali, sobre aquele cavalete, passar todo o tempo fazendo pouquíssimas cópias, desenhando inúmeras iluminuras num único texto. O objetivo deste trabalho era a perfeição alcançada. O mesmo se dava com o estudo. O caminho do estudo era a busca pela profundidade, o encontro com o essencial. Ao tomarmos um texto medieval vamos perceber que todo aquele trabalho se direciona ao encontro com o substrato que sustenta o todo. Ou seja, o encontro com a unicidade de todas as coisas. Neste caminho, o estudioso ia se deparando com inúmeras artes e inúmeros modos de compreender o mesmo. Estes modos vão irrompendo como astronomia, matemática, artes, gramática, teologia, etc. Todas estas facetas apontam para uma mesma realidade. Daí que o medieval passava em sua lida acadêmica pelo estudo do "Trivium" e do "Quadrivium". Contudo, estes saberes não estavam dispostos um ao lado do outro, como se apresentam os saberes hoje. Eles constituíam um processo de crescimento, um caminho de encontro consigo mesmo e com uma unidade maior. A relação com o sagrado era essencial para que este movimento pudesse acontecer. Somente com um alicerce bem firmado eles podiam bailar entre as diversas formas do saber. Contudo, somente uma coisa era realmente importante, a isso eles chamavam de seguimento-discipulado.
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