A Doação de Sangue
(Gislaine Maltez Costa)
A Doação de Sangue
O doador de sangue é o elemento vital para o funcionamento do Hemocentro.
A doação de sangue faz um bem danado e alguns aspectos relacionados às terapias que utilizam sangue e seus derivados, há muitos deixaram de ser problema dos médicos ou dos HOSPITAIS. O saudoso sociólogo e portador de hemofilia: Hebert de Souza (Betinho) contava uma estória, que dizia o seguinte: Uma floresta estava pegando fogo, e um beija-flor começou a carregar água no bico para apagá-lo, enquanto que a bicharada toda só corria de um lado para o outro, preocupados porque não iam ter onde morar. O leão, rei da floresta, parou o beija-flor e perguntou: Ô beija-flor, você acha que vai conseguir apagar esse fogo sozinho? O beija-flor prontamente respondeu: Não! Eu sei, mas estou apenas fazendo a minha parte! Se todos fizerem a sua parte e trabalharem em torno do mesmo objetivo será muito maior a chance de conquistá-lo.
Em 1627, Willian Harvey descobriu a dinâmica da circulação sangüínea; após a veiculação deste fato, a atenção de muitos cientistas da época voltou-se para as possibilidades de utilização das transfusões de sangue como mais um elemento de cura na ciência médica. Entretanto, pela precariedade dos conhecimentos, essas experiências não foram bem sucedidas. Com a descoberta dos vários grupos sangüíneos (ABO), realizada por Karl Landesteiner, e quarenta anos depois - a partir da descoberta do fator Rh, ocorreu uma efetiva escalada nas pesquisas. Como resultado prático, cientistas como Loitt e Mollison descobriram os anticoagulantes, substâncias que além de evitar a coagulação ajudam o sangue a manter inalteradas as suas características. A junção desses conhecimentos contribuiu para que a hemoterapia assumisse o seu verdadeiro papel na medicina moderna.
Sabemos porém que países mais evoluídos socialmente, também há muito perceberam que este assunto está relacionado aos aspectos políticos da organização da sociedade, tais como, grau de organização dos cidadãos em entidades civis, através de clubes, de associações, dos conselhos, das igrejas, ou institucionais - corporativas como são as empresas, os sindicatos, as polícias, os exércitos, as universidades e finalmente ao grau de organização do próprio ESTADO através das Políticas Públicas de Saúde Coletiva e da Participação social e consequentemente da forma de organizar a sociedade, que através da apropriação de informações passa a compreender melhor suas obrigações e direitos para finalmente tornar os cidadãos conscientes.A própria Constituição Brasileira trata do assunto, o que demonstra o grau de importância social e econômica que envolvem esta questão. Os conflitos de interesses que perpassam o assunto vão desde aqueles relacionados aos aspectos técnicos da coleta, armazenamento e distribuição do sangue e derivados, passando pelos aspectos econômicos, relacionados ao uso dos equipamentos e instalações, industrialização dos derivados e a cobrança dos serviços de transfusão, já que a cobrança do sangue é ilegal; até os conflitos decorrentes de questões estratégicas como são os estoques do material coletado e também os cadastros de doadores, este interesse estratégico preocupa autoridades civis em tempo de paz e os militares o tempo todo. Uma vez que não é possível ainda substituir o sangue por um derivado sintético, este material biológico tem que ser obtido através da doação feita por um cidadão.Todas as doações são voluntárias, mas só a minoria dos doadores tem informação suficiente para decidir soberanamente sobre o significado do seu ato de doar uma parte de si para outro cidadão. A complexidade do sistema urbano das grandes cidades exige que se explique melhor às pessoas o que significa ser doador voluntário e permanente. “A grande maioria das pessoas só doa sangue quando alguém pede”. Essa afirmação reflete duas irresponsabilidades do sistema de saúde: a primeira está relacionada a inexistência de sangue estocado em condições de uso com segurança, é necessário tecnicamente um intervalo de dias para que o sangue coletado possa ser utilizado e todo cidadão tem direito a isto; a segunda relaciona-se ao tratamento reducionista que as instituições hospitalares dão ao assunto, transformando um problema de ordem coletiva e de interesse de toda a comunidade em uma questão individual ou familiar: a família da vítima ou paciente é transformada em agenciadora de doadores.
A emergência ou doença que provoca a necessidade de transfusão é de fato um problema individual, mas para a comunidade e para o Poder Público não é, pois de antemão todos sabemos que diariamente ocorrerão acidentes de trânsito, de trabalho, crimes, violências e cirurgias. Um outro aspecto da questão sangue e cidadania, está relacionada às cadeias de transmissão de doenças infecciosas, principalmente as que ocorrem pelo contato sexual. Cidadãos que se tornam doadores voluntários e permanentes adquirem informações que provocam o desenvolvimento da consciência da preservação da saúde através da redução dos riscos de exposição. Quando uma comunidade consegue cadastrar uma parcela próxima de 4% de seus cidadãos como doadores voluntários e permanentes estão formados uma cadeia sanitária que naturalmente se contrapõe à cadeia da transmissão, o que contribui para a redução de doenças. Tendo em vista estas considerações o HEMOCENTRO de cada região desenvolve um trabalho que tem por objetivo levar informações e desenvolver a consciência da população e concomitantemente, organizar um sistema que possibilite o cadastramento de 4% como doadores voluntários e permanentes de sangue. A principal característica deste trabalho está em utilizar os equipamentos de saúde e comunicação já existentes, sem necessidade de criar ou gastar com investimentos novos.
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