Os Doutores da Agonia
(Superinteressante)
As torturas praticadas pelo nazismo, eram sádicas mas seus algozes não eram leigos. Os responsáveis pelo extermínio de judeus, ciganos, homossexuais ou qualquer outro inimigo do regime eram cientistas pesquisadores. Repugnante é a palavra. Submetiam os prisioneiros a quase congelamento e quando estavam no limite entre a vida e a morte, eram reanimados e, de novo, submetidos a temperaturas baixas.
Essas práticas infames produziram dados que existem até hoje (hipotermina por exemplo) para estudar seus efeitos no corpo humano e como seria possível contorna-los. Assim, o risco do uso de voluntários é minimizado. Muita controvérsia surgiu quanto à ética do uso desses dados.
E você, o que acha? O que acontece com a ciência sob um regime tão desumano?
Ciência e nazismo
Em 22 de abril de 1915, soldados do Exército francês observam, atônitos, um inimigo desconhecido se aproximar: uma espessa nuvem verde-amarelada, de 1,5 m de altura, que partiu em direção à tropa inimiga, corroendo pulmões e cegando. O saldo de estréia do novo gênero de combate: 10 mil mortos e 5 mil feridos. O líder, Fritz Haber, premio nobel de química.
Veterano da Primeira Guerra, Adolf Hitler conhecia bem o poder dessa ciência militar - ele chegou a ser internado com cegueira temporária após um ataque com gás nos campos de batalha. E sabia que, caso alcançasse o poder, faria da ciência um dos pilares da nova Alemanha. "O povo alemão é um só corpo, mas a sua integridade está ameaçada. Para manter a saúde do povo, é preciso curar o corpo infestado de parasitas". Os parasitas eram os judeus.
Einstein, que era judeu, foi criticado por Laue quando decidiu abandonar a Alemanha rumo aos EUA, em 10 de março de 1933 - um mês antes de uma lei expulsar todos os descendentes de judeus do funcionalismo público, fazendo cerca de 1000 cientistas de elite perderem o emprego. Se Einstein ainda estivesse no país, seria apenas um desempregado observando suas obras sobre a Teoria da Relatividade desaparecerem nas fogueiras do Reich
Quando a lei de esterilização compulsória de doentes físicos e mentais foi lançada, em 1934, mais de 350 mil pessoas foram esterilizadas à força no período de 1934 a 1945. Era a ciência ajudando a concretizar a nova sociedade sonhada por Hitler.
Max Planck não estava na Alemanha quando seu filho Erwin foi executado por envolver-se num plano para matar Hitler. Fritz Haber nunca soube que muitos de seus parentes seriam mortos pelo gás que ajudou a desenvolver.
Laboratórios do inferno
"Escutem, colegas, já que vocês vão matar toda essa gente, pelo menos arranquem os cérebros deles", disse Julius Hallervorden aos encarregados da eutanásia de doentes mentais e formou uma coleção de 697 cérebros. Entre seus favoritos, estava o de uma menina cuja mãe fora envenenada acidentalmente por gás enquanto estava grávida.
August Hirt queria cabeças inteiras. E tinham de ser de judeus. Depois, corpos inteiros. Encomendou 115 prisioneiros a Auschwitz, prontamente executados em junho e 80 cadáveres em agosto.
Sigmund Rascher usava cobaias humanas vivas. Das cerca de 200 cobaias que passaram pelas câmaras de pressão, 80 morreram durante os testes. Algumas tiveram o cérebro dissecado enquanto ainda estavam vivas para que o médico pudesse observar as bolhas de ar que se formavam nos vasos sanguíneos. Impressionado? Joseph Mengele, responsável cujas experiências foram responsáveis pelo extermínio de 400 mil pessoas em Auschwitz, injetou tinta azul em olhos de crianças, uniu as veias de gêmeos, jogou pessoas em caldeirões de água fervente, amputou membros, dissecou anões vivos e coletou milhares de órgãos em seu laboratório.
O MAPA DA INSENSATEZ
Para os cientistas de Hitler, campos de concentração eram fábricas de cobaias humanas.
Auschwitz-Birkenau - 1,1 milhão a 1,5 milhão de mortos
Infecção com bactérias e vírus; eletro choque; esterilização; remoção de partes de órgãos; veneno; operações e amputações desnecessárias.
Buchenwald – 56 mil mortos
Operações e amputações desnecessárias; contaminação com febre amarela, cólera e tuberculose; veneno; queimaduras com bombas incendiárias.
Ravensbrück – mais de 90 mil mortos
Pesquisas fisiológicas, com remoção e transplante de nervos, músculos e ossos; esterilização; fuzilamento com balas envenenadas.
Dachau – mais de 30 mil mortos
Testes de hipotermia; câmeras de baixa pressão; infecção com malária; ingestão de água salgada.
Sachsenhausen – 100 mil mortosAlemanha (julho de 1936 a abril de 1945)
Inalação e ingestão de gás mostarda; infecção hepatite; fuzilamento com munição envenenada.
Natzweiller-Struthof – 25 mil
Utilização de prisioneiros como "viveiros" de bactérias e vírus como os do tifo, varíola, febre amarela, cólera e difteria.
O horror nazista transformava a mente dos médicos. Mas e as vítimas? Na tentativa de entender o trauma causado pelas experiências, a Superinteressante procurou em São Paulo a judia polonesa Bluma Reicher, de 83 anos. Ao ouvir um pedido para descrever as cirurgias a sangue-frio pelas quais passou em Auschwitz há mais de 60 anos, a única resposta que Bluma deu foram lágrimas. A entrevista acabou aí.
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