QUEDA DOS CORPOS ( parte 1)
(ROBERTO RIBEIRO DE CASTRO)
ARISTÓTELES E A QUEDA DOS CORPOS. Um dos aspectos mais significativos das ciências físicas é que, não raro, elas têm verdades contra-intuitivas, ou seja, contrariam aquilo que possa parecer natural e verdadeiro. Na Astronomia, quem na Idade Média ou ainda no início do Renascimento conseguiria convencer mesmo aos letrados, de que a Terra girava em torno do Sol, quando era este que, diariamente, se movia do horizonte leste em direção ao oeste? Isso, de fato, é válido para quem está no “referencial Terra”, mas para quem estivesse no espaço a uma distancia razoável da Terra veria algo bem diferente: não é o Sol que se move de leste para oeste, mas sim a Terra que gira de oeste para leste. E o que justificaria a idéia de ser a Terra era esférica e não um disco, ou mesmo plana pois, se fosse esférica, as pessoas no Pólo Sul ficariam de cabeça para baixo ? E ainda, se o planeta girasse em torno do seu eixo tal movimento provocaria intensos maremotos que invadiriam as regiões costeiras... Quanto à Física muita gente, ainda hoje, é capaz de apostar que, aqui na Terra, um copo cheio de água cai mais rápido do que se estivesse vazio. É reconhecido que a filosofia natural de Aristóteles considera uma ampla série de movimentos envolvendo mudanças de forma: acréscimo, diminuição, nascimento e morte. Porém, no que concerne aos movimentos espaciais dos corpos eles são dois: o natural e o violento ou forçado e, destes, iremos enfocar o primeiro. O movimento natural era a expressão da tendência dos elementos a atingir seu lugar natural. A queda dos corpos pesados, chamados “graves” (donde deriva o termo gravidade) está intimamente ligada ao lugar geocêntrico, não no sentido cosmológico ocupado pela Terra, mas no sentido de que o centro da Terra é o local natural que orienta a queda dos “graves”. Na filosofia natural de Aristóteles o mundo sublunar - o nosso planeta - era formado por quatro elementos primários: terra, água, ar e fogo. No tocante à queda, quanto mais pesado um corpo, ou seja, quanto mais “terra” possuísse mais rápida chegaria ao chão. Porém, os outros três elementos também possuíam seus lugares naturais: a água sobre a terra; o ar a “capa” em torno da Terra, assim como o fogo ficaria em uma esfera acima de nossas cabeças – daí suas chamas direcionarem-se para cima. Para os antigos gregos, tanto pela observação visual, e também pelo senso comum, era mais fácil ver que uma pedra cai mais rápido que uma pena ou uma folha, então seria óbvio de que o peso do objeto seria um fator determinante para a velocidade final. Segundo Aristóteles havia também uma proporcionalidade entre a velocidade da queda com a massa do corpo em estado de repouso: uma pedra de 2 quilos cairia duas vezes mais depressa que uma pedra de um quilo. Tudo era muito lógico na física aristotélica, tão lógico que, não somente foi chamada como a “física do bom senso”, como predominou por muitos séculos na cultura ocidental. Aristóteles, pela extensão de sua obra, sua importância e influencia cultural, pode ser considerado como uma das principais figuras do Ocidente. Fundamentou a Lógica com a criação da teoria do silogismo. Uma das regras básicas do silogismo válido pode ser assim descrita: não é possível que as premissas sejam verdadeiras e a conclusão seja falsa. Então usando a Física e a Lógica de Aristóteles podemos estabelecer: 1ª premissa: “A velocidade da queda de um corpo está na razão direta do seu peso”; 2ª premissa: “Os corpos “A” e “B” têm o mesmo peso; Conclusão: Logo, “A” e “B” caem (sempre) com a mesma velocidade. Estranho como a lógica pode atrapalhar o bom senso, pois mesmo na época em que não existia papel, alguém poderia questionar que um corpo com a mesma massa também pode cair com velocidades muito diferentes. Se Aristóteles deixasse cair (de uma altura razoável) uma folha de pergaminho e de alguma forma medisse o tempo ou usasse simplesmente a observação visual iria perceber que ela atingiria o solo num tempo bem maior do que uma “bola” feita do mesmo pergaminho, como hoje fazemos com o papel. Então, a pergunta é: “por que, nas circunstâncias dadas, corpos de mesma massa caem com velocidades muito diferentes?”. Esta é uma pergunta singela, simplória, para os dias de hoje, quando sabemos, em detalhes minuciosos, que além da gravidade existe uma segunda força que influencia a queda dos corpos: a resistência do ar que atua no sentido contrário ao do deslocamento de um corpo. Ao ser arremessado para cima, uma pedra sofre a ação de uma força de resistência orientada para baixo. Já com um corpo em queda a resistência se manifesta para cima. Esse ultimo caso fica bem visível no pára-quedismo. Após certo tempo de queda livre, o praticante abre o seu pára-quedas e, quando isso acontece, percebe-se claramente uma desaceleração na queda devido a grande área que o pára-quedas oferece à resistência do ar. No entanto, seria por demais radical afirmar que por tantos séculos a física aristotélica não tenha sido questionada no que se refere aos movimentos, ainda que fosse ao intuito de melhor compreendê-la. Sendo assim, tais iniciativas não chegaram a abalar o quadro teórico-qualitativo que caracterizava a física de Aristóteles. Os primeiros registros contestando a física qualitativa de Aristóteles só surgiram no século XVI. (Veja "Galileu e a queda dos corpos")
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