Acid Jazz - Parte 2
(John Lester)
3) overdubbing, que é a velha prática – muito combatida pelos puristas do jazz – de um músico tocar consigo mesmo, seja através do acompanhamento de trechos já gravados anteriormente, quer através da prolongação forçada de um som ou de um trecho musical (como uma espécie de eco artificial) com o respectivo acompanhamento. Embora não seja nenhuma novidade, o overdubbing recebe novo status no acid jazz, uma vez que praticamente ocupa parte da idéia de “composição” nesse estilo; 4) turntablists, que são aqueles malabaristas de toca-discos, muitos deles capazes de manipular dois aparelhos de uma única vez (dois toca-discos ou um toca-disco e uma mesa de mixagem), misturando músicas, alterando a métrica, o tempo e a afinação de composições pré-existentes. Apesar de serem também denominados de DJ’s, não se limitam ao sampling e ao looping. Os toca-discos funcionam como verdadeiros instrumentos musicais, sendo muitas vezes adicionados aos demais instrumentos de uma banda, como é o caso das experiências feitas por Herbie Hancock e DJ Logic. Os turntablists tanto podem fornecer apenas o ritmo (background) quanto atuar melodicamente (foreground). A coisa se tornou tão popular que em algumas escolas de música você pode escolher entre ter aulas de bateria, flauta, piano ou turntable. Hoje, na verdade, há bandas de jazz em que o turntablist é muito mais conhecido do que os instrumentistas tradicionais e, em casos mais extremos, há bandas sem nenhum músico tradicional, apenas turntablists. Bem, creio que seriam essas as principais características do acid jazz. Você pode entendê-lo como um tipo de caldo preparado por disc jockeys que dão um pigmento jazzístico às suas músicas de dança, como a techno, o rap, o drum ‘n’ bass, o hip hop, a trance ou o trip hop, baseados, sobretudo, nas antigas gravações de hard bop dos anos 1960, carregados de blues, gospel, soul (funky) numa sonoridade groove que remonta aos chorosos campos de algodão ou às alucinantes igrejas negras. Como o capitalista nunca dorme, várias gravadoras aproveitaram essa oportunidade para relançarem algumas dessas antigas gravações em cd, aplicando-lhes o rótulo de acid jazz. Outras, menos oportunistas, utilizaram o apelido mias adequado de roots of acid jazz, que vem contar bem o que são essas gravações. De qualquer forma, a meu ver, o termo acid jazz tem muito mais a ver com uma boa terminologia de marketing do que com um estilo de jazz propriamente dito. O que de fato existe – em se tratando de jazz – é o relançamento de uma série de gravações antigas, a maioria delas realizadas entre 1955 e 1965, baseadas numa seção rítmica sensual, envolvente, recheada de órgãos e guitarras (ver Jimmy Smith e Wes Montgomery), capazes de produzir aquele sentimento groove. Muita dessa música era despretensiosa, dançante, quase sem mudança de acordes e com harmonia e melodia, quando havia, muito simples. O que importava era o ritmo e a sonoridade, o sentimento antes do raciocínio. Nisso o acid jazz que nos interessa – e que será nosso tema de dezembro - está muito mais próximo da África do que da Europa, tendo em vista sua dedicação quase que exclusiva à pulsação e à sonoridade. É por isso que sempre sorrio quando algum amigo procura as elucubrações discursivas complexas de um Charlie Parker no sopro de um Stanley Turrentine ou de um Houston Person. Não vai encontrar. De resto, apresentarei alguma coisa que considero interessante sobre o acid jazz propriamente dito, como St. Germain, US3, Buckshot LeFonque, Medeski, Martin & Wood e similares.
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