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Os Sertões
(Euclides da Cunha)

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Não existe uma única definição de "clássico". Universalmente se refere à antigüidade greco-romana ou às obras de referência da modernidade européia. Mas não é nesse sentido que podemos considerar o livro de Euclides da Cunha um clássico. Na verdade aquela acepção coloca uma hierarquia civilizatória, ou seja, considera como passível daquela denominação apenas as obras de referência escritas nas língüas das culturas nascidas nos países que tiveram a preponderança política, econômica, militar expandidas brutalmente por meio, não da cultura, mas das armas, onde a cultura veio depois dar uma "legitimidade" a posteriori . Nesse momento, em que a cultura brasileira se coloca e tem de se colocar o problema da sua verdadeira identidade, da sua verdadeira cara e da sua verdadeira aptidão cultural, social, política, ou seja, nesse momento de ruptura ao modo brasileiro (sem ruptura política), devemos nos referir aos "Sertões" como uma grande matriz na cultura (cinema, literatura, teatro), mas também na constituição social e urbana do Brasil.Antes de mais nada, impressiona como o autor teve a coragem de, mesmo se valendo, por honestidade e rigor científico, de teorias eugênicas então em voga, revirar, torcer e mesmo ver atrávez e por sobre aquela carga teórica hoje superada. Toda mistiçagem era, então, considerada como índice de decadência e subdesenvolvimento cultural, que determinava de antemão o fracasso das populações misturadas. Euclides fala nestes termos, mas não deixa de ver e discernir a especificidade e antes de tudo as altas qualidades (físicas, morais, militares) daquele povo tão misturado. Nesse sentido ele nota como esse era o verdadeiro Brasil, fruto de uma longa sedimentação de tribos indígenas, misturadas com negros de diversas etinias além de uma proproção nada desprezível de portugueses. Euclides vai ganhando uma dimensão mais exata dos fatos. Primeiro, nota o completo despreparo do governo da república nascente para uma fato daquelas proporções que, assim, denotava a má vontade do estado em se envolver nesse conflito. Euclides nota como foi o clamor da opinião pública das capitais e não um disposição oficial que obrigou o governo a paulatinamente aumentar a força de repressão contra canudos. Era a luta de um Brasil mal informado sobre o que acontecia no sertão contra uma população esquecida e que se acreditava fadada ao desaparecimento próximo ( o próprio Euclides corrobora não sem alguma tristeza com essa acertiva). Era uma luta nascida de um grande mal entendido, ou seja, da idéia de que canudos representava um risco à república, de que eram armados e incentivados por forças restauradoras (única forma de explicar as clamorosas derrotas das primeira expedições), de que a sua destruição era uma obrigação da república em nome do desenvolvimento do Brasil. À medida que Euclides se aproxima do campo de operações, ele vai se dando conta que o fenômeno era muito mais antigo e arraigado, fruto de um estado de coisas secular (O conselheiro já tinha mais de vinte anos de pregação, ou seja, era um fenômeno muito anterior à República). O mais atual, contudo, e que diz respeito ao Brasil atual e talvez à algumas partes e conflitos pelo mundo, é o modo como a guerra era travada. A dificuldade das tropas era que, num terreno relativamente pequeno em extensão, o espaço era multiplicado pela especificidade das construções da tróia sertaneja. Os casebres, as vielas desordenadas, em resumo, um espaço que se tornava, pelas sua dinâmica, nada linear e totalmente caótico reduzia á nada ou mesmo invertia a vantagem de armamentos e de disciplina militar das tropas oficiais. Canudos era relativamente pequena, mas quando as tropas entravam e se embrenhavam naquele emaranhado parecia que o espaço se tornava multifacetado, afeito à emboscadas, de difícil sustentação para as vanguardas das tropas que se perdiam e desorganizavam. Nesse sentido, canudos foi dizimado, mas ele na verdade se expandiu por todas as periferias das grandes cidades. Não é de pouca importância que a palavra "favela" tenha sido trazida pelas tropas que combateram em canudos e como expressão de uma ironia em relação à situação semelhante à canudos em que se encontravam as tropas daquela carnificina. A dificulade encontrada pela polícia, até hoje, nos morros cariocas e nas favelas do Brasil todo, é a mesma das tropas que combateram em canudos. Da mesma forma, a repressão aos acampamentos dos palestinos, aos viaticongues...Por último, é notável a influência direta e indireta que teve "Os sertões" no cinema e na literatura. Na obra de Guimarães Rosa e, em especial, no seu conto, "Meu Tio Iauaretê", ele fala de um caboclo de mãe índia que matava onça sem arma de fogo, mas isso está já nos sertões onde Euclides descreve a preferância dos sertanejos de matar onça com faca ou zagaia, primeiro para economizar bala, depois porque a onça era traiçoeira e se o tiro não fosse certeiro a morte era certa. No "Deus e o diabo na terra do sol" de Glauber Rocha, os corpos das pessoas se confundem com pedras, tirando assim a humanidade e também expressnado o caráter granítico daquele estado de coisas, mas, da mesma forma, essa é uma alusão feita por Euclides no seu livro, matriz da Brasil em vário sentidos. Por último, é interessante como linha de investigação que Euclides fale do samba como festa daquela região e que, segundo Sadroni, no seu livro, "O feitiço descente", a palavra samba só seja introduzida na capital federal na virada do século, ou seja, na mesma época da chegada das tropas de canudos.



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