A Construção do Real
(BERGER; P.L)
O autor afirma que para entendermos a sociedade precisamos olhá-la de maneira “objetiva e subjetiva”, pois trata-se de um processo dialético e não de uma seqüência temporal caracterizada por três momentos intrinsecamente ligados: exteriorização, objetivação e interiorização.
Como exemplo destes três momentos, o autor diz que um sujeito externaliza seu “eu individual”, tornando-o objetivado na sociedade, ao mesmo tempo em que internaliza a partir da sociedade, os demais “eus individuais” já objetivados nela, num movimento contínuo.
Porém o individuo não nasce fazendo parte da sociedade, para isso ele precisa passar por vários “processos de socialização” que acontecem sucessivamente ao longo da vida, mas que se dividem, basicamente, em dois momentos que o autor define como “socialização primaria” e “socialização secundária”.
A socialização primaria é única e imprescindível na vida do indivíduo, dá-se na interiorização que acontece na infância com apreensão ou interpretação das primeiras coisas do mundo com que a criança tem contato, geralmente representado pelos pais e outros seres com os quais ela se relaciona.
Nesse processo de socialização, ou seja, de interiorização, compreensão, interpretação e adequação que a criança passa para enfim chegar a fazer parte efetivamente da sociedade, o indivíduo passa a ter consciência de si próprio, dos outros e do mundo.
Para isso, é preciso que se desenvolva nesse indivíduo o que o autor nomeia de “outro generalizado”, que é a somatória de papéis e atitudes que a criança presencia e assimila, depreendendo a partir deles as principais regras sociais.
A linguagem também é o único conteúdo “universal”, ou seja, que todos os indivíduos interiorizam, pois cada sociedade vai disponibilizar conteúdos diferentes para que suas crianças tenham contato, com suas regras sociais próprias e assim por diante. Depois de internalizada, a linguagem torna-se o mais poderoso meio de interiorização e é por ela que se dará a apropriação de outros conceitos e regras sociais.
É claro também que o indivíduo não é capaz de interiorizar “tudo” o que está disponível objetivamente na sociedade e que não se pode garantir que a interiorização de indivíduos de uma mesma sociedade aconteçam sempre de uma mesma maneira.
Assim, é na socialização primaria que acontece na infância é a constituição do primeiro mundo do indivíduo e, na maioria das vezes, essa concepção é mais forte e dominadora do que todas as outras concepções que ele venha a conhecer posteriormente.
O autor ressalta que a socialização primaria, assim como as regras sociais, variam de sociedade para sociedade, mas que ela só termina quando o conceito do “outro generalizado”, e todos os papéis e atitudes que ele representa, foram completamente interiorizados pelo indivíduo, que enfim, pode ser considerado parte da sociedade em que vive, pois conhece suas regras.
Porém a socialização primaria não é única, total e permanente, pois toda sociedade tem divisões de trabalho e distribuição de conhecimento e, portanto, um indivíduo não pode fazer tudo ou saber de tudo. Para isso acontece a socialização secundária, na qual ocorrem as internalizações de “submundos sociais”.
A socialização secundária é a internalização e a aquisição de novos conhecimentos relacionados a funções especificas e enraizados na divisão do trabalho que podem acontecer nas mais diversas esferas sociais, desde instâncias escolares até as militares. Nelas, os indivíduos internalizam novas regras sociais próprias daquele grupo em especial.
A socialização secundaria também pode acontecer em etapas, pois para se chegar a um grupo social pode ser necessário ter conhecimentos e experiências prévias, como por exemplo, para se chegar a universidade tem-se que terminar satisfatoriamente o ensino básico e o médio. Essas etapas obrigatórias, como escola ou habilidades e conhecimentos específicos para se chegar a um determinado grupo social são sempre estabelecidas institucionalmente.
O autor também afirma que enquanto a socialização primária depende de uma ligação emocional da criança, na secundária isso não é necessário. A idéia de que o mundo internalizado na socialização primária é único que existe pode vir a gerar muitos conflitos durante a socialização secundária, pois o indivíduo percebe que, na verdade, esse mundo é apenas o primeiro que ele conheceu dentre os muitos outros disponíveis.
Serão necessários muitos e poderosos choques para desintegrar a concepção de mundo que a criança internalizou durante a socialização primaria, enquanto os mundos internalizados posteriormente, como a escola ou uma profissão, podem ser destituídos mais facilmente.
Assim o “eu interior” de um indivíduo, internalizados na infância, pode facilmente conviver ou separar-se dos outros “eus” internalizados durante a socialização secundária. Do mesmo modo que uma segunda língua é aprendida “em comparação” a língua materna, se dará a socialização secundária em relação a socialização primária.
Resumos Relacionados
- A Familia Como Agente Da Socialização
- Socialização Primária E Socialização Secundária
- Sociologia Jurídica Parte I
- Seis Estudos De Psicologia
- Familia
|
|