Vasto Mundo
(Maria Valéria Rezende)
Num humilde povoado da Paraíba,chamado de Farinhada, o padrinho veio buscar sua afilhada Leninha e levou-a para o Rio De Janeiro, para morar com ele.Ela voltou anos depois já moça, linda, com vestidos lindos e outra educação.Fez o maior sucesso entre as antigas amiga nas festas de São João.Preá, um rapaz, morador do povoado, apaixonou-se á primeira vista por ela.Preá foi adotado por uma senhora quando tinha entre oito anos á treze anos de idade, vindo de uma comunidade miserável.Teve muita sorte de ser adotado, pois passava fome, sede e não tinha trabalho.Porém pouco tempo depois a velha, que já era meio surda, cega e sem juízo morreu.Preá trabalhava para os outros em troca de comida.Falava pouco, quase não ria.O povo achava que ele não batia bem do juízo.Fazia faxina, consertava casas, encanamentos, tudo sozinho.Aprendera tudo sozinho.De seus familiares, de documentos, de origem, nada se sabia.Num belo dia, na praça reuniam-se as moças á tomar um sorvete e conversavam animadamente.Preá estava ali perto, observando a moça, mas nada falava nem fazia.Dias ficou assim.Até que um dia, perceberam sua presença e começaram a fazer gozações com ele.Ele nem ligou, apenas observava a moça.Fez-se um coral que gritava:--Preá está apaixonado!Preá está apaixonado! Leninha olhou e achou graça, fez sinal" Vem cá, meu bem, senta aqui perto de mim".Ele foi, levado pelo vento, pelo olhar,pois só tinha olhos e o coração que batia aceleradamente.Não tinha palavras, não se expressava, apenas ria.Viu a moça, com as mãos macia no joelho dele, rindo para ele e escutou quando ela falou que se ele quisesse ela namoraria ele, mas teria que no domingo subir na ponta da torre da igreja e jogasse um beijo para ela. Balançou a cabeça e concordou.O povoado inteiro ouviu e começaram as apostas, sobe ou não sobe.O interesse foi tanto que o clássico do futebol de domingo, Sort Clube Corinthians e Sociedade Esportiva Palmeiras foi adiado.A dona do boteco começou a fazer coxinhas para vender no domingo, arrumou-se um caminhão para trazer o pessoal do sítio no domingo, o comentário era um só.Preá vai subir na torre da igreja ou não.Preá não viveu quinta, sexta, sábado.Nada viu, nada falou, nada ouviu, nem dormiu, nem acordou.Travou.Voltou ao ar no domingo com o badalar dos sinos, anunciando o acontecimento.Não vê a praça lotada de gente, de gritos, assobios e aplausos.A torcida grita, empurra, os vendedores ambulantes lá estão a botar mais lenha na fogueira dos gritos.Preá nada vê.Sobe para cima, mais para cima, mais e mais.A praça fica tensa, silenciosa, admirada.Seus dedos sangram, o suor escorre-lhe de todo corpo.Ao tocar a cruz agarra-a.A torcida gesticula apreensiva, emudece. Preá respira todo o ar do mundo e olha:lá embaixo o carro preto, a mala, a moça acenando.Só quando o carro que leva a moça desaparece ao longe, numa nuvem de poeira, é que o olhar de preá, liberto encontra o horizonte.Lá de cima passeia, vaga, vê.E Preá descobre que vasto é o mundo.
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