A Parada da Ilusão
(João do Rio)
Geraldo era um estudante de medicina, descendente de italianos, que conseguira chegar a universidade graças um esforço muito grande.Era muito querido pelos colegas, mas seu grande prazer era passar a noite nas casas de banho, quase nú a conversar com os tradicionais banhistas que há vinte anos eram os mesmos.Havia ali mulheres pálidas, mães de família acompanhadas de crianças e criadas, verdadeiros regimentos, bêbados, reumáticos, senhores respeitáveis, burgueses de ar solene, os namoradores de baixo dágua, as meninas assanhadas, cocotes e muita mulher chic.Geraldo não queria conquistas, era timido e aquele gosto era para mais tarde ter energia suficiente para estudar.Um dia, parado na porta, uma loira linda aproximou-se e chamou um banhista que se apresentou.Era o Nicola, mas a dama queria mesmo era o Geraldo que falava com ela em sotaque italiano para impressionar.Era Dona Alda Pereira, gaúcha, que separada do marido, passou a viver sob a proteção do senador Eleutério.Conversa vai e vem, Alda quis saber se como Geraldo se chamava e se sabia ler.Geraldo, agora Túlio, disse que não e ela propôs ensinar-lhe.Começaram as aulas na casa dela e após algumas aulas estavam torridamente apaixonados, vivendo um ídilio que durou dois meses.Geraldo, ou Túlio, estava triste, pois queria lhe contar a verdade e tinha medo.Enrolou e Eleutério descobriu o caso, decidindo mandar Alda para a Europa, visando preservar sua imagem.Na despedida, Geraldo decidiu contar a verdade.Tremia na hora, tentava falar, Alda não queria ouvir.Acabou por falar a verdade e Alda caiu sentada na cadeira e falou após um silêncio sepulcral; "Eu sabia, pensei que tivesses mais espírito.Eu sabia desde o primeiro dia quem eras tú.Se não soubesse, teria perguntado por ti e ar-me-iam informações.O meu amor nasceu de uma ilusão e só a ilusão é verdadeira.A verdade é a mentira por que é o comum e o vulgar.Amei-te, querendo fazer desse sentimento uma parada de gozo superfino em que ambos nos esforçassemos por dar a cada um a ilusão.Eu amava um ser idealizado, que seria chocante se fosse verdadeiro, um banhista improvisado, um selvagem, filho do mar e das canções, em ti que o fingias bem.Tu mastaste Túlio.Que me importa o estudante Geraldo?Já nem parto.Não é preciso.Adeus!E nunca, ingênuo rapaz, queiras ser verdadeiro nas coisas do sentimento que ama a ilusão".Geraldo, nervoso, sem saber o que fazer do seu chapéu calabrês, sentia a lamentável sensação que retornava ao seu eu, um ser vulgar e comum.E no seu quarto, chorou amargamente, por não saber guardar o príncipio da vida ; a ilusão.
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