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A velha senhora
(Georges Simenon)

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A Velha Senhora

Valentine Besson era invariavelmente descrita como uma encantadora velha senhora, e, com efeito, foi exatamente esta impressão causada no Inspetor-Chefe Maigret quando a recebeu em seu gabinete no Quai des Orfévres, polícia judicial de Paris. Fez-se apresentar por um cartão que a identificava como a viúva de Ferdinand Besson, um famoso químico já falecido que havia angariado fama e grande fortuna com a descoberta da mágica fórmula dos cremes Juva. A própria velha senhora nesta primeira entrevista, encarregou-se de informar Maigret que, a tão propalada fortuna fora completamente dilapidada e que vivia de uma renda suficiente, porém modesta, numa pequenina casa em Étretat, La Bicoque, no Havre, uma estação de veraneio onde, fora da temporada, viviam apenas os pescadores e suas famílias. A ida da velha senhora a Paris para avistar-se com o Comissário Maigret, tinha sido motivada pela morte inesperada da empregada que a servia, Rose, uma robusta jovem, filha de pescadores de Yport, balneário vizinho a Étretat. Com uma vivacidade que a fazia parecer jovem, Valentine Besson descreveu para o Comissário as circunstâncias da morte de Rose e disse estar convencida de que a pobre mulher havia morrido em seu lugar ao tomar um preparado para dormir que era destinado a ela, Valentine. Resumiu para Maigret os acontecimentos da noite trágica, segundo ela a beberagem que sempre tomava antes de deitar havia apresentado um gosto excepcionalmente amargo naquela ocasião e por este motivo a rejeitara, supunha que Rose a houvesse tomado em seu lugar, por que de madrugada havia sido acordada pelos altos gemidos de dor da moça que veio a falecer minutos depois. Ao lado do corpo estava o copo contendo ainda restos do líquido e exames de laboratório revelaram a causa da morte como envenenamento por arsênico. Um mistério bastante intrigante por que a própria velha senhora descreveu-se como pessoa completamente desprovida de importância, sem nenhuma influência para qualquer pessoa, sem dinheiro ou posse de absolutamente nada de valor, ocupante de uma pequenina casa que sequer lhe pertencia verdadeiramente, sendo apenas uma propriedade em uso fruto, as antigas jóias dos tempos da fortuna tendo sido substituídas por imitações e boa qualidade, mas sem valor.
A argumentação da velha senhora era, indubitavelmente, cheia de lógica e bom senso como as observações de Maigret logo o levaram a constatar. Era verdade, como ela dizia, que seus familiares, dois enteados e uma filha, além de um genro e da mulher de um dos enteados com quatro crianças e uma mãe com quem a velha senhora não mantinha nenhum relacionamento eram pessoas que, se não lhe dedicavam amor, também não a odiavam e que não tinham nada, absolutamente nada, a lucrar com sua morte. Mas, no entanto, Rose estava morta. A jovem um tanto tola, com suas idéias conspiratórias, sedenta de conhecimento e com forte tendência hipocondríaca havia tomado uma dose de um preparado para dormir destinado à velha senhora e estava morta. Maigret começou então sua viagem para a intimidade daquelas pessoas, para suas rotinas, seu dia-a-dia, seus afazeres automáticos seus desejos obscuros, seus ódios, amores e frustrações inconfessas. Começou a conhecê-los, tão bem quanto possível, envolvendo-se com eles, participando de cada minuto das suas vidas, metamoforseando-se em um igual para poder descobrir a trama de paixões e loucuras que haviam impulsionado o assassino. Conheceu os irmãos Bessons, o tolo Charles e o insuportavelmente esnobe Théo, tão decidido a imitar algum personagem da realeza britânica, a bela, mas frívola e vazia Arlette e a cansativa e muito convencional Mimi sempre importunada pelas crianças, além dos Trochus, pais e irmãos de Rose entrincheirados na raiva e na desconfiança dos muito humildes eternamente ressentidos contra as injustiças sociais. Um segundo crime, a morte de Henri, irmão de Rose, desta vez camuflado num acidente, põem às claras definitivamente a monstruosidade de que um egocentrismo absoluto é capaz. Nesse universo de desigualdades e de mágoas antigas Maigret precisou envolver-se para desvendar os crimes. Compreendendo a velha senhora em todo o seu egoísmo e em todo o seu pavor de voltar a ser pobre, Maigret conseguiu vê-la, praticando os crimes, matando um após o outro dos irmãos Trochus para garantir seu segredo. O segredo de que as jóias, tão alardeadas como réplicas sem valor, eram afinal verdadeiras. Uma fortuna amontoada numa valise comum, envolta num xale azul, como azuis eram os olhos da velha senhora.



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