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ABUSADO
(CACO BARCELOS; TROPA DE ELITE)

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Acabo de ler o livro Abusado, de Caco Barcellos, um dos mais impecáveis repórteres do mundo. O livro é de 2003.A participação do cineasta João Moreira Salles na vida do traficante carioca Juliano VR, codinome de um conhecido traficante do Rio de Janeiro – reportada no livro de Caco Barcellos – me chamou atenção. O caso Salles, como Caco Barcellos fala em seu livro- reportagem me faz pensar na diferença entre a linguagem poética & a linguagem jornalística. Me faz pensar nas posturas profissionais, nas precisões exigidas para um bom trabalho de repórter-escritor & nas dificuldades pessoais para se executar um outro tipo de trabalho como o filme que senti como uma obra-prima. João, antes de fazer seu último filme sobre a passagem do tempo mostrando o mordomo de sua família Santiago, também tratou do tráfico em Notícias de uma Guerra Particular-(1999). Durante as filmagens do documentário Notícias, João ficou amigo de Juliano VR. No filme muitas das pessoas documentadas são as mesmas personagens do livro Abusado: jovens excluídos da sociedade. Uma nova geração, em que o traço comum é o espírito suicida. No mesmo cenário real, do outro lado da guerra estão os policiais. Os fatos mostram que os dois lados se confundem na guerra do tráfico de drogas no Brasil.Narrados desta vez no filme Tropa de Elite,o BOPE, o Batalhão de Operações Especiais, a tropa de elite da polícia militar do Estado do Rio de Janeiro. Logo no início da leitura de Abusado, a ligação do livro era clara com um outro livro que li há poucos anos, o Elite da Tropa – de Luiz Eduardo Soares/ Rodrigo Pimentel/ André Batista.Depois de muitas polêmicas, exposição intensa na mídia, a pergunta com resposta para o porquê de tanto interesse no assunto está estampada nos meios de comunicação e na própria insegurança de cada cidadão com a fragilidade da vida que se intensifica a cada dia. Todos esses livros & filmes tratam de uma realidade do Brasil que pode se ler em trechos de uma crônica semanal : “A miséria do povo não explica o País; o País que os donos do poder organizaram é que explica nossa miséria”. Ainda, o óbvio: “a miséria produz ignorância, preconceito, voracidade, crime”(Arnaldo Jabor, OESP, 2/10/07). Ou na análise do olhar em diagonal, na primeira página do jornal desse dia 3 de outubro de 2007: no centro da página duas fotografias coloridas de dois personagens da atual história do Brasil: o senador Renan Calheiros e ao lado, Mônica Veloso, mãe da filha de Renan, vestida de coelhinha, dá entrevista sobre suas fotos na Revista Playboy. Bem ao lado das fotos, uma manchete: “A Polícia extorquiu megatraficante, diz investigação”(FSP, 3/10/07). Como o assunto é crucial para eu me responder sobre uma das maiores economias mundiais, a droga, e, de seu lucro, certamente maior que o de um garoto de favela que usa um Nike, entro no caderno do cotidiano para me informar como o megatraficante colombiano Juan Carlos Abadia, preso em agosto, teve R$ 2,5 milhões extorquidos por policiais civis do Denarc (delegacia de combate aos narcóticos) Detran e Delegacia Fazendária. A investigação é de promotores. Os casos mais graves têm como protagonistas delegados e investigadores do Denarc, a delegacia encarregada de combater o tráfico. A fortuna de Abadia é avaliada em US$ 1,8 bilhão = a R$ 3,42 bilhões. Lembrei da entrevista de Hélio Luz, um policial que virou deputado, no filme do João Moreira Salles sobre o tráfico, em que o entrevistado perguntava várias vezes a quem interessaria que deixasse de haver corrupção. Lembrei que em todas as guerras, mesmo as mais diárias, a corrupção é moeda forte em boa parte de transações. A corrupção com o dono de botequim ou, como na história que está na reportagem da manchete do jornal, em que “A entrega do resgate (do megatraficante) é uma cena de cinema(…)”. Uma das armas principais da Tropa de Elite apenas 100 soldados enquanto o Rio de Janeiro conta com 30 mil policiais é a da incorruptabilidade. No entanto, quando, os integrantes da Tropa - apesar de seus gritos de guerra, do cruel treinamento a que são submetidos seus integrantes, do exercício de desumanização com suas práticas diárias de repressão aos “inimigos”, ou mesmo, quando são humanos como qualquer um, amam filhos, namoradas -, descumprem as palavras de honra do tipo de seita a que pertencem, a casa cai, como diz a gíria. É mesmo uma brincadeira sinistra de quem é herói ou vilão.Quando o BOPE vira o salvador de uma cidade, é impossível esquecer, apesar dos anos oitenta já serem um período de um futuro anterior, das palavras proféticas do pensador e urbanista francês, Paul Virilio, em seu livro Guerra Pura (brasiliense), de que, num futuro recente, todos os cidadãos seriam soldados civis. Vivemos em prontidão. Numa servidão voluntária com muita discrição, para talvez disfarçar a insegurança e o medo que sentimos com esse estado das coisas.Cada vez mais discernimos menos a ficção da realidade. É documentário? É novela?. Por isso, quaisquer que sejam as linguagens e as línguas de Abusados e Tropas de Elite, o que importa, nesse terceiro milênio é que o Brasil vai mostrando a sua cara, como pedia Cazuza, que ainda perguntava: “quero ver quem paga…”. Todos nós estamos pagando caro.



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