A Natureza é tão má
(José Guimarães)
E não é para menos, que penso assim. Não basta o homem sofrer as agruras do corpo, por que cargas-d´água tem de sofrer também os animais? Pois bem, hoje, estando eu descansando na praça, após umas boas voltas de bicicleta, observei um passarinho (de porte graúdo) a ciscar num canteiro, equilibrando-se numa perna só. “Que aconteceu com ele?”, me perguntei. Continuei olhando-o; depois de uma revoada ele pousou mais bem perto de mim, como se estivesse a me mostrar de fato sua incapacidade, e pôs-se a ciscar. E bica aqui, bica ali, então percebi que a outra perna era um graveto seco estirado bem lá para trás. Aquilo certamente fora danificado por algum instrumento feito pela mão do homem. Quem aleijaria um passarinho senão alguém munido de estilingue ou outra arma qualquer? Ele parecia bem gordinho, comendo naturalmente, sem reclamar de sua incapacidade, como costumam fazer os homens. Bem, pode ser que ele não reclame para nós, mas para outros passarinhos... a fim de que ficassem com dó dele. Só que logo descobri que não. Pois bastou ele achar uma toca de inseto ou lagarta, veio outro pássaro e covardemente expulsou-o dali. Então ele voou rápido, indo para lá do telhado dum hotel que fica no outro lado da praça. O outro pássaro saracoteou-se todo, como em comemoração ao achado, bicou a terra e comeu rapidamente o que o outro achou. Foi quando deduzi como a natureza é tão má. Além de permitir animais aleijados que não têm atendimento médico, ainda permite que outros disputem o achado deles.
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