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Capítulo do livro "O Poder que Seduz" que fala do lobby em Brasília
(Monica Veloso)

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... Conheci um lobista de Minas, representante de uma empreiteira, que contava aos quatro ventos quais eram os parlamentares que estavam na sua folha de pagamentos. No segundo uísque o rapaz já estava soltando os nomes, sem se preocupar com as pessoas da mesma ao lado. Dizia também que, além dos pagamentos em “cash”, costumava dar presentes aos políticos mais acanhados, que tinham dificuldade em assumir a realidade. Nem todo lobista, porém, paga em espécie. Os mais sutis oferecem viagens de jatinho para a família, algumas com direito a hospedagem em uma ilha de Angra dos Reis. Esses passeios são tão sedutores que também conseguem atrair membros do judiciário. Para completar, há toda sorte de mimos, como bebidas, gravatas, perfumes, canetas... Quem não se sente feliz por ser lembrado? O lobista típico é educado, fino, de ótimas relações. Muitos são conhecedores de arte, esportes, literatura, enfim, ótimas pessoas para uma conversa agradável. Mas não é discreto, ao menos em Brasília. Veste ternos caros, freqüenta os melhores restaurantes, está sempre acompanhado de gente importante e mulheres bonitas. Quando vive na cidade, costuma morar em belas casas ou apartamentos de cobertura. Não tem qualquer problema de consciência e fala com orgulho dos políticos famosos que mantém na sua lista de favorecidos. Toda semana, de terça a quinta – mesmos dias do reduzido expediente dos parlamentares – Brasília recebe uma infinidade desses emissários dos mais variados grupos econômicos, tais como: indústria farmacêutica, insumos, agropecuária, importação de pneus, indústria de confecção, indústria da comunicação, do papel, das gráficas, sindicatos, Ongs... Nesses dias, esses forasteiros trabalham freneticamente para contatar políticos e convencê-los a beneficiar os grupos que representam. O visitante que chega a Capital do País para tentar o contato com um figurão, sem conhecer os atalhos que levam até ele, se sente completamente perdido. Como se aproximar de um senador? Pior ainda, como convencê-lo a se interessar por uma emenda que beneficie determinada empresa ou entidade? Como roubar preciosos minutos de um ministro de tribunal superior para persuadi-lo a colocar imediatamente em pauta aquele processo de milhões de reais contra um órgão do governo? Sem alguém que lhe mostre os meandros do poder, nosso visitante dará com a cara na porta, ou vagará, sem rumo. O lobista pode levá-lo, ou ao menos dará a impressão de que pode, aos homens que decidem. Antes, porém, é preciso checar se sua papelada está dentro das normais legais. Quem pode ajudar com isso é o lobista “carregador de piano”, ou de segundo escalão. Este lobista de menos status, mas de bons conhecimentos técnicos, analisará o projeto, obterá documentação e pareceres favoráveis ao pedido, ou “pleito” e, fará os contatos preliminares com representantes do quarto, terceiro e até mesmo do segundo escalão do Governo, deixando tudo na dependência do grand finale, também chamado de “vontade política”. Estes lobistas pau pra toda obra geralmente são procuradores, administradores e consultores públicos aposentados de cada órgão que montam escritórios de “assessoria e consultoria empresarial”, encontrados às centenas em Brasília. São operários do lobby, que não subiram na carreira a ponto de abandonar o dia a dia das repartições públicas. Fazem o trabalho pesado para que os almofadinhas de ternos impecáveis, sorrisos perfeitos e gestos finos, possam colocar a cereja no bolo. Confiante, certa de que o caminho até os poderosos terá de passar obrigatoriamente por ela, a tropa de elite do lobby não tem pressa, ou finge que não. Para ver e ser vista, almoça e janta nos melhores restaurantes, refere-se a cardeais da política ou dos negócios pelo primeiro nome, liga para seus celulares em voz alta e é tão especializado que trabalha ou no legislativo, ou no executivo, ou no judiciário. No executivo, o lobby é feito por diretores “institucionais” das grandes empresas e corporações, que atendem aos altos funcionários de sua área de interesse, encaminhando seus processos administrativos, tais como licitações, cobranças e alterações de contratos. Cultivam essas amizades com carinho sem pedir, mas certos de que um dia receberão algo em troca. Quando o “amigo” perder o cargo, o diretor lobista já terá conhecido seu substituto, e assim prosseguirá até que a sua morte o separe de seus bajulados. Como são diretores de empresas conhecidas, esses representantes da fina flor do lobby podem circular com desenvoltura pelos gabinetes e têm seus nomes nas agendas oficiais. Um exemplo dessa casta privilegiada é o senhor Cláudio Gontijo, diretor da Construtora Mendes Junior, envolvido nos fatos que tornaram a sua vida particular tão pública. A agenda de um lobista desses vale ouro. Alguns, há décadas em Brasília, estão tão enfronhados com o poder, sabem de tantas coisas e têm tantos contatos, que quando o filho de um deles foi preso, o pai correu para resgatar primeiro a agenda – que acabou esmiuçada por uma das revistas mais influentes do País.



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