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Uma Leitura sobre "Construções na Análise" de Freud (1937)
(Margarida Silva)

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O que é o trabalho da análise? A análise deveria terminar com a recordação pelo analisando das suas experiências traumáticas e dos impulsos afectivos que elas terão invocado e deveria levar à compreensão das causas da disfunção e à origem do seu sintoma que se constitui ele próprio como o substituto daquilo que esqueceu. Porém, é sabido que, embora o analista busque recuperar a história primitiva do sujeito, a este não é possível aceder à sua experiência primordial, dada a complexidade inerente à sua condição humana. Contudo é essa mesma condição que garante que o inacessível esteja presente nele de alguma maneira e em algum lugar e o sucesso da análise passa por trazer à luz a parte possível do seu material recalcado e o conflito dinâmico por ele, sujeito, vivenciado. A propósito das críticas então desferidas contra a técnica da interpretação da psicanálise, por alguns que até então lhe tinham feito justiça, Freud esclarece, reflecte e amplia neste texto os objectivos da análise e as técnicas que lhe estão subjacentes. E ao fazê-lo autocritica-se pelo facto de ter até então salientado mais o trabalho do analisando do que o do próprio analista. Cabe então ao analista induzir o analisando a “abandonar os recalcamentos do seu desenvolvimento precoce e a substitui-los por reacções que correspondam a uma condição psíquica madura” (Freud, 1937), gerindo com o seu «saber suposto» o curso, o tempo e o ritmo da transferência do sujeito em análise. Para tal o analisando, por associação livre verbal, põe à disposição do analista ideias, sonhos, acções e a sua própria relação com o analista, que constituiem o material que vai permitir àquele construir um quadro credível e tão completo quanto possível da experiência esquecida pelo sujeito. Ao analista, compete combinar os materiais expostos e suplementá-los, construindo uma conjectura que servirá como hipótese para o trabalho de ambos, obviamente sujeita a dificuldades, exposta ao erro, e assente em elementos, eles próprios já modificados pela interpretação inconsciente do sujeito. A interpretação de per si aplica-se a um elemento isolado do material, como por exemplo, um acto falhado ou uma associação num determinado momento. A construção é algo mais amplo, mais ambicioso, mais constante, mais eficaz. O propósito da construção feita pelo analista é pôr o analisando perante um fragmento da sua história primitiva que ele esqueceu e esperar que provoque o impulso ascendente do recalcado trazendo à consciência do analisando traços de memória significativos para o “apaziguamento” do sintoma. Mas este é um trabalho dinâmico. Por um lado toda a construção é inevitavelmente incompleta. Por outro só fará sentido quando o analista a devolver ao analisando. E sempre terá que, gerindo a transferência, saber escolher a ocasião e o modo de o fazer e considerar as explicações com que fará acompanhar a devolução da sua construção. No processo de análise a construção transformar-se-á na convicção do analisando e é neste processo que se constrói o vínculo fundamental entre os dois intervenientes, analista e analisando, que proporcionará a evolução “positiva” de todo o processo. A construção pode estar errada, o analisando não reagirá a ela, ou constituir uma aproximação à verdade e nesse caso, ele reagirá com um agravamento do sintoma ou do seu estado geral. Mas como sabe o analista se a sua construção é de facto correcta? Não lhe basta a observação da reacção do analisando nem a expressão verbal de mero assentimento ou rejeição. Ele terá que elaborar sobre ela e agir. Freud aponta para três formas seguras de confirmação indirectas: por via de expressões que expressam consonância com o exposto e o completem ou ampliem; por ia de associações com outras ideias feitas na sequência do que acabou de ser dito e por via de actos falhados, de imediato interpretáveis. Freud rejeita que o simples”sim” ou “não” do analisando possam ter valor fora destes contextos. Considera-os a ambos ambíguos, não permitindo ao analista um juízo acabado. E por tal se viu “acusado” de negligenciar, de subestimar a importância do analisando, o que veementemente refutou neste texto. Este trabalho de construção na análise desenvolve-se ao longo do tempo. À medida que o material vai sendo disponibilizado e que ao analista vai sendo possível induzir construções sobre a vivência traumática passada do sujeito, o analista, em tempo oportuno e com a devida atenção à capacidade receptiva e compreensiva do sujeito, vai-lhas devolvendo e com ele as valida. Pode confirmá-las tratando assim o tema em questão, ou infirmá-las, recolhendo não obstante informação acrescida, inclusive sobre as suas resistências, que juntará a outra que vá surgindo para re-construir de novo e ir assim aprofundando a análise, encaminhando o sujeito para uma nova e equilibrada forma de viver o seu sintoma. O sujeito posicionar-se-á na vida real de forma inteiramente nova. A realidade será entendida além do raciocínio lógico embora jamais seja esquecido o seu passado histórico.



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