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Comparação de duas versões do conto "MISSA DO GALO"
(Machado de Assis; Lygia Fagundes Telles)

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Ao comparar o conto “Missa do Galo” de Machado de Assis com a versão escrita por Lygia Fagundes Telles, nota-se que a grande diferença entre eles é o ponto de vista dos narradores. Enquanto o conto de Machado relata os acontecimentos contados pelo rapaz de dezessete anos que é hóspede na casa do escrivão Menezes e de Dona Conceição, a versão de Lygia Telles apresenta como narrador a figura da própria Dona Conceição.
A partir dessa diferença inicial, desenvolvem-se muitas outras, como, por exemplo, o modo como o texto é escrito. No conto de Machado, o texto é claramente um diálogo entre o jovem e Dona Conceição. Logo no primeiro parágrafo, ele afirma nunca ter entendido tal conversação e se dispõe a relatar o ocorrido. Ele inicia a narrativa dando uma breve introdução à rotina da casa e também à mulher com quem irá se desenrolar o diálogo seguinte.
A versão de Lygia segue por outra linha, em momento algum ela apresenta um diálogo explícito e direto entre os personagens. Antes de começar a narrar os fatos acontecidos, ela primeiro descreve com detalhes todo o ambiente em que a cena se desenvolverá, para então focar suas atenções no jovem que lê sentado à mesa.
Na seqüência da narrativa, o conto de Machado é mais direto. Conforme os personagens vão dialogando entre si é que os fatos e as ações são apresentados. Já na versão de Lygia, ao invés dos fatos em si, o que a narradora relata são as emoções em relação os acontecimentos. Ela apresenta a ansiedade que aquele momento provoca e o desapontamento por saber que nada irá acontecer efetivamente.
No conto de Machado, o narrador descreve com minúcia as palavras ditas, por mais insignificantes que estas tenham sido, afinal os momentos de silêncio foram muito mais interessantes do que o próprio diálogo em si. Lygia, por sua vez, enfatiza o que fica subtendido no diálogo. Essa intenção fica explícita pela epígrafe utilizada pela autora, que seleciona um trecho do próprio conto de Machado, para abrir seu texto, “Chegamos a ficar algum tempo – não posso dizer quanto – inteiramente calados”, optando por narrar as entrelinhas e não o superficial da conversa.
A diferença entre os textos não se limita apenas à maneira como foram escritos, também os perfis e as características dos personagens se mostram diferentes. No conto de Machado, o rapaz é apresentado como sendo um tanto inocente e não quase percebe as verdadeiras intenções de Dona Conceição. Ele aparenta ser incapaz de acreditar ou de supor que a “santa Dona Conceição” pudesse estar acordada até tal hora por causa dele e que a conversa que tiveram pudesse ter outros significados e intenções. Já o rapaz da versão de Lygia se mostra mais ciente dos acontecimentos, embora seja igualmente omisso e passivo em relação a ela.
Dona Conceição, no conto de Machado, oscila entre a santidade e a perversidade. Embora seja aparentemente uma mulher decente, devota ao marido e a casa, naquele momento mostra-se sedutora, mas sem vulgaridade. Já na versão de Lygia, pode-se conhecer seus sentimentos e não apenas suas falas e ações, o que traz a tona suas verdadeiras intenções: seduzir o rapaz. O desapontamento e o descontentamento demonstrado por Dona Conceição ao constatar que nada acontecerá efetivamente é deixa para que uma outra Conceição seja apresentada por Lygia. Conceição é uma mulher totalmente consciente de seu poder e o utiliza sem pudor para atingir seus objetivos.
Fisicamente, a Dona Conceição de Machado de Assis é definida como mediana, nem bonita e nem feia, “tudo nela era atenuado e passivo (...)”. A figura de Dona Conceição da versão de Lygia, por ser naturalmente sedutora, tem conhecimento de seus dotes. Ela usa de todo seu potencial para conseguir a atenção do garoto.
Os artifícios usados por Dona Conceição para seduzir o rapaz são os mesmos nos dois textos, mas na versão de Lygia esses mesmos fatos são apresentados de forma consciente. Enquanto no conto de Machado o roupão (mal) ajeitado em seu corpo, as chilenas que aparecemao cruzar as pernas e as veias azuis do braço a mostra podem ser apenas coincidências.
Outros personagens secundários do conto de Machado, como a mãe de Conceição Dona Inácia, as empregadas da casa e a amante de Menezes, ganham um certo destaque na versão de Lygia. Dona Inácia aparece acordada e atenta a todos os movimentos da casa enquanto teme dormir por achar que a morte a espreita. As empregadas que preparam-se para dormir e comentam as aventuras amorosas do patrão. Também a própria amante que, no conto de Machado não tem nenhuma especificação, no texto escrito por Lygia é definida como uma mulata que faz os biscoitos de polvilho que Menezes tanto gosta.
Analisar estes dois textos é uma ótima maneira de se perceber como tudo em um texto pode ser relativo. O ponto de vista, as opiniões e valores de quem o conta sempre irão interferir efetivamente no texto produzido.



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