COMADRE MORTE 
(Adolfo Coelho)
  
Havia um homem que tinha tantos filhos, tantos que não havia ninguém na freguesia que não fosse compadre dele e vai a mulher teve mais um filho. Que havia do homem fazer? Foi por esses caminhos fora a ver se encontrava alguém que convidasse para compadre.
 Encontrou um pobrezito e perguntou-lhe se queria ser compadre dele.
 - Quero; mas tu sabes quem eu sou?- Eu sei lá; o que eu quero é alguém para padrinho do meu filho? Pois, olha, eu cá sou Deus.- Já me não serves; porque tu dás a riqueza a uns e a pobreza a outros.
 Foi mais adiante; e encontrou uma pobre e perguntou-lhe se queria ser comadre dele.- Quero; mas sabes tu quem eu sou?- Não sei.- Pois, olha, eu cá sou a Morte.- És tu que me serves, porque tratas a todos por igual.
 Fez-se o baptizado e depois disse a Morte ao homem:- Já que tu me escolheste para comadre, quero-te fazer rico. Tu fazes de médico e vais por essas terras curar doentes; tu entras e se vires que eu estou à cabeceira é sinal que o doente não escapa e escusas de lhe dar remédio; mas se estiver aos pés é porque escapa; mas livra-te de querer curar aqueles a que eu estiver à cabeceira, porque te dou cabo da pele.
 Assim foi. O homem ia às casas e se via a comadre à cabeceira dos doentes abanava as orelhas; mas se ela estava aos pés receitava o que lhe parecia. Vejam lá se ele não havia de ganhar fama e patacaria, que era uma coisa por maior! Mas vai uma vez foi a casa dum doente muito rico e a Morte estava à cabeceira; abanou as orelhas; disseram-lhe que lhe davam tantos contos de réis se o livrasse da Morte e ele disse:
 - Deixa estar que eu te arranjo, e pega no doente e muda-o com a cabeça para onde estavam os pés e ele escapa.
 Quando ia para casa sai-lhe a comadre ao caminho:  - Venho buscar-te por aquela traição que me fizeste.- Pois, então, deixa-me rezar um padre-nosso antes de morrer.- Pois reza.
 Mas ele rezar; qual rezou! Não rezou nada e a Morte para não faltar à palavra foi-se sem ele.
 Um dia o homem encontra a comadre que estava por morta num caminho; e ele lembrou-se do bem que ela lhe tinha feito e disse:- Minha rica comadrinha, que estás aqui morta; deixa-me rezar-te um padre-nosso por tua alma.Depois de acabar, a Morte levantou-se e disse:- Pois já que rezaste o padre-nosso, vem comigo.O homem era esperto; mas a Morte ainda era mais; pois não era? 
 
  
 
Resumos Relacionados
 
  
- Marcelino Pão E Vinho
  
  
- A Cadeira
  
  
- As Orelhas Do Abade
  
  
- Minhas Estórias
  
  
- A Cegonha E A Raposa -fÁbulas
  
 
 
 | 
     |