Dois banhos
(Fernanda Franco)
Dois banhos para o cabelo ficar bom. Uma ida àquela faculdade longe de tudo onde possivelmente farei minha pós. Uma ida inesperada a um parque bonito. Um encontro inesperado com uma amiga livreira. Uma entrevista com um autor português na tv. A escrita com café fresquinho. Choro no chuveiro, e pijama no corpo. Perfume sempre e também um creme hidratante porque tomei muito sol ontem. Essa foi minha segunda-feira.Faz sentido pensar que se eu tenho um desejo que vem do fundo da minha alma, então a natureza dele só pode ser a mesma de quem pode supri-lo. E o desejo de começar uma carreira de verdade vem de uma vontade bonita, vem de uma vontade de enxergar melhor. Vem de algo maior do que um querer de um eu-egoísta. Não é por status, não é por modismo, não é por vaidade, é simplesmente por afinidade. E também é por querer realizar coisas na vida.A sensação de inércia vem do que se tem e não se utiliza. Porque é com o próprio corpo que se chega a algum lugar. E eu não estou aqui teorizando, estou descobrindo ao mesmo tempo em que escrevo, trata-se de uma escrita que me permite uma leitura paralela da minha vida e de mim mesma. Como fosse um tarô de palavras... mágico. Escrever é para o escritor fazer uma leitura paralela de si mesmo enquanto escreve.E quanto mais escrevo menos minha vida parece vazia. Menos pareço uma perdida entre vários caminhos possíveis. Minha escrita não tem que seguir estética alguma, ela flui sozinha, não tem por onde ela não possa passar. Portanto, se o conceito de literatura estiver necessariamente ligado a um conjunto de estéticas pré-estabelecidas, minha escrita está longe de ser literária. Ela é si mesma. É uma escrita de alguém que vai em paralelo.Com a tristeza do outro é mais difícil lidar.
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