Solidão
(Huascar P. Rodarte)
SOLIDÃO Às vezes me vem a idéia de que sou bastante solitário, não se trata de opção clara e assumida por algum motivo específico, mas apenas conseqüência de hábitos e comportamentos naturalmente assumidos que produzem um isolamento progressivo. Certamente não me sinto dependente da presença de várias pessoas para me sentir bem e, principalmente, sou avesso a me enquadrar na estrutura de grupos ou gangs, seja qual for o objetivo a que se proponham. Neste aspecto, sinto-me mais propenso ao individualismo temperado com uma, talvez contraditória, dose de universalismo. Desde muito cedo, percebi como se altera o ser humano quando assume seu lugar em um grupo. Ao mesmo tempo que incorpora o novo poder adquirido como membro de uma facção, que lhe dá confiança e ousadia, estabelece-se a automática oposição aos demais, não aderentes. Todos os julgamentos e atos se dão no interesse do grupo, mesmo que haja distorções e injustiças. Para o espírito de gang, o universalismo dos direitos e da igualdade formal são inaceitáveis. Além desta tendência o grupo também fomenta a uniformidade de opiniões e condena, as vezes com crueldade, toda e qualquer divergência como foco de heresia. Talvez haja algumas vantagens práticas em ser solitário, embora atuar através de um grupo seja mais seguro e possa muitas vezes amplificar o que se faz, pois podemos contar com o apoio e receptividade reservados aos cúmplices. O solitário parece ter a isenção necessária para ver e analisar o que outros, mais engajados, têm dificuldades em diferenciar. Não se pode negar a natural propensão do ser humano para se agrupar, o que além de conferir vantagens na obtenção da sobrevivência, sempre foi uma forma de conforto emocional diante da imprevisibilidade dos eventos. O agrupamento mais imediato e óbvio é o familiar, no qual a proteção do capital genético comum produz uma aliança de interesses ampla e imediata. No entanto, mesmo as alianças baseadas em parentesco são sujeitas a conflitos e divisões naturais pois, como acontece para inúmeras espécies de mamíferos, os machos adolescentes se tornam inconvenientes à estabilidade da comunidade e são afastados, ou se afastam voluntariamente, do seu núcleo básico. Neste momento ocorre a busca de uma gang que os acolhe e que comporá, por uma questão de sentimentos comuns, uma coleção de inconformismos com o “status quo” que os rejeita. Este movimento dos jovens machos, para a periferia do grupo, ocorre em comunidades de mamíferos, como de baleias, elefantes, leões e outros que costumam se agrupar. Após um período de amadurecimento os machos, então já municiados de força e determinação, voltam para desafiar a estrutura de poder que os expulsou e que será oportunamente desalojada. Entre os humanos existe um mascaramento destes comportamentos, que acabam se expressando mais por movimentos coletivos de revolta contra tudo que transpire o estabelecido. Muitas vezes o jovem permanece fisicamente junto da família mas rejeitando seus valores e ansiando pelo dia que possa ter condição financeira para manter-se longe daquela caretice que o envergonha diante da sua turma. Enfim, independente da questão acima exposta, existe em muitos de nós a sensação amarga, que se renova ocasionalmente, dos dissabores da vida compartilhada, pois fica a sensação de que estamos sendo retribuídos de forma inadequada.
Resumos Relacionados
- Atitudes Demonstradas Numa Dinâmica De Grupo
- Os Pernilongos Que Nos Atacam
- O Que é Uma Gíria?
- Ética No Trabalho
- Manias Dos Adolescentes
|
|