Contus Humanus
(Sylvia Maria Marteleto)
PREFÁCIO Felizmente para nosso gáudio ainda existem jovens que amam as artes e a literatura, que ainda acreditam nas verdades filosóficas e que não desistiram de achar que nas letras, nos poemas, que na criação literária ainda se encontram possibilidades para o entendimento das coisas e para o prazer. Sylvia Maria nos surpreende com uma escrita inusitada, com invencionices que ultrapassam – e muito – o arroz-com-feijão com que nos deparamos freqüentemente. Já a partir da epígrafe: Endereço para contato improvável: Alameda do luar, anos à frente nos damos conta do que virá, ou seja, algo à frente, vanguarda, que precede nossa época se utilizando de idéias audazes, originais. Em Uma carta para Elliot, a imaginação de Sylvia Maria corre solta, leve e as reflexões que ela nos permite tanto nos inquietam quanto nos remetem a momentos idílicos e/ou achados eu diria, extemporâneos, porque praticamente em desuso nos dias que seguem. Ora... carta? Carta a amigo? Confidências? Troca de afetos? Bem, nada todavia que vem de tal intimidade nos soa inoportuno. Melhor, é um chegar-se deleitoso a um tempo que já se foi... entrementes, marcante. Impressionam as inserções de obras e autores famosos que de forma insuspeita passeiam pelo mundo dos interlocutores. E de novo Sylvia Maria nos toca com a mensagem dos grandes, tatuada para sempre em nossos espíritos sedentos de saber. Em O Falastrão, que ela dedica a Heidegger, o que temos é pura filosofia, magistralmente mesclada com momentos e atitudes de profunda psicologia, como talvez nos ensinou o filósofo da ontologia existencial. Os outros contos, diminutos ou mais extensos – tanto faz – abrigam trechos decisivos que espantam pelo toque forte da construção frasal, da palavra sabiamente escolhida, da pontuação lesta e... pronta. Está aqui, ouso dizê-lo, um livro de geração. Em sua estréia, Sylvia Maria foi inteira no que pretendeu dizer: não fez volteios, não deixou nada no ar. Envolveu-nos com suas personagens culturais e seus espaços pluralistas, tão instigantes e desconcertantes - como aliás, somos todos nós: humanos e, graças a Deus, leitores. Maria do Carmo Brandão Set. 2006
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