O Sonho de Picasso
(Isa Lorena Vergasta Moreira)
O SONHO DE PICASSO Isa Lorena Entre o realismo e o cubismo, o artista pulsante Pablo Picasso (1881-1973), deixou em sua obra uma mistura de confissão autobiográfica e fantasia, na opinião de seus especialistas. Magnificamente artístico, seu trabalho nos proporciona as mais variadas experimentações estéticas. Nesta obra denominada O Sonho, já da fase cubista, o artista proporciona a reflexão acerca do erotismo e do gozo visual. Em explícito êxtase, a dama da figura toca seu púbis e de olhos fechados, voltada para si, tece sue manifestação masturbatória. A função revolucionária intrínseca da arte, como ressalta Umberto Eco, dá permissão de passagem para esse e outros artistas manifestarem seu fazer artístico através de cores e formas e texturas e signos e códigos e o que mais estiver passível de manipulação. As possibilidades infinitas nas quais a arte (dês)condiciona-se, pressupõe a quebra quase ininterrupta de paradigmas dentro do fazer artístico. A beleza desse Sonho de Picasso – essa manifestação fenomenológica, como assinalaria Monclar – reside na falta de postura dessa dama, que abertamente descortina-se de possíveis devaneios morais e se toca e se sente e se goza. Ela – a obra – pode ser assim classificada, como a materialização dos mais recônditos devaneios do artista. <strong>No processo estético que percorre sua sensibilidade, ele apreende a realidade à sua maneira e a transpõe em suas tintas que ávidas percorrem o vazio da tela em busca de formas mágicas</strong>, que posteriormente irão desfazer-se e refazer-se no vazio impreenchível de seus leitores. Esse processo de fruição é apontado por Bourdie, que viu na arte a função além da manipulação dos novos códigos apontada por Berger. Assim, Bourdie nos apresenta o aspecto reacionário da obra de arte, onde o leitor se vê “obrigado” a interagir com a obra em seu imaginário artístico, com profundidade mais ou menos elevada, dependendo do grau de sua sensibilidade, edificada no decorrer de sua vivência. Considerando então todo esse processo de apreensão da obra, O Sonho retratado pela imaginação transbordante de Picasso provoca uma excitação sinestésica, entre o sabor do toque e o grito do vermelho da cadeira que sustenta a figura. As figuras cubistas do artista pressupõem dualidades de signos e de significados. Assim, o toque é duplo, o beijo é duplo e o gozo também possivelmente o é. Mas que segunda figura seria essa, tão indissociável da primeira, quase um apêndice? <strong>Seria um alter-ego de manifestação ininterrupta? </strong>Seria o espírito motivacional de seu sonho masturbatório? Ou não seria nada, apenas elevações subcutâneas das figuras coloridas do autor? <strong>Não há resposta; ou todas são cabíveis.</strong> Essa é a função maior da arte, na opinião unânime de todos os seus especialistas: abrir possibilidades, desbravar fronteiras, desvirginar o imaginário que, acostumado, age sob a coerção dos códigos pré-estabelecidos. <strong>A arte possibilita o mergulho na fragilidade dos mais variados discursos, nos tornando náufragos dos nossos freios mais implícitos. </strong>A arte tem como função nos escancarar à vida e O Sonho de Picasso é uma dessas chaves mágicas.
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