Rio das Flores
(Miguel Sousa Tavares)
Quase toda a gente conhece ou ouviu falar do Miguel Sousa Tavares, jornalista e comentador político: acintoso, arrogante, pretensioso, narcisista, e muitos outros adjactivos que se queiram aplicar Curiosamente o Miguel Sousa Tavares escritor parece outra pessoa, quando o ouço mudo de canal, quando o leio espero que o livro nunca acabe, porque é mesmo uma mente brilhante, dentro da literatura portuguesa só o posso comparar a Eça de Queiroz, o único romancista português que eu devorei até à exaustão. Em tudo o que leio, por norma adoro espreitar o fim, este não foi excepção à regra, não percebi nada e ainda bem, porque tal como no Equador o fim é mesmo inesperado. Sosseguem não o vou contar, mas realmente ele consegue prender o leitor mesmo até à ultima linha, à ultima palavra, e quando dei comigo até a bibliografia de consulta do autor estava a ler. Brilhante, volta Miguel, estás perdoado. Rio das Flores é uma narrativa fiel (ou quase) de Portugal, Espanha e Brasil da primeira metade do sec. XX. Eu pensava que era uma pessoa razoavelmente culta, que conhecia a história de Portugal, descobri que afinal não sabia nada, da 1ª Republica nem do Estado Novo, tinha um ligeiríssimo conhecimento que não daria para aguentar uma conversa de 5 minutos. Também é verdade que essa época um pouco obscura da história de Portugal, sempre foi contada de uma forma demasiado tendenciosa, ou dizem horrores, ou dizem maravilhas. Pelo menos fiquei com ideias mais claras. Do Brasil, que até conheço, nem se fala, como podemos ter ideias tão distorcidas da realidade, só se consegue compreender um povo se o virmos à luz da história, eu nem sabia que também tinha havido um estado novo no Brasil. É uma vergonha mas de tudo o que li, sabia mais sobre a guerra civil espanhola, sobre a Alemanha, a França, Inglaterra do que sobre o meu país e o país irmão. E com tanta coisa ainda não consegui escrever uma linha sobre o enredo deste livro, porque até aqui parece que este livro é um ensaio político, que até pode ser, mas é muito, muito mais do que isso. Rio das Flores e um romance sobre uma família de latifundiários alentejanos, de origem pelo lado paterno em Espanha. Como acontece na maior parte das famílias, os irmãos, educados com os mesmos princípios e valores, são na grande maioria das vezes, pessoas diametralmente opostas, é o caso de Pedro e Diogo Ribera Flores. Diogo o mais velho sempre gostou de estudar, tirou agronomia, era completamente fascinado pelas novidades, fez a primeira viagem intercontinental do Zeplling, para o Brasil, assinava todas as revistas inglesas que havia, tinha um anseio quase viciante pela liberdade, amava profundamente e tanto que mesmo contra todos os costumes da época acaba por casar com uma rapariga de origem cigana Amparo, de quem vem a ter dois filhos Manuel e Assunção. Ama profundamente a herdade onde nasceu, a mãe, os filhos a mulher, o irmão, mas desde que esse amor não o condiciona-se, e tudo fez para de uma maneira ou outra se libertar, tanto que acaba por ir de vez para o Brasil e quis o destino que nessa viagem sem volta levasse consigo o seu filho, que acaba por ficar por lá durante cinco anos consecutivos para mais tarde regressar também de vez ao Brasil. Apesar de amar a sua mulher Amparo, volta a apaixonar-se desta vez por uma mulata mãe solteira, Benedita, que conheceu da 1ª vez que esteve no Brasil e que praticamente se prostituía para dar uma vida digna ao filho. Faz dela sua mulher de quem vem a ter mais uma filha, esta ultima Aparecida Já Pedro é um homem de ideais e ideias firmes, nunca gostou, nem quis estudar, a herdade é para ele a sua vida, as podas, as sementeiras, a caça, o trabalho do campo, as touradas, são a sua razão de existir. Exige dos seus empregados trabalho árduo mas nunca nada que ele mesmo não consiga fazer. As mulheres para ele são as prostitutas que procura em Espanhaou em Elvas, a única vez que se apaixonou, foi pela mulher mais diferente dele que poderia encontrar, uma artista plástica que se queria afirmar como pintora e vai que procura o seu lugar no mundo em Paris. Esse amor mal acabado fazem dele um homem ainda mais taciturno do que era, e juntando esse amor perdido aos seus ideais políticos, era um homem da situação (era um Salazarista convicto, ou fascista se preferirem) levam-no a combater na guerra civil espanhola alegando que a avó era espanhola, de onde vem ferido e coxo para o resto da vida mas promovido a capitão, ou seja heroi de uma guerra que não lhe dizia respeito. Mas esse homem taciturno é também um homem carinhoso e dedicado à familia, faz o papel de pai com a sobrinha Assunção e começa a nutrir pela cunhada Amparo um amor platónico que nunca imagina virá a ser correspondido. Felizmente para os dois um dia esse amor acontece. Este é o resumo mais resumido que poderia fazer sobre um livro tão denso, tão descritivo como este, mas adorei, de tal maneira que foi acabar de ler e começar a escrever logo de seguida, com medo que a magia desapareça. Se o Equador me ficou como referência, deste nem sei o que dizer, é fabuloso, amei.
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