Manuscritos econômico-filosóficos
(Karl Marx)
Os Manuscritos econômico-filosóficos
foram publicados muito tempo após a morte do seu autor, por volta dos anos trinta do século XX. Eles contém uma
reflexão sobre conceitos filosóficos profundos, que dizem respeito à
existência concreta do ser humano, suas relações com a natureza e com
os seus semelhantes. Seguem-se algumas anotações sobre idéias que eu
tive enquanto lia esta obra de Marx-A história humana é produto
de dois processos que não apenas são reciprocamente necessários, mas
também são universais de fato, pois acontecem em todos os lugares e
épocas aonde existiu uma sociedade humana. Tais processos são as
relações que os seres humanos estabelecem com a natureza, e as relações
que os seres humanos estabelecem entre si. O processo de apropriação do
mundo natural pelo homem consiste em uma transformação destes elementos
materiais, através do qual são produzidos objetos que satisfazem
determinadas necessidades humanas (biológicas, econômicas e
psicológicas). Esta atividade é o trabalho, cuja força produtiva,
aplicada à matéria natural, humaniza-a, criando não apenas objetos, mas
novas realidades ecológicas (a geografia atual explora ricamente este
tema), e essa transformação é a realização tanto dos objetivos da
sociedade quanto do seu poder sobre a natureza. Transformar a natureza,
porém, é também transformar a si mesmo. A produção dos bens necessários
à vida possui uma ligação necessária com a produção da própria vida do
homem, sociológica e psicologicamente; o trabalho não produz apenas os
objetos, produz também os próprios produtores; a evolução das forças
produtivas liga-se dialeticamente com a evolução das relações de
produção, e ambas, como unidade, possuem uma relação com a formação da
consciência e da cultura. O trabalho é fundamento da existência humana,
ao domínio da natureza corresponde a organização social, e vice-versa.
Processos de socialização, poder, conflito, etc. estão unidos, de modo
recíproco e antagônico, aos processos produtivos.-A alienação
consiste em um processo da evolução social. Significa, de maneira
sintética, a dominação dos seres humanos pelas suas próprias criações,
a redução do homem a um escravo dos objetos que ele próprio produziu, a
submissão da subjetividade a um mundo subjetivo que, no entanto, é
produto da potência criadora daquela subjetividade. O criador é
controlado pelas criações, como na religião, o mito torna-se o tirano
da humanidade, criadora dos mitos. Este aspecto pode ser analisado sob
diversos pontos de vista, como o ascetismo calvinista que, segundo Max
Weber, seria o espírito do capitalismo. Embora a hipótese weberiana
erre ao dizer que o ascetismo intramundano foi a causa eficiente que
criou o capitalismo (sabemos que a gênese do capitalismo se deve ao
comercio colonial, às revoluções burguesas e à destruição da produção
familiar tradicional), a ligação entre a sociedade capitalista e o
ascetismo é mais um aspecto da redução do homem a servo das coisas e a
sua ingênua idolatria por essas coisas, principalmente o dinheiro. O
protestante ascético, diz Weber, é o homem que renuncia ao prazer e à
felicidade, principalmente ao mais sublime deleite espiritual. A sua
abstinência tem como objetivo o enriquecimento, a acumulação do poder
do dinheiro. Seria ingênuo pensar que tal fenômeno seja a força
produtiva que deu origem ao capitalismo, embora a ascensão social
dentro de uma sociedade capitalista já formada possa ser favorecida por
esta paixão mística pelo dinheiro, e o que acontece neste caso é uma
espécie de seleção, por parte da sociedade, dos indivíduos que mais
mergulham na alienação. Por outro lado, indivíduos da burguesia podem
se sentir atraídos pelos ideais ascéticos, pelo fato de que esta
ideologia diviniza a acumulação de capital. Seria, como nos explica a
psicanálise, uma racionalização de um interesse irracional. A
alienação, pela teologia calvinista, se sacraliza, da mesma forma que o
liberalismo a naturaliza. Ambas estas ideologias a sancionam e
legitimam. Legitima não apenas por supor uma origem cheia de nobres
ideais religiosos ao capital, mas também por. O esbanjamento, por outro
lado, o consumo dos ricos. Demanda supérflua, voltada para a
ostentação e ignorando a plenitude de necessidades da vida humana, ou
até mesmo reprimindo estes desejos.-O individualismo moderna,
com a sua promessa não cumprida de liberdade, representa na verdade a
mais completa submissão à coletividade alienada e reificada. A divisão
do trabalho é um fator ao mesmo tempo integrador e fragmentador, mas o
seu resultado, a multiplicação da força produtiva do trabalho, é
acompanhada da perda progressiva da noção do processo produtivo como um
todo, por cada um dos membros que cooperam nesta produção; representa
também um aprofundamento da dependência mútua entre os homens. Essa
totalidade social submete cada uma das suas partes constituintes mais
firmemente na medida em que aumenta a divisão em tarefas, isolando o
indivíduo dos seus semelhantes enquanto o submete à sociedade, que
passa a atuar de maneira independente das decisões individuais. Como
conseqüência, os homens que vivem sob o modo de produção capitalista
vão se tornando cada vez mais impotentes em relação ao funcionamento da
sociedade. Embora façam parte de uma unidade cada vez mais firme, são
isolados uns dos outros, ao mesmo tempo em que uma ordem social cega
domina as suas vidas.
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