TIÃO E AS ABELHAS
(RONALDO MATTOS)
NA NAVE DA IGREJA Tião as voltas com a captura de enxames para formar seu apiário na sua cidade histórica subira sobre a nave de uma igreja tombada pelo patrimônio mundial com obras do famoso aleijadinho, que todos conheciam pela fama de escultor, e poderia pisar sobre os caibros quadriculados separados de 20 em 20cm, mas se pisasse dentro dos mesmos iria quebrar o gesso e estragar uma obra de valor inestimável cultural e financeiramente. Depois de subir uma escada própria de uma altura considerável até atingir a ponta da igreja atravessando bons espaços cuidadosamente carregando uma caixa para acomodar favos e enxames que iria capturar, chegou onde se localizavam. As abelhas estavam em um canto da parede, e impressionantemente eram de uma habilidade incrível. A construção dos favos era feita de forma dimensionalmente estudada fazendo com que a arquitetura da construção da igreja se misturasse a dos favos que mesmo separados em fileira a não ser de praticamente um metro de distancia se podia distinguir claramente a colméia camuflada engenhosamente pelos insetos melíferos. Para quem chegasse de repente e observasse apenas a obra da construção sem saber que havia uma colméia por ali, provavelmente imaginaria que o ninho das abelhas seria mais uma coluna de sustentação da igreja e ao se aproximar perceberiam a falsa coluna se transformar numa grande concentração da apis-melífera. Passava das sete horas da noite e Tião esperava acabar uma reunião dos fieis que duraria até as oito, para começar a trabalhar, em frente da janela do gabinete do prefeito com a prefeitura do outro lado da rua, o qual administrava em 4 anos em uma cidade pequena de 70 mil habitantes, um bilhão de reais. Era muita responsabilidade, e tinha que fazer um serviço muito bem elaborado, sem sobrar abelhas no outro dia que atrapalhasse o movimento do funcionalismo público. Enquanto esperava o final da reunião dos fiéis que duraria mais uma meia hora, tendo adiantado a preparação para não acabar o serviço muito tarde, de captura, retirada do mel e reinstalação das abelhas no seu terreno, começou a pensar: O padre não está aqui. Acho que vou aproveitar para fazer uma brincadeira, me divertir nessa situação inesperada porque não tendo avisado aos reunidos que iria subir até a nave estando, portanto oculto até mesmo para que os mesmos se reunissem despreocupados, e de repente achou que deveria retirar alguns favos, furar a o gesso e espreme-los, fazendo jorrar o mel do alto da nave da igreja enquanto gritaria aos fieis: É um milagre: Os fieis devem jogar todo o dinheiro que tiverem em nome do anjo que se lhes anuncia o seu desejo para que sejam feitas obras de beneficiamento da matriz, e depois que fossem embora apanharia o dinheiro para se safar em seguida. Afinal nos últimos tempos sempre ouvia falar de situações em que uma sagrada santa deixava–se lacrimejar, choro sangue ou mel o que causava polemicas a nível nacional com a discussão sobre a veracidade dos fatos, e invasão de fiéis aos locais dos fenômenos. Pensou em inventar alguma coisa que mexesse com a opinião pública só pra ver o que poderia acontecer. Mas foi só pensar que ao descobrir a arte o padre no mínimo excomungaria da igreja quem ousasse façanha de tamanha insanidade passou a refletir na brincadeira que imaginara de tal idéia maluca. Ficou ali a olhar as estrelas por entre as frestas das telhas na escuridão da noite, até que todos se retiraram e no silencio do céu estrelado, retirou, as abelhas, o mel, e levou-as para longe do perigo em que colocavam transeuntes da área e freqüentadores da igreja, salvando o enxame que polinizava as flores aumentando consideravelmente a produção dos frutos, fortalecendo a natureza, que tanto beneficio propiciava aos moradores da região, enquanto completava seu apiário com uma produção vantajosa, estável e recompensadora.
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