A problemática das Quinas: alguns episódios relevantes
(Sandra Lopes)
Desde tempos remotos que a Humanidade tem sido flagelada pela malária. Apesar disso, só no século XVII, com a descoberta da acção terapêutica da casca da quina, se começou a perspectivar um tratamento mais eficaz para esta doença. Desde há muito que as virtudes febrífugas desta casca eram conhecidas dos naturais da América do Sul, em especial do Peru, de onde a cinchonaé originária. Divulgadas as suas propriedades na Europa, as quinas passaram a encabeçar a lista das espécies que mais interesse despertavam, tanto a nível económico como a nível científico.
No final do século XVIII, a má gestão dos recursos naturais associada a uma ambição desmedida quase colocou as cinchonas em vias de extinção. Cientes da vulnerabilidade criada por esta situação, os portugueses tentaram encontrar nas espécies brasileiras uma alternativa às cascas provenientes do Peru. Do Brasil eram remetidas amostras para o Reino para que fossem avaliadas as suas propriedades terapêuticas, nomeadamente a sua acção antipalúdica. Pretendia-se também encontrar a forma mais eficaz de administrar a casca da quina, bem como identificar e obter o princípio febrífugo da dita casca. Tanto em Lisboa como em Coimbra procedia-se a ensaios clínicos e químicos, muitas vezes nas condições mais adversas. Os investigadores eram confrontados com uma certa escassez de recursos materiais e até de informação científica em virtude da situação política vivida em Portugal. Há registos da época que dão conta da destruição de documentos relativos a estes ensaios, em consequência das invasões francesas no início do século XIX. No entanto, os relatórios que sobreviveram a todas estas vicissitudes mostram o empenho com que os portugueses estudaram as tão preciosas cascas de quina. Foi no decurso destes estudos que o Dr. Bernardino António Gomes isolou o primeiro alcalóide conhecido das quinas: o cinchonino. Esta descoberta foi recebida com algum cepticismo na comunidade científica portuguesa. As teorias em relação ao princípio febrífugo das quinas em geral e ao cinchonino em particular, diferiam de autor para autor. É nos artigos publicados no Jornal de Coimbra e, posteriormente no Investigador Portuguez em Inglaterra que melhor se vivencia essa divergência de opiniões. Curiosamente, esta polémica prolongou-se, praticamente, até à descoberta da quinina por Pelletier e Caventou em 1820. Estes farmacêuticos não só confirmaram a validade do método usado por Gomes para obter a cinchonina, como também reconheceram o valioso contributo do médico português para o advento do chamado alcalóide nobre das quinas; ou seja, a quinina. Só mais tarde, já no século XX, o trabalho de Bernardino Gomes foi devidamente homenageado pelos portugueses.
Reconhecida a acção terapêutica da quinina e, face à dificuldade em obter a tão valiosa matéria-prima, surgiu a ideia de se implementar a cultura das quinas nas possessões europeias. Assim, ainda durante a segunda metade do século XIX, vários países europeus, incluindo Portugal, investiram neste empreendimento. A um período de relativo empenho e entusiasmo na difusão da cultura das quinas em território português seguiu-se uma época de desinteresse, acabando este assunto por cair no esquecimento.
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