As reacções da mãe à gravidez !
(Henrique Martires)
1No preciso momento em que a mãe fica a saber que está grávida, duas reacções podem surgir na sua mente: ou ela grita de satisfação; “que bom! Estou grávida”, exprimindo assim alegria pela vinda do seu bebé e simbolizando que ele é desejado; ou então exclamar com uma certa angústia e desalento: “agora é que estou tramada!”Sem pretender ser determinista, o facto é que, qualquer que seja a reacção da mãe neste momento, o sentimento associado a esta reacção pode ter implicações importantes na aceitação ou rejeição da criança e na futura relação que a mãe irá experimentar com ela.Quando a criança não é desejada!A expressão “agora é que estou tramada”, pode ter várias origens; Por vezes, pais pouco compreensivos e muito preconceituosos, projectam sobre os filhos as suas próprias angústias e inseguranças, e, em tom de acusação e de desprezo acabam por culpabilizar a filha de ter engravidado o que dificulta uma tomada de decisão sensata. Esta falta de empatia e de capacidade de validação pode provocar feridas emocionais graves, marcas profundas e indeléveis que duram, por vezes muitos anos a curar. Esta mãe pode estar a viver um sentimento de raiva que desse modo, pode ser projectada sobre o bebé e contribuir também para a sua rejeição.O facto de não poder ou de não querer assumir a gravidez faz com que na sua mente comecem a surgir pressupostos com vista a encontrar uma solução que seja a mais favorável e a menos culpabilizante.A ambivalência criada nesse momento é o fundamento real do sofrimento produzido. Esta eventualidade é sempre acompanhada de uma grande carga de ansiedade e angústia. Qualquer que seja a decisão tomada, esta será muito difícil de assumir. É um momento de grande hesitação. Na sua mente agita-se um corrupio de panoramas, qual deles o mais aflitivo. Em qualquer dos casos, ela vai ser sempre confrontada com a dolorosa incerteza entre guardar o filho, que ela instintivamente sente desejo de proteger, ou destrui-lo, evitando assim complicações que para ela, nesse momento, são consideradas intransponíveis.Este conflito pode durar algum tempo. Quanto mais tarde a decisão for tomada, maior será o sofrimento. Muita coisa se vai passar na sua mente; lealdade aos princípios e modelos parentais, fidelidade aos seus próprios valores morais ou religiosos, sentimento de culpa pela perda de um ser com o qual já desfruta duma crescente afinidade e dificuldade em se separar, ou simplesmente pelo simples facto de ser mãe.Também pode acontecer que, para abreviar o desconforto do sentimento de culpa que se instala, ela decida tomar uma atitude rápida, quase irreflectida, a maior parte do tempo impulsiva, de procurar alguém que provoque o aborto. Isto tem como função apaziguar o desconforto causado pelo seu inconsciente acusador. "Quanto mais depressa for feito mais depressa me sentirei aliviada desta carga." Em qualquer dos casos, em que o assumir da gravidez não é possível ou muito difícil, na mente da mãe vão surgir mecanismos que tendem a diminuir o sofrimento ligado à decisão que vai ter de tomar. Um dos mecanismos utilizados é a racionalização. O consciente começa a procurar atenuantes que vão diminuir o incómodo da culpa. Uma das desculpas, quase sempre encontrada, é que o embrião ainda não está formado e que se trata simplesmente dum coágulo, e que nesse coágulo, ainda não existe propriamente vida.É demasiado pesada a carga que ela transporta nesse momento. Por um lado, o seu inconsciente enviando impulsos para diminuir ou eliminar o desconforto causado pelo sentimento de culpa, e por outro, a razão que tenta mitigar a ocasião procurando pretextos para escusar o acto. Podemos assim compreender como é doloroso para a mulher este momento decisivo.Se o instinto de protecção materna for mais forte do que a ambivalência e o medo, e decidir salvaguardar a vida da criança, a despeito de tudo, não significa que o sofrimento diminuiu.O facto dessa criança não ser desejada, ou vir a ser um empecilho para a sua vida, pode dificultar a criação dos primeiros vínculos necessários para uma correcta aceitação e adopção do filho depois do nascimento. Um discurso silencioso mas culpabilizante pode consumir essa mãe por dentro e pode pouco a pouco produzir um esmorecimento do amor pelo filho que se traduz mais tarde em atitudes de rejeição que a criança vai muito cedo pressentir e sofrer. A percepção de não amar suficientemente o seu filho, produz um sentimento de culpa que é difícil de suportar e pode transformar a relação entre a mãe e o seu filho em atitudes artificiais e insipidas, desprovidos de amor.Mesmo assim, todas as mães, quando engravidam e quer aceitem ou não a gravidez, quer adoptem ou não o bebé, passam por um momento particular e privilegiado, por uma forte emoção, uma sensação de íntima e profunda ternura, que traduz o despontar duma função para a qual toda mulher foi precocemente preparada e à qual a natureza consagra uma atenção singular – ser mãe. Quando a mulher sabe que um ser se desenvolve dentro dela, que é carne da sua carne o instinto maternal associado é tão forte que ela não consegue evitar que esse momento brote e irrompa no seu ser porque antes de tudo, o ser mulher implica a percepção e o desejo de ser mãe.
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