Porque é perigosa a politização da ciência (em Estado de Pânico)
(Michael Crichton)
Imagine
que surge uma teoria científica que nos avisa de uma crise que está prestes a acontecer,
recebendo o apoio de cientistas, políticos e celebridades do mundo inteiro. As
pesquisas são financiadas por diversas instituições e realizadas nas melhores
universidades. A crise é altamente noticiada e essa teoria passa a ser ensinada
nas salas de aula.
Não
se trata do Aquecimento Global , mas de outra teoria que adquiriu relevância há
um século.
A
pesquisa, a legislação e a moldagem da opinião pública em torno dessa teoria
aconteceram durante quase meio século e aqueles que se opunham foram apelidados
de reacionários ou ignorantes.
Hoje,
sabe-se que essa famosa teoria era pseudociência. A crise que anunciava não
existia e os atos cometidos em nome dela foram imorais e criminosos, causando a
morte de milhões de pessoas.
A
teoria chamava-se eugenia e postulava de uma crise genética que levaria à
deterioração da raça humana. Os melhores seres humanos não estariam se
reproduzindo tão rapidamente como os inferiores – imigrantes, negros, judeus,
“fracos de espírito”.
Aqueles
que estavam preocupados com a crescente imigração se interessaram pela teoria.
Eugenistas e imigracionistas juntaram forças para acabar com a ameaça. O plano
era impedir esses “seres inferiores” de se reproduzir, através do isolamento em
instituições ou esterilização. Havia um racismo declarado nesse movimento, mas
era considerado irrelevante no esforço para obter a melhoria da humanidade.
Quando
os alemães passaram a ser os líderes da eugenia, instalaram casas aparentemente
normais, para onde eram levados os inferiores. Ali, eram entrevistados e
levados para outra sala, gaseados com monóxido de carbono e os corpos
eliminados num crematório dentro da propriedade. Esse programa acabou por se
expandir em uma rede de campos de concentração, assassinando dez milhões de
indesejados.
Depois
da Segunda Guerra Mundial deixou de haver eugenistas e nunca ninguém tinha sido
tal coisa.
Três
pontos podem ser destacados:
Primeiro,
não havia base científica para a eugenia, ninguém sabia sequer o que era um
gene. O movimento prosseguiu por usar termos vagos como “fraqueza de espírito”,
que podia ser qualquer coisa.
Segundo,
o eugenismo era um programa social disfarçado de ciência. Provocava
preocupações sobre a chegada de pessoas indesejadas à vizinhança ou ao país.
Terceiro,
a comunidade científica não protestou. Como tinham o financiamento de suas
pesquisas assegurados, desde que concordassem com o princípio da eugenia, os
cientistas ajustaram os seus interesses à nova política. E os poucos que não se
ajustaram, desapareceram.
Um
segundo exemplo de ciência politizada tem um caráter muito diferente, mas
exemplifica os perigos da ideologia governamental controlar a ciência e a
mídia, promovendo falsos conceitos. Em 1928 Trofim Lysenko anunciou a invenção
do processo de venalização, onde as sementes eram humidificadas e geladas para
aumentar o rendimento das colheitas.
O
método de Lysenko nunca foi testado com rigor, mas ele afirmava que as sementes
transmitiam as características para a geração seguinte, fazendo renascer a
teoria de Lamarck, numa altura em que o mundo adotava as leis genéticas de
Mendel. Stalin foi atraído pela ideia de um futuro livre de restrições
hereditárias; além disso queria melhorar a produção agrícola. Como Lysenko
prometia as duas coisas, foi retratado como génio. Ele usava inquéritos feitos
com lavradores para provar que a vernalização aumentava as colheitas e assim
evitava testes científicos.
Nessa
altura, Lysenko dominava a biologia russa. Como resultado, milhões morreram de
fome e cientistas contestatários foram enviados aos esquadrões de fuzilamento.
A genética foi banida em 1948 e, apesar de nunca ter existido nenhuma base para
as ideias de Lysenko, ele controlou a pesquisa soviética durante 30 anos.
Agora
estamos envolvidos em mais uma teoria que tem o apoio de políticos, cientistas
e celebridades do mundo inteiro. Novamente, é promovida por grandes fundações e
a pesquisa é feita por grandes universidades; são feitas legislações e
programas sociais, sendo os críticos poucos e mal tratados. E, novamente, as
medidas propostas têm poucas bases factuais ou científicas.
O
fato de algumas pessoas se prejudicarem é visto com indiferença, porque dizem
que a causa abstrata é mais importante do que qualquer consequência humana.
Mais uma vez, aparecem termos vagos como sustentabilidade,
que não tem uma definição aceita por todos e é usado a favor da nova crise.
O
Aquecimento Global não é o mesmo que a eugenia, mas as semelhanças existem. A
discussão aberta dos dados está sendo suprimida. Os cientistas que têm dúvidas
se calam para não serem prejudicados. Uma prova disso é que a maioria dos
críticos do aquecimento global são professores reformados. Eles já não andam
atrás de subsídios e já não têm de enfrentar os colegas cujos pedidos de
subsídios podem ser afetados por suas críticas.
Em
ciência, os velhos podem estar enganados. Mas em política os velhos são sábios,
aconselham cuidado e no fim costumam ter razão.
A
história das crenças humanas é uma saga que nos pede para ter cuidado. A única
esperança para a humanidade parece ser a ciência. Mas, como disse Alston Chase,
“quando a pesquisa da vontade se confunde com a advocacia política, a procura
do conhecimento fica reduzida à busca do poder”.
É esse o perigo que agora enfrentamos. E é por isso que misturar ciência
e política é uma má ideia que tem gerado maus resultados. É preciso ter a
certeza de que o conhecimento que é apresentado ao mundo seja desinteressado e
honesto.
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