PRIMEIRAS ESTÓRIAS
(GUIMARÃES ROSA)
PRIMEIRAS ESTÓRIAS João Guimarães Rosa CONTO: UM MOÇO MUITO BRANCO O ALIENÍGENA E A METÁFORA DA FLOR
O conto “Um moço muito branco” inicia-se com o aparecimento do protagonista, emergindo de uma catástrofe que arrasou uma grande extensão de terra do Serro Frio em Minas Gerais. A hecatombe modificou toda a topografia do local. Este acontecimento se presta à estratégia do autor, cujos propósitos são bem definidos: utilizar-se da força destrutiva da natureza como cenário para a estória que se inicia e preparar o leitor para a experiência nunca antes vista e que nunca mais será como antes. Associada aos cataclismos a presença do moço, aquele que “se assemelhava a esses estrangeiros que a gente não depara nem nunca viu, fazia para si uma outra raça”. A sua presença trouxe modificações significativas para a vida das pessoas, mormente para Hilário Cordeiro, seu benfeitor, que passou a gozar de saúde, paz e prosperidade; para Viviana, a bela entristecida, trouxe um estado perene de alegria interior e para Duarte Dias, homem maligno, encrenqueiro e injusto, a capacidade de morrer por amor. Mas o maior ato de compaixão, do moço, foi para com o cego Nicolau: “o moço o vendo, olhou-o sem medida e entregadamente... e foi em direitura a ele, dando-lhe rápida partícula, tirada da algibeira. Ora, estando o cego debaixo do sol, e corrido de suor, a almas cristãs devia causar meditação o contraste de tanto padecer o calor dos astro-rei, aquele que nem as belezas da luz podia gozar”. Era a semente que só seria plantada após o arremate dos fatos narrados: “e deu um azulado pé de flor, da mais rara e inesperada: com entreaspecto de serem várias flores em uma, entremeadas de maneira impossível, num primor confuso, e, as cores, ninguém a respeito delas concordou, por desconhecidas do século; definhada com pouco, e secada, sem produzir outras sementes nem mudas e nem os insetos a sabiam procurar. Eis a metáfora da flor: o moço, ao ofertá-la, deu a si mesmo. Essa flor não se prestava à continuidade da espécie, pois não produziu sementes ou mudas. Outra fora a sua utilidade – a de revelar as outras faces da beleza “várias numa única”. E ninguém pôde concordar sobre as cores por desconhecidas do século – o fato teria ocorrido em 1.872 – quando os fenômenos extra-terrestres não eram cogitados, haja vista que o relato do preto Jose Kakende, sobre a visão do fenômeno, foi considerado fruto de uma idéia perturbada. A população de Serro Frio é comparada aos insetos por apresentar-se condicionada à verdade estabelecida. A dificuldade em aceitar o novo e incorporá-lo impediu que o néctar, dessa flor rara e efêmera, fosse experimentado. Esse condicionamento empanou-lhes a visão, tornando-a restrita. Eis o porquê da compaixão do moço por Nicolau: o cego, que não podia ver por questões somáticas, era forçado a viver entre cegos que viam mas não aceitavam enxergar as belezas que não compreendiam.Mas o moço-flor deixou marcas de sua presença, o seu olhar de “espiador de estrelas” abriu o caminho do céu, a sua bondade marcou para sempre a vida das pessoas que, desde então, “duvidavam dos ares e montes, da solidez da terra”.
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