Análise do Filme Abril Despedaçado
(Dorisvan Lira)
Baseado no livro homônimo do albanês Ismail Kadaré e adaptado para o cinema sob a direção de Walter Salles o filme “Abril Despedaçado” consolida-se como obra obrigatória para aqueles que são admiradores da cultura brasileira, pela riqueza de temas abordados nesta viagem pelo espírito “despedaçado” dos personagens nos instiga a profundas reflexões.
No sertão brasileiro de 1910, marcado, pela miséria, a disputa pela terra e a guerra de famílias (Breves x Ferreira) desenrola-se a historia de dois irmãos: Tonho, um rapaz de 20 anos condenado a dar continuidade a uma antiga rivalidade entre sua família (Breves) e os Ferreira, onde a hora de matar ou morrer e determinada quando a mancha de sangue da camisa do rival morto amarelar, e o seu cumprimento é uma questão de honra e de ética. E Pacu (Minino), o irmão mais novo, uma criança frustrada, seus sonhos e fantasias são constantemente abafados pela dureza da vida e a severidade do pai, reprimindo sua espontaneidade. Eles vivem em uma antiga fazenda de cana-de-açúcar quase falida, tocada pela cada vez menor família Breves, de origem muito humilde não se pode observar qualquer esperança de um modo de vida regido pela relação com a morte.
Suas vidas estão representadas pela metáfora da roda de bois, onde tudo é limitado, os movimentos, as palavras, a visão, homens e bois se equivalem. Mas esta roda começa a mostrar sinais de desgasto, fadigada ao fracasso, é tempo de parar, somente o pai patriarcal, insensível, insiste neste modelo ultrapassado. Não há lugar para o novo. É uma evidente atualização da tragédia grega, quando o destino é, hora traçado pelos membros da família, outrora pelos deuses.
Percebendo que é momento de mudar, o “minino” começa a questionar a lógica da violência “Nessa historia de olho por olho todo mundo ficou cego”, aqueles homens e mulheres não conseguem enxergar a desgraça na qual estão mergulhados, instigando o espectador a manter apurados, a razão e um mínimo de censo critico, para ampliar no espaço simbológico universal suas representações.
O encontro com as viajantes Salustiano e Clara traz leveza aqueles dois jovens. Para Pacu através do livro, o menino começa a sonhar com outros mundos é mais que uma literatura, embora não soubesse ler ele tinha uma leitura das figuras do livro que lhe trazia luz, esperança. Era um lugar de “fulga” onde todos eram felizes. Já para Tonho, que não tinha muito tempo, este encontro é a oportunidade de conhecer o amor através de Clara, que o liberta momentaneamente e ambos integram-se.
O desfecho é triste, a visão míope provoca erros, desconcerta a lógica de um mundo ilógico. O menino troca de lugar com o irmão e é morto, entrega-se logo a uma fatalidade que o esperava. O engano desfaz o ciclo. Tonho libertado pelo irmão, segue ao encontro do sonho.
Como pudemos observar este drama explora temas eternos da humanidade: honra, família, morte, vingança. A partir de seres humanos sob determinada condição social, biológica, mítica, circunstancias que os ameaçam, definem e limitam. Revela ao mesmo tempo a fragilidade das forças estatais de controle e repressão que no mínimo poderiam dar rumos a um senso de justiça que não existia. O ser humano em Abril Despedaçado revela-se desesperado, complexo como ele realmente o é, para encontrar equilíbrio e fugir da “cangaia dos bois” , romper o ciclo.
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