Sobre a Divina Comédia
(Francobrain)
Dante recuperou a concepção geocêntrica do universo, constituída de dez céus concêntricos. Imóvel, o Empíreo (céu externo), rotativos, com movimentos diversos, os outros nove, sede dos planetas (Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter, Saturno) e das estrelas fixas. Nove fileiras de anjos, dispostos hierarquicamente, movem os céus, recebendo impulso de Deus. Sobre a terra, imóvel, chovem do alto influências divinas, enquanto de baixo chegam a influência de Satanás (já Lúcifer). Notável também é o antropocentrismo, em harmonia com a visão da Idade Média: o homem é o centro da criação e da história. Até a história política veio direta de Deus, com os fins da redenção do Homem (ver Monarquia). A viagem dura sete dias: do dia 08 ao dia 15 de abril de 1300, ano no qual foi banido o jubileu e, com isso, um vasto perdão. Perdido em uma floresta, Dante encontra Virgílio, que, mandado por Beatriz, lhe diz que é impossível superar a onça, o leão e a loba que fazem obstáculo à saída e que se deve, portanto, passar pelos três reinos. A obra parece realizar o preceito tipicamente classicista de Orazio da simplex dumtaxat et unum (= simplicidade e unidade). Dante, em Vita nova, já havia unificado os casos da Vida e da morte de Beatriz periodizando-os através do recurso contínuo do número 9 (símbolo da perfeição). Na Divina Commedia, há simbologia numérica mais complexa: 33 cantos por 3; cada um dos três reinos é divisível por 10 (Inferno: 9 círculos mais o vestíbulo; Purgatório: 7 círculos mais a praia, o ante-purgatório e o paraíso terrestre; 9 céus mais o Empíreo o Paraíso). Dante representa o mundo como cosmo, máquina regulada por uma ordem perfeita (sinal da presença de Deus no mundo). A invenção construtiva não é senão um instrumento plástico e dócil, cujo intuito é criar a visão de um cosmo móvel e regulado por Deus.
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