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Sortilégio
(Edson Cruz)

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Assim como em epígrafe, Borges discute filosofias e teologias numa busca pela compreensão de paradoxos e mistérios da linguagem, caminhando pela inscrição constitutiva de sujeito, também Edson passeia em seu místico desejo de fazer de seus poemas, descobertas de passagens outras.
Sortilégio é um tipo de feitiçaria, ao qual se é seduzido por uma leitura entrançada de poesia que se “oriunta” dos esqueletos de uma língua que é a todo tempo explorada de encantamento e com maestria.
Edson conduz o livro de maneira tal que por sobre magia, o leitor depara-se “Só” — o poema inaugural em que se garimpa as escrituras de dentro — no tempo passado, a ser construído até o “Devir”, ainda em elaboração, como em circunscrição poética de altíssima qualidade.
O trajeto é enovelado e sem pontas, como na confecção de “Palimpsesto”: “toda poesia já/ escrita/ não se equipara/ a toda poesia/ inscrita/ a poesia jaz” (p.16).No arcabouço-caldeirão poético, páginas diabólicas em molho quente que se tornam “Feitiço”, poema emblema desse livro encantado:
algo assim tãoinaturalque chega a ser outra natureza
algo sim nãomais fictíciopor demais talcoisa feita
que de tão artifíciovira artevira livrovira ofício (p.22)
A variedade e surpreendente utilização das metáforas e imagens compõem uma obra que passeia com a ironia de “Gonfotérios na Paulista”, a tinturaria de “Nanquim” e o amadurecimento de “Tartaruga de um olho só”.
O depósito da linguagem e seus acúmulos são idéias em retorno por todo Sortilégio , e Edson, com apuro, trabalha como que em alquimia de uma escritura poética ao ouro mais nobre da palavra, em seu trabalho artesanal.
Em “Ouriço” o recorte se dá contra a referencialidade histórica dessa sociedade contemporânea, às voltas com as reconstruções de realidade atual em “chega de aulas de história/ realidade feliz que não chega/ chega.” (p.28). Novamente, em brinde que entorna e torna para dentro da taça que sempre se inaugura, em “Flor-de-lótus” como símbolo místico da vida, o poema se interroga:
Se no hoje contemplamos o ontemo que dizer do amanhã que nos almeja?
se no tanque afogamos a rão que fazer da morte que nos beija?
se no vôo a libélula se espantao que escrever com o sangue que goteja? (p.36).
Último poema de “Sambaquis” é material a ser defumado pela substância da palavra em estado de ebu-lição poética. Aqui, os versos ensaiam um ritual de queima de raízes à nova língua e significado vário.
Sambaqui
em meu samba sarnambicabem todos os restos:é meu recanto de desterraschão de joão-ninguémdepositório de meus erros
todos os ossossem nometodos os nomessem bocatodas as bocasà míngua.
o que fazer entãocom as palavras?depositá-las aquivomitá-lascomo se vomita
uma língua. (p.42).
Na seção “Parabolês”, depois dos resquícios, destroços...reformulações. Configurações alegóricas em curvas abertas, pode-se ler “Cidade imaginária” ou “A vasta nuvem” a fabulação de outra margem.
A maturidade percebida por todo Sortilégio , retifica-se em “Quaternário”, parte em que se registra veementemente a consciência das perdas e o inalcançável, as questões espacio-temporais relativizadas e o “Círculo eterno”.
como fizeram os deusesassim fazemos nós
andando
de caverna em cavernaofuscando-nos com centelhas
almejando
a saída para a entradaad infinitum
retornando (p.66)
Na seção que aparece ao final, “Suíte com graça para voz solo”, o livro absolutamente oferece a leveza da dança poética como que em passos curtos e precisos em combinação com outros (anteriores) de maior duração e não menos elaborados.O trabalho em “Esmero”, “Mi menor” e
Devir
nem branco, nem negronem verde ou amarelomeu ser derradeiroainda está no prelo (p.78)
é admirável, demonstrando uma estréia responsável e muito além de ingênua, ao mesmo tempo em que ao lê-lo, encontra-se em motivação original de franco renascimento. Sem dúvida, fez-se o feitiço, Sortilégio é alquímico e seus versos, valorosos, iluminados pela rica receita de talento e requinte.



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