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Poética na Política
(Glauco Mattoso)

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Glauco Mattoso é pseudônimo do paulistano Pedro José Ferreira da Silva e trata-se de um trocadilho, pois "glaucomatoso" é a denominação do portador de glaucoma (uma doença congênita por meio da qual Glauco teve perda progressiva da visão, ao ponto da cegueira total, em 1995). Além desse trocadilho, a idéia perpassou em adoção das iniciais de Gregório de Matos, por herdar deste a sátira política e a crítica de costumes. O escárnio acompanha-o desde a Poesia Marginal dos anos 70, quando o poeta, ficcionista, ensaísta e articulista em diversas mídias editou o JORNAL DOBRABIL e foi colaborador da imprensa alternativa, escrevendo para tablóides gays e humorísticos. Nas décadas seguintes permaneceu lutando na contracultura através de HQs, música, participação como crítico literário e ensaísta, além de publicação de poesia e prosa. A internet permitiu que Glauco, depois de perder a visão, retornasse à produção da poesia escrita e textos virtuais. O poeta, então, permanece, cada vez mais incisivo a tratar de assuntos polêmicos, transgressivos ou politicamente incorretos, o que lhe conferiu o título de "poeta maldito". Em 99, juntamente com o professor Jorge Schwartz (USP), ganhou o prêmio Jabuti pela tradução da obra inaugural de Jorge Luis Borges. Outros autores latino-americanos como Salvador Novo e Severo Sarduy também têm interessado a GM, o qual vem sendo traduzido na Argentina, México e Chile. Como asseverou Pedro Ulysses Campos, a trajetória de Glauco pode ser decomposta em duas fases. Uma denominada a FASE VISUAL (70-80), na qual se apresenta um experimentalismo paródico, sobretudo através do concretismo com tendências contemporâneas. Seguidamente, a FASE CEGA (a partir de 1999) surge através da composição de sonetos e glosas, de um apurado rigor métrico, além de rimas e ritmo que lhe conferem absoluto respeito, além de qualificarem seu estilo híbrido e inovador. “Poética na Política”, de 2004, é um livro que concentra cem sonetos que criticam mordazmente a política nacional e as instituições democráticas corrompidas do Brasil. Desde a escolha das fontes às palavras poética e política, percebe-se que nos títulos, normalmente formados por apenas um vocábulo, prevalecem formas nominais (substantivos e adjetivos) afixadas a sufixos terminados em “al”, muito utilizados na linguagem poética. Já foram aproveitados largamente por Drummond para expressar ironia e crítica, não por acaso, GM também lança mão desse recurso, um poeta atento aos rumos desastrosos aos quais os governantes têm levado o Brasil. Assim o livro inicia suas satíricas análises com o “Soneto 528 — Eleitoreiro”, em que se deflagra a falta de consciência política dos pretendentes a cargos públicos neste país, apenas preocupados com seus umbigos em manobras publicitárias que brigam pelos mais brilhantes sorrisos. Fulano é candidato e, na pesquisa, Dispara feito um Senna, lá na frente. Sicrano também quer ser presidente, Mas, como é governista, se narcisa. Fulano em bronca nada economiza. Sicrano, o branco, rindo, mostra o dente. Barbudo, diz Fulano que “Ele mente!” Farsante, tem Sicrano a cara lisa. Por fora corre o cínico Beltrano, Gozando, no debate, os dois primeiros: “Aquele dá calote; este dá cano!” Produto, todos três, dos marqueteiros, Não têm ciência ou fé, projeto ou plano: Iguais, de resto, aos outrosbrasileiros. E assim, o trajeto de Glauco Mattoso vem sendo feito em poemas oferecidos para Itamar Franco, Antônio Carlos Magalhães, José Saney, Carlos Chagas, Drauzio Varella, José Dirceu entre outros, com a acidez peculiar de uma poesia que não se conforma. Vejamos “Soneto 582 — Recado”: Prezado Presidente: Quem lhe escreve é cego e literato, caso inverso do povo analfabeto que, disperso, quis vê-lo lá pra já. Mas serei breve. Também me revoltei, quase fiz greve de fome, mas não roubo nem malverso. Enquanto escuto os outros, faço verso e creio que o senhor algo lhes deve. O gringo é quem nos deve! Não lhe pague! Resgate a real dívida, faminta, interna, já que a externa é blefe e blague! Se o banco protestar, deixe que sinta no bolso o que é perder mais um Gulag! Prometa-lhe que um dia paga! Minta! O "Soneto Recado", por solicitação da revista “Imprensa”, em formato de carta, foi enviado para a ocasião da posse de Lula, uma matéria de capa oferecida ao novo presidente da república. Enfim, o livro dos “Cem sonetos planfetários” termina seu protesto com “Soneto 403 — Patrulheiro”, dizendo que Os chefes das três Armas, reunidos, Convêm que o território corre risco. O pau bate no Chico e no Francisco, E a mãe jamais escuta seus gemidos. A imprensa cala. Fecham-se os partidos. Poupanças, terras, bens sofrem confisco. O povo, que era alegre, vira arisco. Banida, a esquerda junta os desunidos. Um dia, a quartelada desmantela De podre, sem apoio das potências. O povo vota, e vê que a vida é bela. Um “novo tempo” acalma as consciências. Ninguém persegue mais a esquerda: é ela Que caça as bruxas, pune as dissidências. Uma pena que Glauco Mattoso também tenha acreditado que a esquerda puniria as tais dissidências. Infelizmente, os nós não se desfazem e todo o engodo permanece. A única salvação nossa é o não-lugar da poesia e GM conserva-se em acrimonioso papel de suscitar repulsa e respeito, indignação e orgulho. MATTOSO, Glauco. Poética na Política: cem sonetos panfletários. São Paulo: Geração Editorial, 2004. Site: http://glaucomattoso.sites.uol.com.br/quem.htm



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