Ensaio sobre a cegueira
(José Saramago)
Nada de novo no horizonte literário, o qual, desta vez, foi apanhado por uma imensa cegueira. O nevoeiro da produtividade, parece ter ofuscado a luz da criatividade e o brilho da originalidade. Trata-se de mais um romance de carácter apócaliptico, daqueles que em género e número, os idos anos setenta e princípios de oitenta, pariram às dezenas, em cada editora que existia no mundo.
Um enredo já muito batido, que nos interroga sobre o que aconteceria à civilização ocidental se alguns dos seus pilares fundamentais ruísse.
O fio condutor é simplista, ou seja, consiste na análise critica da nossa participação social numa civilização tecnológicamente evoluída, a mais evoluída do mundo nesse aspecto.
Assim, estando, no entanto, essa civilização, quanto aos fundamentos morais, religiosos e humanistas, apoiada em bases débeis, que papel teria o Homem na nova ordem ou desordem, que surgiria com o desmorenar de uma só dessas bases e a consequente regressão ao primitivismo?
Definitivamente um romance fora de moda, não é que a moda tenha de ser forçosamente boa, mas ela explora tudo até à exaustão e por isso mesmo este romance sofre e vive essencialmente de um eterno retorno do tema, próprio para revivalistas ou pessoas de memória curta.
Dou como exemplos de obras do género que fizeram escola, todas aquelas que por meio da ficção cientifica, relatam essa mesma temática com a aparição inesperada de seres extraterrestes: "A guerra dos mundos" de H.G.Wells, o conto "A praga escarlate" de Jack London e "Contacto" de Carl Sagan. No que diz respeito às ameaças internas a essa ordem civilizacional, temos todos os livros que escreveram, e não foram poucos, sobre os cenários pós-apocalipticos de um confronto nuclear ou então devido a uma catástrofe natural como na obra "A útima fome" de John Christopher ou " O ano do cometa" do mesmo autor e ainda "A peste" de Albert Camus, tal como muitos outros que têm a ver com alterações geológicas e metereológicas na face da Terra. Os exemplos descritos são escassos comparados com toda a bibliografia escrita neste género.
Desta vez, mais uma, a causa da regressão da civilização e da perda do paradigma organizacional e social reinante, que fazia funcionar a sociedade, foi, nada mais , nada menos, que uma cegueira colectiva e inesperada, vinda não se sabe de onde. A esse contexto, o da origem da cegueira, nem os promenores cientificos que outras obras se esfalfam para que sejam credíveis, esta obra se deu ao trabalho de esclarecer. Ignorância, propósito ou lei do menor esforço? Talvez a verdadeira face de um mito ou a sua queda, quando, paradoxalmente, nos é vendida a sua ascenção.
Sendo um livro de baixa intelectualidade e pouco promenorizado tecnicamente, o autor pensou que se poderia escrever sobre a decadência de uma civilização, abordando somente o colapso das relações humanas. Tendo como motivo, talvez, o desencanto de nunca ter visto imposto, a nível mundial o regime socialista de princípios comunistas, auto-denominado marxista-leninista, que esse sim, ao contrário do capitalista, consumidor selvagem de bens, incluíndo livros, seria, na opinião do autor, gerador da ordem perfeita para uma sociedade e uma civilização com fortes bases para aguentar todos os embates sociológicos, resolveu ignorar a memória viva de uma realidade que mostra exactamente o contrário, como no caso das sociedades do antigo Bloco Soviético e actualmente o caso de Cuba.
A contestação da cegueira reinante no mundo capitalista, em oposição ao mundo iluminado do comunismo, enfim uma parábola falhada, uma vez que esse pressuposto paraíso já mostrou a sua falência, neste mesmo tipo de cegueira e crueldade cega.
Se bem que, como já se disse, o tema esteja à muito esgotado na literatura, ele no entanto reina neste momento na 7.ª arte ou cinema. Daí que talvez se possa considerar este livro um mediano argumento para um filme, mediano porque inacabado e cheio de vazios, que seria necessário serem preenchidos pelo suposto realizador. Papel semelhante ao que os leitores fazem quando lêm a obra, de revisores de texto.
BIBLIOGRAFIA: José Saramago; Ensaio sobre a cegueira; Editorial Caminho; Lisboa; 1995
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