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Construindo pontes entre a ciência e a religião
(Ted Peters e Gaymon Bennet)

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A partir do século XIX cristalizou-se uma imagem de que a relação entre religião e ciência é sempre uma relação de conflito, de que essas duas formas de entender a realidade não são conciliáveis ou não se comunicam. O livro Construindo pontes entre a ciência e a religião tenta mostrar que esse é um diálogo possível, que pode inclusive ampliar o conhecimento do mundo seja de cientistas, seja dos intelectuais da tradição religiosa. São treze artigos divididos em três partes: Metodologia, Campo Científico e Campo Religioso. Organizado pelos teólogos Ted Peters e Gaymon Bennet do Center for Theology and Natural Sciences, em Berkeley na Califórnia, Estados Unidos, com a maioria dos articulistas ligada a este Centro, a principal contribuição da obra é ressaltar a importância de se construir pontes entre ciência e religião num mundo global influenciado ao mesmo tempo por esses dois campos.
Os autores dos capítulos são físicos, filósofos, teólogos, especialistas em ética, biólogos, que escrevem para seus pares estimulando o diálogo e buscando pontos de contacto entre religião (termo que, no livro, se refere à teologia ou reflexão intelectual sobre a religião) e as ciências naturais (física, biologia, química, neurociências, cosmologia). É importante dizer que um deles é o brasileiro Eduardo Cruz, professor de ciências da religião na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, também responsável pela supervisão científica da tradução brasileira.
A primeira parte do livro é uma preparação metodológica ao que vem a seguir e auxilia o leitor a se situar na discussão sobre a relação entre os campos científico e religioso. Os autores Robert John Russel, também responsável pelo prefácio e Kirk Wegter-McNelly descrevem os quatro tipos de relação entre ciência e religião: conflito, independência, diálogo e integração, identificados pelo físico Ian Barbour. Informam ainda que o realismo crítico é predominante entre os estudiosos de teologia e ciência. Ao invés de ver a ciência como uma representação fotográfica do mundo ou como um retrato mental da realidade, segundo essa metodologia as teorias da ciência fornecem um conhecimento do mundo parcial, passível de revisão e abstracto. Se para os dois teólogos essa visão permitiu o diálogo real entre teologia e ciência, a filósofa Nancey Murphy, no artigo seguinte, levanta a necessidade de se rever o realismo científico à luz das mudanças conceituais impostas pelo pensamento pós-moderno.
Na construção do campo científico, segunda parte da obra, iniciam-se efectivamente as primeiras tentativas de diálogo entre temas caros à ciência moderna, como tempo, evolucionismo, genética e neurociências, e a visão religiosa. A teoria da relatividade de Einstein desafia directamente a noção de tempo em fluxo, comum para a maioria dos teólogos, ao eliminar dois pressupostos: de que o tempo presente e de que o ritmo em que o tempo flúi do futuro para o passado são compartilhados por todos os observadores. Em contrapartida, a relação entre a causalidade divina e a natural destaca o desafio para a ciência do século XXI. Aqui a teologia trabalha num esforço de aproximação ou adequação entre a acção divina e as leis naturais deterministas. O teólogo John Polkinghorne, citado no livro, interpreta a teoria do Caos com ênfase na sua imprevisibilidade. A partir daí ele sugere que a natureza é causalmente aberta e, portanto, aberta à possibilidade de que Deus actue sobre ela sem suspender, nem violar a Lei Natural. Ainda no campo da cosmologia, muitos estudiosos das religiões acreditam que a afirmação científica de que o universo teve um início absoluto, expresso na teoria do Big Bang, é uma confirmação da doutrina judaico-cristã da criação a partir do nada.
Finalmente, na terceira parte do livro temos a percepção religiosa e suas relações históricas e actuais com a ciência. Cristianismo, islamismo tradicional, budismo, hinduísmo e judaísmo são as religiões analisadas nos capítulos finais da obra. As discussões em torno do islamismo e do budismo ainda estão se iniciando já que boa parte dos textos produzidos sobre ciência e religião diz respeito ao cristianismo. Muzaffar Iqbal, presidente do Centro para o Islão e a Ciência, no Paquistão, acredita que os avanços nessa análise dependem de uma recuperação histórica da ciência islâmica, importante do século IX ao XII, e da reavaliação da sua influência no pensamento europeu. A tradição budista, entretanto, cujos interesses fundamentais diferem substancialmente de outras tradições teístas, exigiria novos modelos de abordagem para criar um diálogo construtivo com a ciência.

A ideia de que ciência e religião estão inevitavelmente em estado de guerra é questionada também no artigo sobre cristianismo e natureza humana, reforçando a viabilidade da ponte proposta como objectivo principal deste livro.


Ciência e religião não são campos irreconciliáveis. O exemplo do físico hindu Varadaraja V. Raman no artigo sobre hinduísmo é quase um testemunho da riqueza que essa convivência pode propiciar. "Encontro-me vivendo em dois mundos. Meus horizontes intelectuais foram consideravelmente expandidos por meu estudo científico. A dimensão espiritual da minha existência, minha postura diante da vida, meu respeito pelas tradições e minha reverência pelas criaturas foram aguçados por minha formação religiosa".As religiões terão sempre a função de nos guiar no mundo, devendo nos ajudar na construção de um comportamento ético para a ciência moderna, ou seja, na construção de uma ponte urgente entre ciência e a religião.



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