O SER QUE PROBLEMATIZA O MEIO AMBIENTE
(CAIO; STYV)
Antes de qualquer coisa, esse tema é um chamado à conversão da consciência, à conversão ao discernimento dos conteúdos da vida, do significado da nossa própria existência, não só a imediata, mas do nosso legado; é uma questão profunda sobre os meus confortos, os meus desejos, os meus status, as minhas alegadas questões de sobrevivência e que nada tem a ver com a vida em si; ao contrário, fazem acumulação incomparável de todas as coisas que significam a própria deterioração do ambiente em que vivemos. Quero dizer que ninguém pode pensar sem ser a partir de uma pressuposição. Sem alguém sentar aqui para discutir esta questão, seja qual for e quem for a pessoa, terá de erigir o seu pensamento a partir de uma pressuposição, ainda que a pressuposição seja a pressuposição de que não há pressuposição, mas é uma pressuposição da não-existência de uma pressuposição. O que nem por causa disso deixa de estabelecer uma pressuposição sobre a qual se vai erigir um argumento. Eu tenho a minha, simples e confessada. Para mim, esse universo é sagrado. Eu poderia simplesmente dizer que ele é dês-criado, que ele existe por si só, que ele é o que é, que a única coisa que existe é ele, que ele é Deus por existir em si mesmo, por ser a causa de si próprio. É um Deus inconsciente de si mesmo, mas poderia ser. No meu caso não. A minha pressuposição é outra. E até para fazer ciência eu faria a partir de uma pressuposição. Ninguém foge da pressuposição. Nós somos pressuposição. A minha é simples: esse universo é sagrado. Antes de ser criado, ele foi objeto da sua própria redenção. O Cordeiro de Deus foi imolado antes da fundação do mundo. E, a meu ver, uma das razões pelas quais a teologia cristã não conseguiu produzir uma idéia que fosse generosa para com a criação é justamente por causa dessa idéia de onde começa a redenção. Para a teologia cristã a redenção é uma tentativa de Deus remediar algum tipo de equívoco cometido por Ele mesmo. É Deus tentando dar jeito num equívoco; é a redenção. No entanto, não se percebe que a manifestação histórica da redenção em Cristo é a concreção de algo que preexistia à própria Criação. O Novo Testamento é claro quando afirma, por 3 vezes, que o Cordeiro de Deus foi imolado antes da formação do átomo, do mundo, de qualquer existência. Antes de haver luz, houve cruz; antes de haver criação, houve um Deus assumindo responsabilidade redentora pela criação que criaria. E se de um lado está na metafísica da Criação que o que a habita é a própria redenção, de outro, na meta-história das nossas existências, é a mesma coisa que está presente. Se o Novo Testamento diz que antes de haver cosmos houve redenção, a criação inteira é, portanto, precedida por um gesto redentor de Deus, e de amor. Porém, quando Jesus ressuscita, fica estabelecido que homens e tilápias têm o mesmo destino eterno. Se Ele ressuscitou no corpo, foi também nesse corpo ressuscitado que ele comeu e bebeu com seus discípulos depois da ressurreição; foi também nesse corpo que ele mesmo preparou peixe frito para os discípulos que tentavam pescar uma noite inteira no mar de Tiberíades, de modo malsucedido; foi também nesse corpo ressuscitado que durante 40 dias Ele fez ingestão de alimentos, com seus discípulos, e a maioria deles estava comendo tilápia do mar da Galiléia, abundante até hoje lá. Jesus as come e atravessa paredes, o que significa dizer: se a esperança cristã da ressurreição do corpo e da glorificação da complexidade humana em Cristo vale para nós, vale para tilápias, vale para quem fez parte do processo de absorção, para quem foi absorvido.O sagrado habita o mundo inteiro. Isso acontece como desígnio. Dito isso, quero dizer que a razão mais efetiva para nos relacionarmos com a vida é a partir da sacralidade da vida. Se a existência não está carregada e imantada com sacralidade, não tenho razões éticas para me relacionar com a existência. Posso, no máximo, ter razões pertinentes à minha esperteza, à minha malandragem, ao meu egoísmo auto-preservado. Ou seja, se não tenho uma visão que sacraliza o cosmos e toda a criação, eu preciso no mínimo fazer uma segunda reflexão. Que reflexão é essa? Não creio na causalidade de nenhuma dessas coisas, todavia, não posso negar que existo neste planeta e neste cosmos para o qual eu não encontramos nenhuma causalidade. Mas já que eu não consigo identificar uma causalidade que empreste significado à vida, não posso negar a própria vida porque estou vivo e consciente de mim mesmo. E, se estou vivo e consciente de mim mesmo, não me importando com quem seja o Criador, se Ele existe ou não, tenho um problema concreto: eu e meus semelhantes, habitando o mesmo tempo e o mesmo espaço, produzimos uma geração que criou artefatos tecnológicos e um monte de outros progressos resultantes da nossa capacidade de raciocínio que acabaram se transformando no nosso próprio auto-encurralamento.
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