A casa dos Mortos
(Tom Farias)
A casa dos mortos
Salpicamos os nossos
corpos com o pecado, e beijamos a lavoura fina da terra, e junto com a colheita
lavramos os nossos destinos. A velhice é amarga quando ninamos os gozos da
vida, vida que nos criou que nos fez homem, de fibra, e imortal. A peneira da
vida nos peneirou, deixando apenas os sonhos frustrados que nos fazem correr
para a loucura, e caminharmos pouco para o louvor. Os poucos estão loucos por não
conhecerem a verdade do mundo. A remoção menosprezada da minha nobreza eu vejo,
e no regulamentar da sensatez humana ouvia-se o interesse do mal. Desconfiado,
fui visitar o bem. Nele vir delicadeza, uma força anciã. Regressei que havia eu
de fazer? Ali, na leitura indecifrável, que já havia eu porções de vezes
memorizadas e mesmo assim, reli uma porção de vezes, diante do bem. Vi Deus,
vir até a minha cegueira. O bem passa despercebido denunciando o mal. No fundo são
duas alas, aqui na terra. Anos e anos cada transferência da vida para a morte,
deixa alterações no espírito. Passa o tempo e pensadores se perdem em
pesadelos. É triste deixar o corpo agir, pois o sangue não corre mais nas
veias, e o quarto só cheira velhice fazendo mal a quem o cheira. O frio
cortante do medo penetra os cômodos da casa, ela fala. Tantas histórias para
contar têm esta casa. Lembro-me do primeiro do que morreu nesta casa por ciúmes.
Coitado morreu debaixo do teto desta casa tão sozinha. Morreu pelo amor de um
corpo, que esquentava outro corpo que não era o seu. Ainda ouço o galopar do
cavalo que vinha ofegante, e ao chegar a casa encontrou o corpo de sua amada no
colo de um ser qualquer que só brincava de prazer. Os dois corpos animados nos lençóis
da cama foram abatidos por outro corpo violentamente, deixando a casa dos
mortos com as portas abertas depois da morte voluntaria da mão ciumenta.
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