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O Discurso da Morte de Deus na Crise da Modernidade
(Ridalvo Alves)

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É partir do avanço da modernidade vivenciada por Nietzsche que vivemos atualmente a crise da identidade política e cultural no ocidente. A escrita da história é baseada fundamentalmente no paradigma desse positivismo onde o seu significado se estabelece a partir da visão construída aos moldes do pensamento grego ocidental. Mesmo com os conflitos existentes em relação ao pensamento da metafísica grega, prevalece ainda a dicotomia estabelecida entre fé e razão, onde é favorecida a cultura da alma para as recompensas escatológicas através das relações temporais, negociadas a partir do Estado que se institucionaliza na religião e na política. A religião, enquanto instituição, se preocupa com as condições ontológicas e o Estado se oportuniza da alma abstracional, a fim de alavancar o progresso inserido nos valores da razão humana e materializado nas relações de trabalho. Nietzsche tem a compreensão de que nesta fase o dogmatismo da Igreja cristã influenciou de certa forma o ocidente e que o projeto iluminista descentralizou de forma definitiva a idéia de providencia divina. No projeto da modernidade, vemos pela primeira vez a descoberta e a afirmação excessiva da autonomia da razão frente às diversas esferas do saber e da cultura em geral. A razão humana deveria descobrir as “leis naturais” que regem as sociedades para lhes obedecer buscando impô-las a todos os domínios e categorias do universo. Com esse pensamento positivista, vemos estabelecido o projeto iluminista no ocidente a partir do século XVIII.
No foco da crise da modernidade entra a concepção do pensamento kantiano onde ele afirma que a razão prática pressupõe uma crença em Deus, no âmbito da liberdade e da moralidade, que funcionam como ideais ou princípios regulativos. Segundo ele a crença em Deus é o que possibilita o supremo bem, recompensar a virtude com a felicidade. Nietzsche é um forte crítico dentro dessa linha de perspectiva histórica e afirma que a pretensão do positivismo através do tribunal da razão separa definitivamente a providência divina. O curso da história decorre a partir das relações entre sujeito e objeto fundamentados no alicerce do tribunal da razão. No entanto, Nietzsche mesmo sendo um crítico da dogmática cristã vai além do pensamento de Kant e Hegel onde acredita que a história a partir da modernidade sofrerá profundas implicações políticas e sociais relacionadas à identidade do sujeito. A sua grande expressão que gerou diversas polêmicas no ocidente é sua declaração da “morte de Deus” quando foi edificado o pretensioso projeto da modernidade. Neste ponto se cria um grande abismo entre verdade e história, e as polêmicas discussões levantadas, pois Nietzsche acreditava que a história estava alicerçada em falácias que foram construídas a partir da verdade absoluta da razão.
Sendo assim, o século XIX é cenário de muitos acontecimentos históricos que dizem respeito às descobertas científicas. É também o século de profundas crises e profundas mudanças na história. A dimensão dessa crise influenciou o estudioso Charles Darwin, contemporâneo de Nietzsche para refletir sobre o destino de suas pesquisas científicas. Depois de abandonar sua consciência religiosa na teologia que estava completamente distante da ciência, Darwin mergulha em suas pesquisas a fim de alcançar respostas para aquilo que almejava e que a teologia estava distante. Vemos esse despertar a partir de sua obra “A Origem das Espécies” lançada em 1859 e que balançou as estruturas dos dogmas da religião cristã ocidental.
Um grande expoente da teologia na crise da modernidade é a figura do alemão Friedrich Schleiermacher que inspirado pelo filósofo Kant é considerado universalmente como o pai do protestantismo liberal. A crise teológica está praticamente dentro do mesmo ambiente histórico do século XIX. O protestantismo liberal, isto é, a teologia protestante do século XIX, inspira-se em doisprincípios aparentemente contraditórios de Kant: 1. a remoção da religião à esfera especulativa; 2. a redução do Cristianismo aos limites da razão. Acredito que a partir daí toda a questão que se referia à escrita da história foi para o tribunal da razão e passou pelo crivo da crítica textual. Entendo que ocorreu neste momento uma revolução no campo literário, pois até então nada era questionado.
Entretanto, a primeira reação eficaz contra o liberalismo teológico foi promovida por Karl Barth. O movimento teológico iniciado por Barth foi chamado de “Neo-ortodoxia”, ou então, “Teologia da crise”, ou ainda “Teologia dialética”. Dizia Karl Barth: não se pode eliminar a influencia da filosofia na teologia; esta, de resto, seria uma pretensão absurda, porque todos nós usamos “alguma espécie de óculos”, caso contrário não se poderia enxergar. Os escolásticos usavam os óculos da filosofia aristotélica, os reformadores os óculos da filosofia platônica e os protestantes liberais os óculos da filosofia Kantiana. De “fato, a teologia cristã sempre foi expressa em categorias filosóficas desde o início”. O discurso da “morte de Deus” entendida por Nietzsche a partir do projeto iluminista cria assim um vazio existencial dentro das relações do sujeito podendo levar muitos ao sentimento ceticista, pessimista e niilista. A crise da modernidade, interpretada por Nietzsche como simples ilusão do pensamento convencional, serviu de ponte à análise do pensamento pós-estruturalista e desconstrucionista de Foucault e Derrida respectivamente. Segundo Nietzsche o espectro iluminista foi na realidade apenas história convencional, ilusão referencial, e não há nada de verdade absoluta neste paradigma. Ele vê a sua época como o encerramento de um ciclo: “todos os fins foram destruídos”. A morte de Deus é acontecimento paradigmático que indica o encerramento de um período histórico que marcou com ferro a cultura ocidental.



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