Cecíclio Elias Neto - Um "baita" piracicabano PARTE 1
(Samira Spolidório)
Data: novembro/2005Nascido em 24 de junho de 1940, o jornalista e escritor Cecílio Elias Netto é mesmo um "baita" piracicabano. Vindo de família sírio-libanesa pobre, Cecílio diz ter sido uma criança feliz, ao relembrar as tardes em que ia nadar no Rio Piracicaba com o pai e as traquinagens de menino "artero", mas que nunca deixou de comprar livros e gibis para ler e estudar.
Casado atualmente com Beatriz Elias, tem cinco filhos biológicos do primeiro casamento e dois adotivos e também considera como sendo seu, o filho da esposa, seu enteado Igor. Tem sete netos, três deles estão nos Estados Unidos, dois moram em Itú e dois em Marília.
Prestes a completar 50 anos de jornalismo, em 2006, Cecílio diz que sua escolha não foi o jornalismo, “a minha escolha de vida foi escrever, foi uma coisa que nasceu comigo”. Tendo sido alfabetizado antes mesmo de entrar na escola, tinha verdadeira loucura por escrever. “Era uma coisa que estava em mim, não saia de mim”.
Nessa paixão por escrever, o menino Cecílio chegava a levar um caderninho todas as vezes que ia ao cinema para poder anotar rimas do tipo “coração e paixão” e “vida e querida”. “Minha verdadeira paixão era ser escritor, eu queria ser escritor, nem sabia o que era, mas queria ser escritor”.
Naquela época eram poucas as opções e, embora a família insistisse para que ele fizesse medicina, Cecílio prestou vestibular para direito, na intenção de partir para a diplomacia e então poder virar escritor. Com dezoito anos já estudava alemão, francês, inglês, espanhol e italiano, sempre visando a diplomacia que exigia um grande domínio de línguas estrangeiras.
Mesmo estudando para direito, o trabalho como jornalista começou cedo, aos dezesseis anos, como auxiliar de revisor no “Jornal de Piracicaba”. Depois de ganhar o 3º lugar num concurso literário onde grandes escritores da cidade também concorreram, Cecílio foi chamado para trabalhar no “Diário de Piracicaba” e quando a família de sua noiva na época abriu o jornal “Folha de Piracicaba”, Cecílio foi trabalhar lá.. Aos vinte e um anos já era o diretor, logo em seguida se tornando o dono do “Folha”.
“Jornal naquela época era a escola literária, era o jornal que te dava cancha, que dava treinamento, eu entrei no jornal não para ser jornalista eu queria aprender, melhorar o estilo, treinar”. O que era para ser treino e aperfeiçoamento acabou virando profissão. Cecílio trabalhou em muitos outros jornais sendo diretor e editor em vários e foi num jornal que ele deu início ao projeto que marcaria sua carreira.
Em 1986, quando trabalhava no jornal “A Província”, Cecílio se deu conta de um triste fato. Algo de muito importante estava se perdendo, algo que encantava Cecílio profundamente: a cultura piracicabana.
Decidido a não deixar que isso acontecesse, Cecílio resolveu fazer uma recuperação da história de Piracicaba. “Eu percebi que as coisas estavam se esgarçando, e esse sotaque piracicabano sempre me apaixonou”, e foi na recuperação desse “sotaque” que Cecílio se empenhou.
No jornal “A Província”, Cecílio criou uma “simples coluninha” chamada “Arco, Tarco, Verva”, onde ele publicava os dados lingüísticos que estava recuperando. “Eu comecei a lançar aquilo e o povo começou a se manifestar, ‘tem aquela palavra’, ‘tem isso’, ‘tem aquilo’, e assim foi indo”.
Diante da inesperada e ótima repercussão, os leitores começaram a pedir um livro que reunisse as colunas publicadas no jornal, e foi assim que surgiu o livro Arco, Tarco, Verva, que se esgotou logo na primeira semana. “Eu tive que correr fazer outra edição”.
Depois de algumas reimpressões do volume 1, em 1990 Cecílio lançou o Volume 2 de Arco, Tarco, Verva com o mesmo sucesso. “Eu comecei a ficar mais atento, ia muito a Rua do Porto, Santana, Santa Olímpia, e o que se percebe é que Piracicaba ainda tem alguns nichos que são quase que dialetos mesmo”.
Em 1994, com a enorme popularidade dos dois volumes, a importância desses registros feitos por Cecílio, foi percebida pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) que proporcionou a ele uma bolsa de pesquisa dentro do “Programa do Artista Residente” para que Cecílio pudesse se dedicar ainda mais na busca e registro das expressões. Em 1996, a Academia Piracicaba de Letras publicou o resultado dessa pesquisa: o Dicionário do Dialeto Caipiracicabano, que é a união dos dois volumes anteriores acrescidos de outros registros de palavras e expressões. Em 2001 uma nova edição revista e ampliada foi lançada, com igual sucesso alcançando a marca de mais de 40 mil livros vendidos.
Pode-se ver paixão nos olhos de Cecílio quando ele fala sobre Piracicaba e principalmente quando fala sobre a cultura piracicabana. Conhecedor de outros países e grande estudioso de outras culturas, nada parece dissuadi-lo de que Piracicaba é o melhor lugar do mundo. “Piracicaba é uma marca, é uma grife e o nosso sotaque é nossa identidade”.
Resumos Relacionados
- Conheça Luís Fernando Veríssimo
- Luis Fernando Veríssimo
- Escritor Espanhol Francisco Umbral Morre Aos 72 Anos; Um Dos Maiores Escritores Contemporâneos
- A Vida De Marcela
- Mapas Dessa Paixão
|
|