a pequena londres
(Gabriel Troilo)
Do primeiro, que, em tempo pouco remoto, tocou os pés neste pedaço de chão, e nele depositou a próspera semente. Ao ulterior, que, inflamado de ambição, plantou casas, esticou ruas e contra o céu fez florescer o cenário ordenado de tijolos e argamassa. Todo e qualquer que neste solo colocou a planta dos pés, viu estes avermelharem-se, e sentiu a força desta terra. Força tamanha que levantou a caótica babilônia para sustento dar à industriosa cultura, que do grão da terra teve boa providência.Terra que é recanto de nuvens, estas teimosas massas dágua que insistem em parar por aqui. Nuvens que estagnam e pairam sobre a cidade, descem ao chão e dão tom alaranjado ao céu noturno, deixando as ruas com um ar esbranquiçado de charmosa bruma. Tal qual o charme da capital inglesa, que acabou por inspirar os pés vermelhos a chamarem sua terra por Londrina. A pequena Londres.Londrina, o solo rico recortado por inúmeros vales, de rios que outrora a alimentaram, mas que agonizam sufocados pelo avançar humano. O homem que avançou mais do que podia a terra sustentar, e hoje o pouco verde que resta derrama lágrimas em meio á infinita e monótona paisagem agrícola. E desta tão rica fartura que se abasta a terra não sobra o grão nem mesmo para alimentar seus filhos, pois o que dela é produzido se vê sumir-se no horizonte em navios com destino longínquo.Esta cidade, que se fez crescer a metros calculados, cada palmo cuidadosamente planejado, para que alcançasse a formosura que habitava o espírito de seus idealizadores. E estes não deixaram de lado o que mais dá vida à morada dos homens, não se esqueceram de deixar um tanto, mesmo que ínfimo, daquilo que enche de cores os olhos da comunidade, a natureza. Não tanto somente pelas árvores e pedaços de mato permeando os vales, tanto pelos corpos dágua, que, mesmo mal planejados, ainda sim denotam um tanto de tranqüilidade. Há de se lembrar também deste céu. Este céu que possui um não sei quê, diferente do céu de outros lugares, que quando se vê livre das nuvens compõe cenários capazes de encher os olhos e o espírito. Se pinta de tons avermelhados todas as tardes, como uma tela da mais bela obra artística impressionando quem o depara. Encantado ficou, todo estrangeiro que aqui chegou em busca de formação, fixando morada e trazendo consigo a diversidade. Diversidade de cabeças, de costumes, de pessoas, vindos das regiões mais distantes, somando-se à força dos nativos. Acabou por engrandecer a cultura e fazer desta morada de tantos a morada também do saber, da arte e de tanto que se tem como conseqüência disto. E rica se tornou a cidade dos pés vermelhos, rica não de matéria, enriqueceu-se de espíritos fortes, que com perseverança lutam para fazer dela não só uma morada tranqüila, mas sim uma morada justa e digna. Não só para com seus habitantes, mas também com toda forma de vida, e o ambiente ao seu derredor. A riqueza que se expressa nos olhos de qualquer um que por aqui se achegue, mesmo que de passagem, e encontre todo encanto desta pequena - grande cidade. A pequena Londres.
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