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Gramsci e a Hegemonia
(Rosana Muniz de Medeiroa)

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O conceito de hegemonia representa um dos pontos centrais no pensamento gramsciano.
Gramsci analisa nos processos histórico-sociais, a formação e a importância dos intelectuais, desenvolvendo estudos sobre o Estado, aborda questões ligadas à literatura e à cultura em geral ou propõe estratégias de transição para o socialismo, para Gramsci a importância deste conceito é relevante à compreensão de seu pensamento.
Tentando compreender, de forma mais ampla o princípio gramsciano de hegemonia, é necessário nos determos primeiramente, na análise da relação existente entre as concepções de hegemonia em Lênin e em Gramsci, já que é a Lênin que Gramsci atribui a formulação do princípio teórico-prático da hegemonia.
O princípio da hegemonia encontrados nos escritos de Lênin, embora não os utilizando explicitamente, refere-se, basicamente, à ditadura do proletariado e fundamenta-se na especificidade da história russa e definição das tarefas políticas do proletariado. Esse princípio, embora construído em situação histórica distinta daquela vivida por Gramsci, forneceu-lhe os elementos básicos que lhe permitiram construir o próprio conceito, ampliando e enriquecendo a concepção leninista.
O que permite a Lênin e a Gramsci elaborarem, em situações históricas distintas, o conceito de hegemonia é a compreensão que ambos têm de que a sociedade é um todo orgânico e unitário, que se explica a partir da base econômica, mas que não pode ser reduzida inteiramente a ela, pois tal redução implicaria a negação da ação política e da própria hegemonia.
Com essa questão, Gramsci afirma a necessidade de combater o economicismo na teoria e na prática política em uma luta que venha possibilitar o desenvolvimento do conceito de hegemonia.
Podemos observar entre Gramsci e Lênin alguns pontos de ligação, e assim, destacarmos à importância dada às alianças de classes, que permitiu a mobilização da maior parte possível da população trabalhadora, oferecendo uma base sólida ao Estado proletário. Onde a classe que orienta o novo processo hegemônico necessita apoiar-se em grupos aliados para sustentar a conquista e a efetivação da hegemonia.
Um outro ponto comum à ressaltar em ambos, reside na organização intelectual da hegemonia através do partido, representando o verdadeiro sujeito revolucionário. Para Lênin, ao partido cabe intervir em todos os momentos da vida social e política e movimentar-se em todas as camadas da população, oportunizando aos operários, o conhecimento político necessário à luta pela conquista da nova hegemonia. Gramsci retoma essas concepções leninistas do partido, dando maior ênfase à sua função educativa.
O conceito gramsciano de hegemonia está em alguns de seus fundamentos, bastante próximo da concepção leninista. Porém, a Gramsci, caberá aprofundá-lo e ampliá-lo, ligando-o não apenas ao nível da sociedade política como foi feito por Lênin, mas à primazia da sociedade civil, enriquecendo-o com o conceito de aparelho de hegemonia.
A diferença essencial entre Gramsci e Lênin com relação ao conceito de hegemonia é que Gramsci abarca em suas entidades, não apenas o partido, mas toas às instituições da sociedade civil que apresente um nexo qualquer na elaboração e difusão da cultura.
Gramsci elabora teoricamente as bases de seu princípio de hegemonia referindo-se à concepção leninista e apresentando a hegemonia como direção da classe operária, constituíndo de forma autônoma e independente o exercício num contexto de política de alianças.
Em Cadernos do Cárcere, Gramsci enfocará, as práticas de construção e manutenção da hegemonia das classes dominantes, a importância das questões ligadas à direção cultural e moral que essas classes imprimem ao todo social. Esse estudo engloba, progressivamente, as estruturas do Estado, enriquecendo-se com um novo conceito: o de aparelhos de hegemonia.
As análises sobre a hegemonia referem-se tanto à hegemonia burguesa quanto à das classes subalternizadas. Seu objetivo é o de aprofundar a análise do Estado moderno, fundamentado no modo de produção capitalista. Referindo-se à hegemonia das classes subalternizadas, Gramsci propõe estratégias que podem guiá-las num processo de transformação revolucionária, a partir da criação de um novo bloco cultural, fruto de uma concepção de mundo coerente e utilitária.
Para Gramsci, a hegemonia de uma classe significa sua capacidade de subordinar intelectualmente as demais classes, através da persuasão e da educação, sendo esta entendida em seu sentido amplo.
Para conquistar a hegemonia é necessário que a classe fundamental se apresente às demais como aquela que representa e atende aos interesses e valores de toda sociedade, obtendo o consentimento voluntário e a anuência espontânea garantindo, assim, a unidade do bloco social que, embora não seja homogêneo, se mantém, predominantemente, articulado e coeso. Significando que a classe hegemônica deve ser capaz de converter-se em classe nacional, capaz de envolver toda a sociedade em um mesmo projeto histórico e capaz de assumir, como suas, as reivindicações das classes aliadas, devendo ficar bem claro, a incompatibilidade existente entre hegemonia e corporativismo, como o próprio Gramsci nos mostra ao referir-se à hegemonia do proletariado, salientando que o proletariado pode desenvolver função de dirigente se possuir espírito de sacrifício e se for capaz de libertar-se completamente do resíduo de corporativismo reformista ou sindicalista
Ao afirmar que a classe hegemônica deve assumir, como suas, as reivindicações das demais classes, Gramsci aponta para a estreita relação entre hegemonia e economia. Na medida em que as expressões da vontade, interesses e necessidades das classes aliadas são, na verdade, manifestações concretas das necessidades econômicas, geradas por determinado modo de produção, é preciso que a classe hegemônica, ao formular seu projeto econômico, considere estas necessidades, sem, entretanto, descaracterizar seu projeto fundamental de classe.






GRAMSCI, Antonio. Concepção dialética da história. 2ª ed. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1978a.



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